Análise da vida do ser humano explorado pelo trabalho atual na visão de Sennet
Por: ASUELS • 8/10/2015 • Ensaio • 1.103 Palavras (5 Páginas) • 483 Visualizações
A análise sobre o que Sennet diz remete a situação de transformação que o capitalismo sofreu durante a grande virada do modelo organizacional burocrático para o influenciado pela tecnologia da informação . Os capitalistas entendendo que o capitalismo estava se transformando muito rápido, resolveram atacar tais métodos burocráticos de forma direta, causando certa flexibilidade e descentralização (o que futuramente dará origem a organização global). O grande problema acaba surgindo nesse instante, tal flexibilidade acaba tornando as coisas dinâmicas de mais, fazendo com que as pessoas não se sintam estáveis onde estão, estabelecendo assim uma espécie de indecisão sobre o dia de amanhã. Tal indecisão acaba provocando certo colapso do caráter humano, visto que o mesmo nem tempo tem para pensar no que fazer. Em a Corrosão do Caráter, de Sennet, ele exemplifica isso com o de seu antigo amigo Enrico, um trabalhador que vive nos moldes burocráticos da rotina, mas que planeja um futuro para seu filho (perceba o pensamento no longo prazo) utilizando o controle do tempo ao seu favor. Já Rico, o filho de Enrico vive na era da transformação capitalista, o mesmo vive reclamando da vida e de seus medos, o mesmo não consegue ficar em um só emprego (há todo momento ele é transferido) e não consegue estabelecer relações com outras pessoas de forma plena devido às moradias temporárias (dinâmico e estabelecido no curto prazo). Daí surge uma das características de tais modificações, elas ao invés de melhorar, acabaram por prejudicar ainda mais os moldes trabalhistas. As pessoas tentam estabelecer outras formas de controle e pensamento para tentarem conseguir levar adiante. Os capitalistas fazem algo parecido, mas de forma mais intensa, a reinvenção e constante mudança do modelo organizacional vigente, buscando uma maior flexibilidade e menor descentralização (característica forte do modelo burocrático tradicional). Tais medidas dão a sensação de maior liberdade na tomada de decisões e cumprimento do trabalho, certo? Errado. Tal ‘’descentralização’’ apenas disfarça as modificações feitas, por mais que haja tais medidas, a hierarquia estará lá, resumindo, o capitalista manda, o trabalhador obedece. Ocorre apenas uma modificação do sistema de controle e obediência, que já existia no modelo tradicional burocrático. Isso foi o que Sennet tentou dizer com o comentário da questão deste trabalho, mas acaba por aqui? Não. É preciso exemplificar como isso ocorre e como tais fatos refletem na vida do ser humano e as pessoas que se relacionam com o mesmo.
Castells dizia que devido ao modelo tradicional ser muito burocratizado, a evolução do mesmo deixava muitos resquícios, tais que dificultavam mudanças. Com a chegada da flexibilidade, flexível não só seria a empresa, mas também as pessoas, tanto fisicamente quanto mentalmente. O trabalho com o tempo acabou perdendo parte de sua identidade, já que as novas tecnologias o facilitavam de mais, com isso o trabalhador também parte do seu caráter, o que o construía. Agora vem um das partes mais intrigantes, com as relações de curto prazo, o trabalhador precisa ser multidimensional, não se importa com quem o mesmo seja o trabalho precisa ser feito de forma imediata, correndo um alto grau de risco, o que corrompe a mente dos seres humanos, tornando as relações pessoais difíceis (um bom exemplo no livro remete à tecnologia que permite a comunicação à distância das pessoas, o que reduz as relações pessoais). As relações humanas no trabalho se tornam frágeis, frutos mero teatro visível no rosto das pessoas. Bom exemplo de tais características são apresentadas em 3 filmes: O corte, O Capital (ambos de Costas Gravas) e A Vida Secreta de Walter Mitty de Ben Stiller. No primeiro, o personagem Bruno, trabalhou durante 15 anos em uma empresa de papel, mas foi demitido devido o corte para reestruturação das organizações. No início o personagem não se intimida, porém com o tempo ele sofre com o desemprego e acaba achando a solução em eliminar seus principais concorrentes para conseguir o emprego tão esperado. É nítido e visível o caráter corrompido do personagem, o mesmo não se dá bem mais com a mulher e falta educação aos filhos, vítima da alta exploração mental da flexibilidade, Bruno já não consegue ter discernimento de ética e moral (ele é extremamente ansioso), e ‘’apela’’ para métodos brutais. No segundo filme, retrata exatamente a parte de cima (os capitalistas), que não veem problema algum em realizar um enorme corte de funcionários no banco Phoenix, presidiado temporariamente por Marc, o qual quer permanecer ali por muito tempo. O jogo de interesses é enorme, onde o dinheiro é jogado de mão em mão em alta velocidade, e cada um quer sair com sua parte, sem se importar com os que estão em volta. Marc viaja constantemente, visto que vive em um mundo capitalista de curto prazo, onde o tempo parece ser mais curto do que parece. Já no terceiro filme, Mitty é como Bruno (apenas na situação de demissão), após longos anos presencia a grande temeridade de seus companheiros de trabalho em serem demitidos da revista onde trabalham. O mesmo Walter logo é demitido, mas exatamente é aí que entra a grande reviravolta no filme. Mitty aproveita esse tempo para ir atrás de seu amigo fotografo Sean, e durante a aventura Walter parece se divertir, vivendo a vida a qual o mesmo era tão explorado, encontrando motivação em si próprio para isso, contrariando o fracasso, fenômeno que atinge milhões de pessoas no mundo e que não possui uma solução precisa. Sennet comenta que as pessoas precisam viver mais, o trabalho não pode sugar a vida do ser humano, tudo deve ser posto de forma organizada, para tarefas e deveres estarem de um lado, e viver do outros, mas ambos em harmonia. Se o capitalismo continuará mudando, essa é uma pergunta sem resposta, pois o mundo anda acelerado de mais para se pensar, porém é preciso ver que apenas o olhar critico não irá resolver tais problemas, e sim uma verdadeira análise da situação por parte de todos os envolvidos nessa era rápida, dos quais sempre existirão perdedores, e vencedores. Mas será que as pessoas irão ter ‘’caráter suficiente’’ para chegar até lá? Ou sofrerão com a corrosão do caráter, antes de entender o que está acontecendo? Só o tempo irá dizer.
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