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Economia solidária como alternativa as consequências humanas da globalização

Por:   •  3/7/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.749 Palavras (7 Páginas)  •  268 Visualizações

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        Economia solidária como alternativa as consequências humanas da globalização.

        A economia solidária (ES) se coloca no extremo oposto aos cânones da globalização pautada pela flexibilidade e intenso movimento. Propõe-se neste momento uma análise breve sobre os malefícios que sofre a sociedade pós-moderna e construção desta forma específica de arranjo como alternativa a estes problemas.

        As ES se encontram dentro de um sistema microcentrado de relações econômicas em detrimento à liquidez oferecida pelo capitalismo global. Neste ponto, as iniciativas locais de comércio por intermédio de redes fixas de autogestão visando o longo prazo vão de encontro de forma abrupta a liquidez das relações da sociedade de mercado tal qual esta se encontra configurada atualmente. Saí de cena o pensamento macro para dar lugar à valorização das localidades.

         As iniciativas de ES, entendidas aqui como cooperativas, redes de consumo, poupança, crédito e demais iniciativas que busquem como finalidade um status de igualdade e não simplesmente o lucro, tratam-se de um arranjo incentivado em grande parte pela própria mobilidade da globalização sobre as camadas mais pobres que pressiona e deteriora as condições de vida e trabalho dos mais desfavorecidos em favor da volatilidade de aplicação do capital. De acordo com Bauman (1999) citando Albert J. Dunlap, trás consigo uma frase que ilustra bem a forma cujo a qual a flexibilização da relação entre espaço e capital se tornaram cada vez menos relevantes, segundo Dunlap: “A companhia pertence às pessoas que nela investem — não aos seus empregados, fornecedores ou à localidade em que se situa.” Ora, nota-se que a questão de pertencimento de uma companhia nada têm a ver com o direito legal de propriedade e sim com a sua vinculação a determinado espaço, têm a ver com a possibilidade de livre movimentação da produção de uma determinada fábrica para qualquer localidade que possibilite maiores retornos em sua atividade, tal mobilidade se estende também aos seus acionistas que podem a qualquer momento, independente da localidade física do negócio, aplicar ou retirar capital financeiro aportado (figura dos proprietários ausentes). Esta possibilidade de movimentação contudo, é restrita para aqueles trabalhadores e ou fornecedores locais que ao observarem o êxodo de um determinado polo a outro local, ficam impossibilitados de realizar tal movimentação por questões outras de suas vidas pessoais.

        A figura do proprietário ausente citada no parágrafo anterior, tal qual o sujeito ideal original de proprietários de terra que só retiravam de seus latifúndios os excedentes de produção sem grandes preocupações com a localidade se acirra no século XXI, pois mesmo o latifundiário mais descompromissado, detinha alguma preocupação social com o local onde se encontrava sua propriedade, dado que, devido a natureza de baixa liquidez das terras, coexistem diversos constrangimentos para o próprio lucro se não mantidos patamares mínimos de coesão social na localidade. O capital financeiro contudo, não passa por tais constrangimentos, sendo dificuldades e obstáculos, dadas as características de descolamento, vistos como impeditivos a serem descartados em prol de situações mais favoráveis.

        Ressalta-se ainda que o caráter de mobilidade por parte das elites acaba por atribuir à desterritorialização – principalmente com o avanço dos sistemas de comunicação – um caráter de valoração superior frente as camadas sociais mais pobres estáveis em suas localidades. Depreende-se daí que a valorização da movimentação esvazia o espaço publico dos seus significados. Quanto maior for a mobilidade e o desejo por ela, mais se reproduz a inserção de agentes em novas localidades sem qualquer sentimento de pertencimento. Não se detêm deste modo, qualquer ligação de familiaridade ao próximo, os problemas comuns não são percebidos pela ausência de unicidade de vozes dentro de uma sociedade cada vez mais fragmentada. Reproduz Bauman(1999): “Os locais de encontro eram também aqueles em que se criavam as normas — de modo que se pudesse fazer justiça e distribuí-la horizontalmente, assim reunindo os interlocutores numa comunidade, definida e integrada pelos critérios comuns de avaliação. Por isso um território despojado de espaço público dá pouca chance para que as normas sejam debatidas, para que os valores sejam confrontados e negociados.”

        Face às problemáticas observadas, iniciativas de implementação de economias solidárias voltadas para a igualdade, acabam por deter em si a possibilidade de confrontar os malefícios causados pela flexibilização do capitalismo pós-moderno, tido aqui como a globalização.

        A superação das externalidades negativas da mobilidade das companhias no contexto das ES, fundamentalmente com iniciativas de cooperativas que trazem aos trabalhadores o controle maior sobre riscos e resultados de suas atividades por intermédio da autogestão, ao concentrarem-se no papel mais igualitário de seu propósito, garantem a criação de vínculo entre o negócio e o local onde este se encontra, principalmente pela origem dos próprios cooperados e as raízes afetivas que estes já possuem por pertencerem ao espaço onde instalam-se.

        A importância da autogestão democrática nas iniciativas de economia solidária transcende ainda razões econômicas. Segundo Cunha (2007) enxerga-se como oportunidade na implantação deste tipo de prática: “(...)um potencial para ampliar a politização da sociedade civil e favorecer também a democratização do Estado. Nesse sentido, a ação política de apoio à economia solidária também deve ser pensada em termos do questionamento às formas representativas da democracia e aos debates sobre uma concepção mais participativa que, sem negar a estrutura representativa existente, complemente-a via formas de participação direta na elaboração das decisões e controle das políticas.”.

        Notoriamente, são variados os problemas causados pela implementação do capitalismo, a globalização como ferramenta de flexibilização do trabalho acaba por deteriorar ao final do século XX as condições de trabalho das classes desfavorecidas dadas as características de intenso movimento do fluxo de investimentos das grandes companhias que podem, assim como seus acionistas, realizar um desprendido movimento migratório sem qualquer tipo de constrangimento ao menor indício de resistência ou deterioração do espaço que ocupa em um primeiro momento. As iniciativas de economia solidária surgem neste contexto como uma ferramenta possível para sanar alguns dos questionamentos levantados por Bauman em sua obra Globalização: As consequências humanas por se apresentar como uma forma mais democrática de apropriação do trabalho e espaço público como direitos.

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