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ERA O HOTEL CAMBRIDGE - ANÁLISE SOCIAL TEÓRICA

Por:   •  13/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.831 Palavras (8 Páginas)  •  364 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma análise do filme “Era O Hotel Cambridge”, lançado no dia 16 de março de 2017 e dirigido por Eliane Caffé, interpretando três cenas do mesmo considerando o poder político em relação aos interesses sociais em conflito presentes no longa-metragem.

CENA UM

Na primeira cena escolhida, descreve-se que: durante uma reunião dentro da ocupação, após receberem a notícia de que a justiça havia decretado a reintegração de posse do prédio em que vivem, uma moradora disse que não concordava que os refugiados tivessem direito à opinião dentro do movimento. Neste momento, Isam respondeu da seguinte forma: “Sou refugiado palestino no Brasil. Vocês são refugiados brasileiros no Brasil”. Diante dessa cena podemos notar diversas problemáticas, como por exemplo, a opressão, mais precisamente a opressão social, onde um determinado grupo vai contra uma pessoa ou outro grupo por pertencer ou ser marginalizado. No caso da cena, tanto o palestino quanto o brasileiro sofrem opressão visual por estarem em um movimento social em busca de moradia. Notamos também a supressão de direitos que os membros do movimento sofrem, independentemente de serem ou não refugiados, uma vez que os mesmos não possuíram moradia caso não fizessem parte do movimento.

Ainda sobre a cena citada acima, podemos relatar a falta de serviços e acesso dentro do Cambridge, sem que houvesse uma programação e participação dos membros nada seria feito, não haveria comida, limpeza, construção etc.

É notável o impacto emocional nessa cena, onde existe um momento de despertar à luta. Os moradores do prédio acreditam que devem recorrer aos seus direitos de estarem ali, formando-se então uma voz à Frente de Luta por Moradia (FLM), movimento social autônomo cujo objetivo é a reforma urbana e um desenvolvimento urbano mais justo. O próprio movimento mostra a autonomia desse grupo, formado por características individuais das quais cada um, coletivamente, se identifica e reconhece o seu eu no outro.

Há um reconhecimento de valores e um pertencimento a um grupo social. Nesse reconhecimento, existe uma autoafirmação do próprio eu, formando um entendimento que se entrecruza com o aumento de autonomia individual e social. Assim, essa voz mostra a capacidade do homem de, a partir da reflexão das incertezas e de perceber as contradições dialéticas do contexto social, se restituir como sujeito autônomo mediante o exercício de pensar criticamente sua condição humana orientado por uma práxis que possibilite um processo de transformação social e que pensa a importância das relações entre os indivíduos de forma mais “humana”, ou uma busca por mais humanidade como fala Zitkoski (2008).

“O olhar emancipado permite possibilidades de caminhos novos, emergência de novas possibilidades e acesso a novas experiências, ampliando, desta forma, o repertório sociológico e filosófico para questionar as evidências do nosso tempo” (SILVA, 2013, p. 753-754).

Assim, a partir da perspectiva de Silvia Lane, “emancipação” torna-se um conceito quase sinônimo de “revolução”.

[...] não precisa ser armada. Mas é preciso mexer com valores, é preciso mexer com os pensamentos estabelecidos, é preciso cutucar o ser humano para que ele pense diferente do que ele vinha pensando. Então, isso é uma revolução. Quando falamos numa revolução ética, a revolução ética não é um indivíduo que vai produzir. É uma sociedade, é uma cultura (Ciampa, Ardans & Satow, 1996:14).

Essa é a descrição, por Lane, de que é impossível uma emancipação sem revolução, mas nos alerta para o fato de que essa revolução não necessariamente precisa ser armada.

De fato, nessa cena ocorre o espanto, que está diretamente ligado ao estranhamento, levando os atores a um despertar pela ausência de dignidade e pela reflexão sobre o coletivo. Insurgentemente surge uma voz. Eles vão à luta contra a opressão.

CENA DOIS

Na segunda cena escolhida, descreve-se: Carmen saindo do carro enquanto outros indivíduos, com machados e ferramentas pesadas, quebram o concreto para adentrarem o edifício. Nisso, Carmen orienta as outras pessoas que chegam dos ônibus a entrarem no edifício o mais rápido possível, declarando: “Entrem em sua casa! É sua casa! Entra para dentro de sua casa! A casa é sua! Tudo é público! ”.

Nessa cena, vemos um espaço sendo ocupado. Mas um espaço público ou privado? Essa distinção nos mostra, além de fronteiras determinadas pelas constituições nacionais e pela lei, uma inter-relação entre um campo e outro. A distinção entre esses espaços – o que pode e o que não pode, deve e não deve, estar em um e noutro – responde às concepções sobre liberdade e poder que regem uma sociedade (MONTERO, 2009). O edifício é, para os sem tetos e refugiados, um espaço público onde fazem morada, é uma extensão da rua, pois a rua é de todos. A oposição e a lei tentam oscilar essa perspectiva e prontamente alegam uma privatização do prédio. A polícia tenta intervir. É neste momento em que a luta acontece, a resistência contra a oposição.

A insurgência existe quando há revolta e insurgente é o sujeito que se rebela e se levanta ativamente contra uma autoridade constituída (Little, 1970). Geralmente o insurgente  é oprimido, mas na realidade esse processo social deve ser compreendido e reconhecido, pois há uma emancipação que exige uma mudança nas relações sociais e na política, lugar onde o homem constrói sua condição de existência individual e social.

CENA TRÊS

Na terceira cena escolhida, descreve-se que: o personagem Apolo, está olhando os comentários feitos em suas publicações sobre a ocupação e os projetos artísticos por ele desenvolvidos. Comentários esses que degradam sua imagem e posição social, assim como as dos refugiados. Durante a cena, algumas partes dos comentários são grifadas por eles, sendo elas “sanguessugas, parasitas”, “SEUS IGNORANTES, VOCÊS ESTÃO MATANDO O BRASIL!”, “matem todos e joguem no caminhão de lixo”, “tem que usar bala de verdade”, “Haitianos??? Fora estrangeiros de países de terceiro mundo”, “ninguém quer essa negada aqui no Brasil”, “esses imigrantes começarem a roubar, matar, estuprar o povo brasileiro”. Após isso, aparece na tela a foto de alguns imigrantes e suas profissões, tais como auxiliar de escritório, construção civil/músico, manobrista/advogado, de outros moradores da ocupação, estudantes e crianças.

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