JUVENTUDE E RELAÇÕES RACIAIS EM NOVA MUTUM - MT
Por: Jaoanna • 24/5/2017 • Artigo • 2.754 Palavras (12 Páginas) • 275 Visualizações
JUVENTUDE E RELAÇÕES RACIAIS EM NOVA MUTUM - MT
ZIZELE FERREIRA DOS SANTOS
Resumo
O presente artigo tem sua origem em um projeto de pesquisa que aborda relações raciais e juventude no contexto escolar. Esta pesquisa adota como objeto de estudos as representações construídas pelos jovens no que tange às relações raciais entre estudantes do Ensino Médio das escolas que ofertam esta modalidade no município de Nova Mutum, interior de Mato Grosso, procurando investigar e compreender a maneira como se estabelecem as relações raciais entre os jovens negros (pardos e pretos) e brancos no município, considerando que a adoção de estereótipos em referência à comunidade negra repercute no âmbito das relações raciais entre os sujeitos inseridos no contexto escolar. Este estudo será norteado pela pesquisa social tendo como foco uma perspectiva qualitativa, utilizando-se de observações do ambiente escolar como a sala de aula e narrativas dos jovens investigados e professores, questionários e entrevistas individuais e coletivas.
Palavras-chave: Juventude, relações raciais, educação.
Introdução
O presente artigo se refere a um projeto de pesquisa apresentado ao Mestrado em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), propondo-se à investigação sobre as relações raciais estabelecidas entre jovens que cursam o Ensino Médio no município de Nova Mutum, Mato Grosso.
Considerando o cotidiano destes jovens do interior e sua sociabilidade construída em vários espaços, especialmente o escolar, a intenção é observar as relações raciais, atentando para a ação desses atores.
As questões que norteiam o interesse por esta pesquisa, inicialmente, podem ser resumidas em quatro, a saber: Quais as marcas observáveis no estabelecimento das relações raciais entre os jovens naquele município? Como ocorre a construção de suas identidades, considerando os sentidos dados em seu cotidiano pelas diferenças características presentes? Quais as questões e perspectivas destes jovens? Considerando o cotidiano destes jovens, quais e de que modo as políticas públicas para a juventude são implementadas, especialmente no cenário principal, a escola?
Juventude
A temática Juventude no Brasil tem sido objeto de estudo em diferentes campos do conhecimento e sob diferentes perspectivas, a saber, sociológica, psicológica, pedagógica e antropológica (SPOSITO, 1997). Tais estudos, em suas distintas abordagens, apontam para a perpetuação da desigualdade racial no país. Tais abordagens analisam mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, constituindo um campo em construção que exige maior investigação, principalmente quando se refere à Educação e Cultura.
Estes estudos sobre a temática avançam, destacando-se em vários espaços, estimulando debates acerca da condição dos jovens na sociedade contemporânea e envolvendo segmentos da sociedade civil e do Estado, movimentos sociais, instituições governamentais e não governamentais.
Os apontamentos resultantes desses debates indicam que ainda há muito para se refletir e propõem várias possibilidades de discussões ainda não colocadas, ao menos no trato das particularidades regionais. Em se tratando do interior do país, raro é pesquisar e refletir as práticas sociais da juventude, levando em consideração a raça/etnia e gênero. A ausência de tais discussões demonstra que o Brasil ainda não conseguiu resolver problemas vivenciados pela sua juventude negra que remontam ao violento histórico de cativeiro ocorrido durante o período colonial e imperial, e cujos desdobramentos, acenados aqui, atravessam o período republicano.
A proposição desta problemática resulta de minha inserção como professora, a partir da qual venho observando as condições objetivas e subjetivas que têm norteado minha trajetória como militante na arte e cultura afro-brasileira e mulher negra.
Desde que iniciei, em 1999, minha atuação na Educação, comecei a refletir sobre as relações entre as jovens negras no contexto escolar. Talvez fosse o espinho doloroso de uma hierarquia que se manifestava principalmente pelo estabelecimento de uma beleza padronizada, pela religiosidade que, suprimindo a diversidade, acentuava a desigualdade e provocava conflitos no ambiente escolar, envolvendo professores e alunos.
Tratava-se de reflexões ainda muito incipientes, que foram ganhando força com minha atuação como arte-educadora, elaboradora de projetos que promoviam práticas de valorização dos negros e negras na comunidade, formação voluntária de professores mediante oficinas culturais e, posteriormente, fazendo parte da execução do eixo Comunicação para Igualdade Racial, que rendeu à Nova Mutum o Selo Unicef Município Aprovado 2012.
Por meio destas experiências, pude vivenciar situações nas quais jovens participantes de grupos que desenvolviam práticas culturais afro-brasileiras demonstravam maior facilidade em lidar com questões raciais vendo-se como jovens negros e negras de forma positiva. Por outro lado, aguçava-me a curiosidade de entender esta dinâmica dentro da escola, considerando a relação entre brancos e negros na atual conjuntura pós Lei federal nº 10.639/03, que este ano completa onze anos.
Organismos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceram a população jovem dentro da faixa etária de 15 e 24 anos. No entanto, para alguns estudiosos, esta definição não significaria o jovem. Seria necessário considera-los na sociedade em que vivem, as vivências diferentes, visto que a atuação destes dependem das oportunidades oferecidas socialmente, especialmente no Brasil. Neste sentido, devemos considerar a multiplicidade do perfil da juventude brasileira “assim como as variedades de práticas e opiniões, a partir do que se estabelece a importância de falar em juventudes, no plural, e não no singular” (ABRAMO; BRANCO, 2005,p. 16).
Desta forma, o estudo sobre tais particularidades, no que tange aos jovens e às relações raciais, visa preencher lacunas, pois nos apresentará limites e possibilidades de uma produção teórica que, até o momento, apresenta pouca penetração no campo das Ciências Sociais e na Educação (SPOSITO, 1997). Acrescenta-se a isto a visível superficialidade no tratamento sobre aformulação e implementação de políticas públicas para as juventudes. Ao tratar
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