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Perspectiva histórica da etnografia em antropologia

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Por:   •  9/11/2014  •  Trabalho acadêmico  •  4.469 Palavras (18 Páginas)  •  858 Visualizações

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa qualitativa surgiu da necessidade que as ciências sociais tiveram ao formular pesquisas em que o objeto de estudo não poderia ser totalmente quantificado e manipulado. Sob esta perspectiva, as ciências sociais, dentre elas a Psicologia, incorporou a etnografia que teve sua origem na Antropologia Cultural, como método de pesquisas que possuem abordagem qualitativa e considera que é necessária uma compreensão dos significados locais para descrever o comportamento humano. Mais especificamente na Psicologia, os objetos de estudos geralmente são os fenômenos psíquicos, que envolvem aspectos emocionais, cognitivos e de personalidade, entre outros. Sendo assim é necessária uma análise qualitativa para que possam ser levadas em conta as subjetividades.

O trabalho do etnógrafo possui caráter extensivo e não intensivo, pois os acontecimentos e os significados surgirão com o decorrer do tempo em que ele estiver em contato com o objeto de estudo e se caracteriza por estudar as interações sociais, suas práticas e representações. É possível acessar a complexidade e a singularidade das atividades diárias das pessoas, porém, a subjetividade não se restringe ao que as pessoas pensam ou conhecem, mas ao que produz significados para elas representados por hábitos, costumes e comportamentos induzidos.

Neste trabalho abordaremos de forma mais aprofundada o contexto histórico da prática etnográfica, suas definições, características e aplicações.

2 ETNOGRAFIA

2.1 Perspectiva histórica da etnografia na antropologia

O método etnográfico nasce em meio às demandas da investigação antropológica. Nesta seção, objetiva-se esboçar um breve histórico da etnografia enquanto método de pesquisa próprio da Antropologia, focando, sobretudo em um texto fundamental de Bronislaw Malinowski. Para tanto, parte-se do objeto motivador do estudo etnológico: a cultura. Foi Franz Boas o primeiro antropólogo a fazer pesquisas in situ para observação das culturas. Indo a campo ele procurou estudar “as culturas” particulares e diferentes, ao invés “da Cultura” única e evolutiva de outros etnólogos.

De acordo com Cuche, (1999, p. 39)

Preocupando-se com o rigor científico, ele recusava qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada empiricamente. [...] Pelo contrário, ele ficará na história da antropologia como fundador do método indutivo e intensivo de campo. Boas concebia a etnologia como uma ciência de observação direta: segundo ele, no estudo de uma cultura particular, tudo deve ser anotado, até o detalhe do detalhe. [...] Tudo isso supõe que se permaneça por longo tempo junto à população cuja cultura está sendo estudada. Em certos aspectos, Boas é o inventor do método monográfico em antropologia.

Em reação tanto à falta de observações empíricas quanto ao excesso interpretativo a partir delas, Bronislaw Malinowski propõe uma abordagem funcionalista das culturas em particular, baseada em dados empíricos, afinal defende uma antropologia científica. Para ele, cada cultura constitui um todo harmônico cujos elementos têm funções precisas na totalidade orgânica, e deve ser estudada de uma perspectiva sincrônica, pois o tangível é o presente da cultura.

De acordo com Cuche, (1999, p. 73-74)

O grande mérito de Malinowski será, no entanto, demonstrar que não se pode estudar uma cultura analisando-a do exterior, e ainda menos a distância. Não se satisfazendo com a observação direta ‘em campo’, ele sistematizou o uso do método etnográfico chamado de ‘observação participante.

Malinowski justifica e explica esse método na introdução ao seu livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”. Trata-se de etnografia sobre povos como os Motu e os Mailu de ilhas do sul do pacífico (Nova Guiné e Melanésia), enfatizando seu sistema de comércio, o Kula. “Antes de iniciarmos aqui o relato sobre o Kula, será interessante apresentar uma descrição dos métodos utilizados na coleta do material etnográfico.” (MALINOWSKI, 1922).

Essa ressalva metodológica de Malinowski se justifica na medida em que à antropologia, se pretendia científica, mas faltava um método mais científico. Não se deveriam aceitar etnografias sem sinceridade metodológica e rigor experimental, como se os fatos viessem do nada. Defende-se, então, que o trabalho etnográfico só será científico se distinguir claramente, de um lado, observações diretas e, de outro, inferências próprias do autor. O etnógrafo deve esclarecer do onde vêm suas observações, ainda que seu objeto seja imaterial, presente em comportamentos e memórias de pessoas. (MALINOWSKI, 1922)

As dificuldades in situ fizeram Malinowski propor três princípios científicos para uma etnografia eficaz. Em primeiro lugar, o etnógrafo deve possuir objetivos genuinamente científicos e pautados nos critérios da etnografia moderna. Em segundo, devem-se conquistar boas condições de trabalho, no sentido de viver mesmo entre os nativos sem depender de outros brancos. Finalmente, em terceiro lugar, devem-se aplicar determinados métodos de coleta, manipulação e registro de evidências. Tratar-se-á das três, começando pela considerada mais importante: a segunda.

Este é um aspecto fundamental da proposta etnográfica de Malinowski, pois é aqui que se introduz o que se chamou depois de observação participante. Para bem compreender uma cultura, é imprescindível que o observador participe inteiramente da vida comunitária que investiga. Não se recomenda que ele more com seus conterrâneos e visite esporadicamente os nativos, mas que ele more com os nativos e participe de suas relações em contato até que fiquem em harmonia. Assim, acontecimentos de interesse investigativo ocorrem espontânea e naturalmente com o etnógrafo que deixa de ser aquele elemento estranho que acabaria por modificar seu objeto de estudo.

Nas palavras de Malinowski,(1922, p.25-26) ao morar com os nativos,

Comecei, de certo modo, a tomar parte na vidada aldeia [...] deixei de representar um elemento perturbador na vida tribal que devia estudar, alternando-a com minha aproximação [...] tudo o que se passava no decorrer do dia estava plenamente ao meu alcance e não podia, assim, escapar a minha visão [...] tive de aprender a me comportar como eles [...] isso constitui, sem dúvida alguma, um dos requisitos preliminares essenciais à realização e ao bom êxito

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