CORPO E ANTROPOLOGIA PERSPECTIVAS CLÁSSICAS E CONTEMPORÂNEAS
Por: nmielle • 1/9/2016 • Trabalho acadêmico • 1.784 Palavras (8 Páginas) • 392 Visualizações
CORPO E ANTROPOLOGIA
PERSPECTIVAS CLÁSSICAS E CONTEMPORÂNEAS
O tema corpo é especialmente favorável de ser estudado pela antropologia por pertencer á uma raiz de identificação do homem, só se percebe a cultura de um povo porque está enraizada e impregnada no corpo dos indivíduos. O corpo é um ator que se manifesta no cenário da vida social-cultural exercendo produção de significados. Portanto ele está acima do que é natural sempre gerando símbolos e sentido sobre tudo aquilo que ele absorve. E por ser uma forma vivida na cultura o corpo sofre influências dessas experiências, mostrando que a identidade do individuo é construída e definida a partir de seus costumes, e de como este age e expressa símbolos através do próprio corpo.
Abrindo espaço para uma reflexão antropológica e sociológica, Marcel Mauss aponta as dimensão e a construção social e sua construção a partir do corpo, em sua obra “As técnicas do corpo” O autor mostra diversas manifestações corporais que ocorrem em culturas diversas, e que estas se diferem de sociedade para sociedade através do uso e ações especificas do corpo. Então cada cultura é dotada de seus próprios valores e costumes, que por sua vez estão ligados a educação e ao momento histórico. As técnicas corporais são as divisões de atos tradicionais do homem impostas, apreendidas, praticadas, que com o decorrer do tempo são modificadas, já que aquilo que foi ensinado anteriormente passa-se a ser aprendidas de outras formas. Sendo assim podemos concluir que o corpo é um aprendiz de cada sociedade especifica.
O ritual é algo que exemplifica do que Mauss mostra, pois este é uma forma afirmativa de reprodução da conduta social que executa técnicas corporais, tornando reconhecíveis e naturais tais maneiras de tratar o corpo, ou seja, o corpo passa a se acostumar e a se familiarizar com as técnicas impostas.
Podemos também relacionar o aprendizado do corpo, com o aparato investigativo de Margaret Mead, em “Sexo e Temperamento”, onde os comportamentos de um homem e de uma mulher são resultados da cultura em que estão inseridos, e que na maioria das vezes esses comportamentos estão atrelados a dualidades antagônicas e complementares. Tal comportamento é construído e passado de pais para filhos, fazendo com que as personalidades criem um padrão, suprimindo manifestações individuais com certo tipo “adestramento” sobre seus corpos e de suas predisposições.
Nas palavras de Mary Douglas :
“O corpo social limita as formas de percepção do corpo físico. A experiência física do corpo, sempre é sempre modificada pelas categorias sociais através de uma visão especifica da sociedade. Há uma troca de significados constante entre os dois tipos de experiência corporal, cada uma reforçando as categorias da outra. Resulta desta interação que o corpo é em si mesmo um meio de expressão extremamente restringido “ (Douglas,1973 : 93 )
Com esse contexto é possível concluir, que não existe uma "maneira natural" do individuo agir, mas sim um conjunto de atos adquiridos ao longo da sua vida que se transforma em algo automático, como se estivesse incorporado e naturalizado como um “ato tradicional”. Temos um conjunto de atitudes permitidas ou não, naturais ou não. Assim, atribuiremos valores diferentes aos fatos, e todas nossas diferenças não são apenas fisiológicas, mas também psicológicas e sociais.
O corpo também pode-se mostrar como uma pequena amostra de poderes e perigos atribuídos a estrutura social. O controle do mesmo, além de adestrar o ser humano, ele serve para impor uma ordem social, colocar cada coisa em seu lugar. O homem incita a ordem, onde a desordem, de acordo com Mary Douglas em “Pureza e Perigo”, é um símbolo de perigo, que serve de fronteiras dentro das estruturas sociais. A pureza e perigo são postas como uma analogia que expressa uma visão geral da ordem social. A “poluição” confundi ou contradiz nossas classificações, agindo como um atributo para influenciar nossas expressões. As sociedades estabelecem fronteiras entre masculino e feminino, por exemplo, e a despersonalização destes gêneros para fora de uma expectativa social, é colocada como periculosidade ás estruturas simbólicas já formadas e tidas como verdadeiras e naturais. A partir disso, podemos perceber o corpo como um modelo por excelência de todo o sistema social, e que o tipo de classificação dado a ele é usado também para legitimar hierarquias, diferenças e exclusões.
Criticando a forma com que a antropologia estava reduzindo o corpo historicamente como um objeto de estudo e de visão antropológica, influenciado por Pierre Bourdieu e Merleau Ponty, Thomas Csordas propõe o conceito de embodiment como um novo modelo nos estudo da cultura, onde o corpo não deveria ser tratado como um mero objeto para ser estudado em relação a cultura, mas deveria ser considerado como um sujeito ativo da cultura, em outras palavras Csordas não se reduz a discutir novas formas de abordar o corpo como objeto da antropologia. Seu projeto é o de constituir um estudo focado na ideia da experiência cultural como corporificada. “O nosso corpo é nosso modo de ser e estar no mundo, o corpo é o terreno da experiência e não objeto.” (Merleau Ponty).
Em nossas sociedades contemporâneas o corpo não é mais a formação de uma identidade intocável. O corpo estabelece agora o que Le Breton chama de alter ego, um outro si disposto a mudanças, e exposto a uma identidade escolhida que pode ser provisória ou não. Se o homem não consegue mudar suas condições de existência, ele muda o seu corpo de várias maneiras. “O corpo tornou-se a prótese de um eu eternamente em busca de uma encarnação provisória para garantir um vestígio significativo de si”. ( BRETON, David Le, Adeus ao corpo,1997.p.29). O corpo agora é um símbolo do self , e por dentro do individuo há uma constante luta para se exteriorizar. O homem contemporâneo constrói seu corpo como realidade de si, afinal é por ele que ele vai “ser julgado”.
Mirian Goldenberg explica :
“Se durante séculos, enormes esforços foram feitos para convencer as pessoas que não tinham corpo, teima-se hoje, sistematicamente – após um longo período de puritanismo -, em convencê-las de que o próprio corpo é central em suas existências.” (GOLDENBERG, Mirian. Nu e Vestido, 2002. p.33).
As técnicas da vida cotidiana contemporânea convergem para o uso do si, transformando o intimo de cada pessoa para melhor poder sobre o mundo, aguça suas capacidades de percepção sensorial etc.
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