Artigos sobre a ditadura milita
Por: hypnotic_ripple • 22/9/2015 • Resenha • 2.689 Palavras (11 Páginas) • 278 Visualizações
SOUZA, Ney - Entre a contestação e a conivência. Censura ao jornal O SÃO PAULO durante o regime militar (1964 – 1985)
Introdução:
O artigo resulta de uma pesquisa sobre o catolicismo e a censura imposta ao jornal O São Paulo, órgão informativo da igreja católica, fundado por D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta no ano de 1956. Durante o regime militar, 89 artigos e partes de artigos foram censurados, alguns artigos tratavam da tortura, causas operárias dentre outros temas. O local onde os artigos seriam publicados ficavam em branco, percebendo que isso poderia gerar algum tipo de reflexão crítica, os militares decidiram que no lugar deveriam ser publicados anúncios, salmos e receitas de bolo.
1 – O tecido colorido das contradições
O sistema político brasileiro entrou em crise após o golpe militar de 1964. O regime agia de forma totalitária com a intenção de controlar os grupos sociais durante as duas décadas em que esteve em vigor.
Em relação à instituição católica, esse controle foi responsável pela divisão interna dos bispos brasileiros, evidenciando contradições na cúpula da igreja. Alguns bispos apoiavam as lutas por mudanças sociais, porém, boa parte da hierarquia ficou do lado dos militares. No âmbito social essas discussões resultaram em um ativismo eclesiástico através de pastorais coordenados pelo catolicismo. Após o golpe, dentre os bispos que assumiram uma postura crítica e combativa encontra-se D. Jorge Marcos de Oliveira, bispo da Diocese de Santo André – SP (1954 – 1975), que nos primeiros momentos do regime, declarava seus discursos de repúdio à prática dos militares.
Uma parcela da Igreja Católica no Brasil lutou contra o regime militar, e introduziu o conceito de Igreja como uma “unidade da diversidade”. Apenas uma minoria dos eclesiásticos se uniu para defender os direitos do povo.
A partir do AI5 a igreja católica se afasta das autoridades políticas. Houve uma evolução em suas preocupações sociais, e a igreja se posiciona de forma crítica através de bispos e outras autoridades religiosas frente ao governo. A postura dos membros do catolicismo brasileiro, durante a época do militarismo não foi uniforme. O combate adotado pela igreja católica ocorreu no momento em que se verificou o enrijecimento do regime, contrastando com o comportamento de alguns eclesiásticos nos primeiros anos após o golpe.
Resistência e engajamento
O discurso do presidente Costa e Silva, insinuava que a doutrina social da “revolução” coincidia com a doutrina da igreja.
“Recebemos com grande entusiasmo o apelo de Sua Santidade em favor do desenvolvimento integral do homem e do desenvolvimento solidário da humanidade; estes também são os nossos objetivos, convictos que estamos de que o desenvolvimento é o novo nome da paz” (CPV, vol. 2, 19)
Na prática isso não se verificou, visto que o seu governo e os posteriores não eliminaram a pobreza e a miséria, nem promoveram o desenvolvimento do homem. Na verdade, o que se observou foi a marginalização de operários e de pobres, e a deterioração da qualidade de vida de boa parte da população. A igreja se volta contra as práticas arbitrárias da ditadura, ciente dos abusos por parte dos militares, que se opunham aos princípios da Doutrina Social da Igreja Católica.
Denúncia da violação dos direitos.
A retomada da luta pela democracia teve seu ponto de partida a partir de publicações de documentos como Comunicação Pastoral ao Povo de Deus (1976) e Exigências Cristãs de uma ordem Política (1977). Nesses documentos, a cúpula da igreja faz críticas ao modelo político instituído pelos militares, passando a refletir sobre uma concepção de Estado que se coloca em serviço da sociedade e do povo. Nesse contexto, o Estado acusa a igreja de ser “comunista”. Para os militares, a igreja estava tramando uma subversão da tradicional ordem Cristã, e representava um risco à segurança nacional. O discurso de D. Helder Câmara, feito em Paris evidência a oposição às autoridades militares e seus meios coercitivos de governo:
“A tortura é um crime que deve ser abolido. Os culpados de traição ao povo brasileiro não são os que falam, mas sim os que persistem no emprego da tortura. Quero pedir-lhes que digam ao mundo todo que no Brasil se tortura. Peço-lhes porque amo profundamente a minha pátria e a tortura a desonra. ” (GASPARI, 2007, 292)
Dom Helder Câmara era lembrado pelos militares: “Helder Câmara, que, há muitos anos abandonou os afazeres pelo turismo na Europa, a pretexto de conferências para falar mal do Brasil. ” (AESP. DEOPS)
Apoio aos operários
A igreja também atuava por meio da Juventude Operária Católica (JOC). Comprometida com questões sociais, a JOC sofreu forte repressão e teve um enfraquecimento durante o período militar. Contudo a perseguição não obteve êxito em conter totalmente o movimento operário. Após as greves de 1968 em Contagem, Belo Horizonte, e em Osasco, onde padres ligados à JOC foram presos e torturados a causa operária voltou a repercutir no cenário nacional. No ano de 1978 em São Bernardo do Campo, Santo André e Diadema, operários reivindicam melhores salários promovendo greves periódicas. A Diocese de Santo André apoiou as paralisações, revelando um compromisso com as questões sociais.
O apoio de Dom Paulo Evaristo Arns às greves de 1979 também foi significativa.
Ações em favor da justiça e da paz
Convencida da incompatibilidade entre o regime e o evangelho, a cúpula da igreja decide transformar a realidade sociopolítica vigente. Uma das preocupações dos membros da igreja eram os direitos humanos, constantemente violados. Em defesa desses direitos, a CNBB aprova em 1973, um projeto de abrangência internacional, para manter contato com igrejas e instituições de diferentes países para discutir o tema. Sob a coordenação de D. Cândido Padim, no Brasil, e de Francisco Whitaker, em Paris, o projeto se realizou com o Encontro Internacional, em João Pessoa (PB), em julho de 1979.
A partir de 1975 foram implantadas as Comissões de Justiça e Paz. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi criada em razão da crise agrária durante o regime. Em 1972 foi criado o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) promovendo apoio as populações indígenas, vítimas também do modelo econômico implantado pelos militares.
A perseguição à Igreja Católica: jornal O SÃO PAULO
A imprensa católica
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