Mais Valor em Marx e Críticas ao Conceito
Por: brunosmachado • 20/5/2021 • Resenha • 1.769 Palavras (8 Páginas) • 245 Visualizações
Mais Valia
Para entender a mais-valia (ou mais-valor dependendo da tradução) precisa-se inicialmente compreender o processo de produção da mercadoria através da teoria marxiana. Dessa forma, lançarei mão do conceito de tipo ideal weberiano[1] , nesse caso necessário reconstruir uma “estrutura produtiva capitalista ideal”.
Imagine uma fábrica têxtil, para que a mesma produza sua mercadoria – tecidos – é necessário que dono da fábrica – o burguês – aplique seu dinheiro em duas coisas: primeiro os materiais necessário para que o tecido seja produzido – nesse caso, algodão e maquinário - também chamados meios de produção. Em segundo lugar, o burguês, precisará investir na força de trabalho dos trabalhadores ou trabalhadores que realizarão o processo de produção. Dessa forma Marx compreende a força de trabalho como um dos elementos atuantes no processo produtivo assim como o algodão e o maquinário, a diferença é que a força de trabalho não é comprável permanentemente. Dessa forma, enquanto os meios de produção ficam em posse do burguês a força de trabalho tem que ser reposta diariamente.
Ainda utilizando o tipo ideal elencado anteriormente e entendendo que a força de trabalho é uma mercadoria com necessidade de reposição diária, pode-se afirmar que esse trabalhador trabalha uma certa quantidade de horas e eventualmente volta para sua casa para descansar e retomar sua capacidade produtiva e então retornar no dia seguinte. Em troca disso, ele recebe um salário. Ainda segundo Marx o que diferencia a força de trabalho das demais mercadorias envolvidas no processo de produção é que ela é a única capaz de gerar mais valor, ou seja, sem a força de trabalho não existe a capacidade do burguês ter lucro. Conforme pode observar no esquema:
[pic 1]
Após a criação, essa nova mercadoria terá obrigatoriamente um valor maior do que o existente no início do processo isso acontece porque todo valor inicial é transferido para o produto final e durante o processo produtivo existe a criação de um valor novo, resultante do consumo da força de trabalho aplicada aquele processo. Assim sobre esse novo valor o burguês tentará fazer o máximo de lucro oferecendo ao trabalhador o menor salário possível[2], em geral, é sempre o mínimo necessário para que o trabalhador volte no dia seguinte e continue gerando mais valor.
Por fim, para materializamos a construção do processo exploratório que gera o mais-valor, suponhamos que uma trabalhadora receba R$ 10,00 para que possa trabalhar, voltar a sua casa e retornar a fábrica no dia seguinte em uma jornada de trabalho de oito horas diárias. Se essa trabalhadora produz 1 metro de tecido por hora e se esse tecido tem seu valor final de R$ 5,00 em duas horas ela já terá produzido tecido suficiente para pagar sua diária. Contudo, ela não poderá parar de trabalhar porque tem mais seis horas de trabalho a cumprir sua jornada diária. Esse período de trabalho excedente cumprido pela trabalhadora é chamado por Marx de mais-trabalho. Assim garantindo esses mais-trabalho o burguês garante que a trabalhadora produzirá diariamente um valor em tecido maior do que ela receberá. E essa diferença entre o valor produzido e o valor recebido é chamado por Marx de mais-valia ou mais-valor[3].
Paralelamente aos conceitos de mais-valia e mais valor a “tendência à queda na taxa de lucro por efeito da elevação da composição orgânica do capital" tem lugar central na teoria marxiana. Em linhas gerais, Marx assume que a queda na taxa de lucro é explicada em decorrência do aumento na produtividade social. Assim, o autor admite que existe um comportamento tendencial, já que as mesmas causas que atuam para reduzir a taxa de lucro atuam para retardar sua queda. Ou seja, a taxa de lucro depende diretamente da taxa de geração de mais-valor. Se essa se mantiver constante a taxa de lucro declinará. Então a manutenção do lucro do burguês depende diretamente do aumento da geração do mais-trabalho. Assim, a taxa de lucro a longo prazo tende a zero, a menos que a espoliação da força de trabalho sobre a classe trabalhadora aumente na mesma proporção que acontecem as transformações na composição orgânica do capital. Contudo, destaca Marx, esse aumento na exploração da classe trabalhado levará inevitavelmente a uma ebulição social e a tomada dos meios de produção por eles[4].
Por fim pode-se afirmar, baseado na obra de Marx, que a superexploração da força de trabalho gerando cada vez mais, mais-valor é uma tendência orgânica de sobrevivência do capital. A estagnação na intensidade da exploração desse “sobre valor” sobre a mão de obra, a longo prazo, desmantelaria a estrutura capitalista. Dessa forma, a única maneira de manter o capitalismo de pé é aumentar cada vez mais a exploração da classe trabalhadora e mesmo assim só adiará a desmantelamento do sistema.
Todavia, deve-se destacar que existe uma forte crítica a construção marxiana do processo de produção capitalista e principalmente ao conceito de mais-valor. A primeira grande ponderação diz respeito a inexistência de uma “medida” econométrica que estipule a taxa de exploração do mais-valor diante do lucro do burguês. Ou seja, calcular o capital orgânico e por sua vezes a taxa “tendência à queda na taxa de lucro por efeito da elevação da composição orgânica do capital" se tornaria uma tarefa inviável e coloca grande parte da teoria marxiana sobre o mais-trabalho e a mais-valia em xeque. A tendência a queda da taxa de lucro seria, apenas, um resultado lógico, mas que não necessariamente deveria se realizar no contexto histórico do capitalismo. Por fim, os críticos a lei de tendência a queda da taxa de lucro em Marx afirmam que não há nenhum fundamento teórico nos escritos desse autor que sustente suas formulações.
Por fim, Karl Marx analisa existência do próprio Capitalismo dentro de uma lógica materialista histórica. Segundo Engels, parceiro de Marx em uma de suas obras mais relevantes[5]., o Materialismo Histórico é um método de compreensão e ação sobre a realidade que enxerga a existência dos seres humanos dentro de um contexto que socio-histórico e de acordo com as relações materiais da sociedade humanidade Em outras palavras é compreender que a situação atual é fruto de diversas construções históricas ao longo do tempo, por exemplo: se hoje temos uma sociedade machista é porque ela foi herdada de condições do passado. Essa sociedade foi construída em cima de processos de subalternização da mulher e também de uma lógica de produção que precisava de uma outra lógica machista para promover os seus lucros. Ou seja, tudo que enfrentamos hoje é herança dos acontecimentos do passado. Ou ainda segundo Marx em sua obra O 18º Brumário de Louis Bonaparte:
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