As Escolas antropológicas
Por: Rosa Guilengue • 29/10/2017 • Abstract • 1.832 Palavras (8 Páginas) • 274 Visualizações
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o Século XIX, criou-se um ambiente em que a própria Antropologia iria ser desenvolvida. Podemos identificar como pressupostos para o desenvolvimento desta nova disciplina, primeiro, o facto de, no momento ter triunfado uma teoria de progresso, bem como do transformismo precedente de Lamarck e, segundo, toda a ruptura de interpretação do conhecimento que foi operada no século XIX, caracterizada pelo triunfo das ideias de Modernidade, esta definida para situar a nova realidade socio-cultural e tecnológica da Europa em relação aos outros mundos conhecidos na época. Se olhamos para a disciplinarização social apontada por Serra, caracterizada pela oposição binária entre certas categorias existenciais, (lei/caos, objectivo/subjectivo, espírito/matéria, corpo/alma, bem e mal, racional/irracional, são/doente, interior/exterior, história/sem história, civilizado/atrasado), veremos esta tendência de demarcação da Europa em relação aos outros grupos sociais.
É fácil notar que essa procura de rotulagem diferenciada dessas categorias sociais visava situar o momento que estava sendo vivido pelos Europeus, como peculiar, característico e exclusivo.
Encontramos um momento em que a Europa procurava, de certa maneira, uma afirmação em territórios anteriormente e recentemente conhecidos. Para ocupar o território e os respectivos povos: era necessário uma categorização dos padrões sociais. Com este paradigma, os sistemas coloniais procuraram subalternizar tudo o que estivesse ligado ao continente africano. Aliás, ao termo de tempos modernos que se forjou no século XVIII e se sistematizou no XIX, que tinha o sentido de revolução, progresso, emancipação, evolução, entre outras significações, categorias que por sinal tinham como carácter comum o movimento, (Habermas: 1988:8), à estilo do movimento conceptual herdado no Iluminismo, seria contraposto ao termo de “tradicional” que era concebido como um estádio parado no tempo, isto é, ahistórico, ligado à sociedades que não tinham uma contribuição para a humanidade em virtude do seu estado latente. O culminar de todo o cenário que, de certa maneira, viria se constituir como o fundamento da matriz interpretativa do momento, senão da filosofia ou do paradigma dominante, seria definido pela maior expressão da Teoria Evolucionista de Charles Darwin. Certamente, a transposição do paradigma dominente desta teoria para o lado cultural, por Edward Tylor, veio marcar o fundamento para a emergência da Primeira Escola Antropológica – o Evolucionismo Cultural.
Fundamento da escola evolucionista
A análise do ser humano como qualquer outro ser vivo, com a capacidade adaptativa e que, ao longo desse processo, mostra momentos de evolução, desde as fases mais elementares às fases mais complexas. Vemos, paralelamente, a sistematização taxonómica dos seres vivos que, segundo Bernardi, “(...) estimulara o controlo das afinidades e das ligações existentes entre os seres” (p. 26). Contudo, dado que a Europa já tinha atingido, segundo os seus representantes, um estágio bem elevado, essa evolução só podia ser vista entanto que fundamento de compreensão dos estágios experimentados anteriormente pelo continente. Aqui encontramos o olhar do passado como fundamento para a compreensão do presente cultural, presente na teoria evolucionista mas que, logicamente, só podia ser examinado a partir de outros povos que estavam a experimentar essas realidades. Aqui emerge a necessidade de aplicar esta nova disciplina à outros povos, que estavam a experimentar supostas fases anteriormente ultrapassadas pela Europa, capazes de terem exemplos vivos e documentáveis. Em contrapartida, as realidades mais recentes eram passíveis de serem estudadas pelo lado sociológico. Aqui encontramos a definição do outro que, pelo seu suposto carácter atrasado, praticamente deve se constituir como elemento de estudo.
Dado que o momento em que triunfa o evolucionismo predominvam ideias-chave, como a unidade da vida no cosmos, a evolução e o progresso e, com este paradigma procura-se sustentar a ideia de evolução unitária (Bernardi, p. 25), encontramos a definição de uma das características desta escola – o de considerar o desenvolvimento, ou evolução como unilinear, que devia ser experimentado por todas as sociedades. Este carácter unilinear é expresso pelos diferentes expoentes desta teoria, cujas origens situam-se, quer na religião, quer no parentesco ou ainda na tecnologia, a saber:
Edward Tylor – situando a origem na religião, defende que é pelo animismo que tudo começou, que seria seguido pelo feiticismo, pela idolatria, pelo politeísmo e, certamente, que o culminar de tudo isso, seria a presença de uma religião mais elaborada, o monoteísmo, representado pelo ocidente cristão e por alguns povos mais próximos à estes.
James Frazer – este tendo como base a religião, estabelece três estádios fundamentais, nomeadamente a magia, a religião e a ciência.
Karl Marx, apesar de não ter sido antropólogo, desenha uma evolução em função dos Modos de Produção, desde a Comunidade Primtiva, passando pelos diferentes modos fundados na classe, (Clássica) e depois a Servil e Proletária, que depois desaguaria no Comunismo Científico, preparado, claramente, pelo socialismo.
Lewis Morgan, centrando a sua teoria evolucionista no parentesco, aponta o matriarcado como a primeira forma da sua constituição, mas que, apesar de apresentar diferentes fases, cada sociedade passava por três fases fundamentais: a selvagem, a barbárie e a civilização.
Bachoffen, que centra a evolução na própria família, onde aponta que a sociedade terá sido definida pela promiscuidade sexual, entre mãe e filho, seguida pelo controlo do filho e da terra pela mãe, dando origem ao matriarcado e que terminaria com a transição para o patriarcado em algumas sociedades.
Se porventura todos deviam experimentar essa evolução de carácter unilinear e se era necessário situar o diapasão entre os estágios anteriores, primitivos e os recentes, ou evoluídos, certamente que emergiam condições para o estabelecimento da comparação, ou o método comparativo, um outro elemento característico desta Escola.
Temas privilegiados
A mitologia, o parentesco; organização social; costumes primitivos; a religião, temas jurídicos, entre outros. Entretanto, esta escola debatia-se com o facto de usar fontes sem uma grande crítica, geralmente em bruto. Assumindo o carácter assimilacionista e justificando-se ou refugiando-se em ideias filantrópicas, o Evolucionismo seria aplicado nas relações entre sociedades dominantes e dominadas em contextos coloniais, revelando a aplicabilidade desta corrente para a sistematização dos sistemas coloniais que eram implantados em África. É só se recordarem das contraposições estabelecidas, em que ao ultramarino lhe eram conotados adjectivos negativos e, como tal, a serem ultrapassados pela acção civilizadora dos Europeus.
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