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O Conceito de Saúde e Doença pode Ter Variadíssimas Interpretações

Por:   •  23/5/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.687 Palavras (7 Páginas)  •  290 Visualizações

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O conceito de saúde e doença pode ter variadíssimas interpretações contudo, alguns autores encaram a doença e a saúde como sendo estados de conforto e bem-estar. Considerando que a doença, em tempos não muito distantes era dita como um estado de “ausência de saúde”, sendo a saúde definitiva como “ausência de doença”, definições evasivas e de certo modo esclarecedoras para explicar estes dois conceitos.

Centrando mos- nos no nosso estudo concretamente, analisamos que para os moçambicanos, ter saúde é considerado ter qualidade de vida, é um “bem comum”, um direito social que assiste a cada um de nós, partindo do pressuposto do princípio do usufruto da riqueza disponível, dos conhecimentos adquiridos ao longo dos tempos e cada vez mais sobretudo da aplicação das novas tecnologias que tanto tem ajudado no que à medicina comporta. Contudo, estas novas tecnologias tem ajudado no tratamento das doenças e fundamentalmente na prevenção, nomeadamente, na promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação do estado enfermo.

Sendo assim, compreende-se que a saúde é um resultado de variáveis, e relações que produzem e condicionam o estado de doença e saúde de uma população, modificando-se ao longo dos tempos e desenvolvendo-se cientificamente em benefício da humanidade. A saúde e a doença são dois conceitos vitais subordinados a constantes mudanças e analises. “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, (OMS, 1948).

Em resumo, podemos considerar, que a saúde e a doença são termos culturais, socialmente definidos, sendo que a qualidade de saudável vária consoante as culturas e sociedades, pois, embora, todas possuam faculdades de saúde física e de doença, no conjunto, o que tiramos como ilação na medicina é um resultado de progressos e desenvolvimentos que ao longo dos tempos, desde os mais remotos até a atualidade, se vem aperfeiçoando e evoluindo nas sociedades ocidentais, ao contrario do que verificamos em Moçambique.

No país em estudo, não ocidental, verifica-se ainda que há muito por fazer em relação aos cuidados de saúde, visto falarmos de um país menos desenvolvido. “É nos países menos desenvolvidos que se encontra também uma maior percentagem de pessoas atingidas por doenças infeciosas, representando nesses países 45%do total de causas de morte” (Carmo, 2001:232). A medicina praticada nos países ocidentais desenvolvidos não chega a Moçambique com o enfase que deveria chegar, causando assim elevados e fortes transtornos e carência à sua população que em contrapartida utiliza uma medicina arcaica, praticada por indivíduos que se especializam em curandeiros, usando “mezinhas”, recorrendo á pratica de rezas e supostos poderes mágicos normalmente sempre acompanhados de coreografias ilusórias. Estes sistemas tradicionais de cura permanecem ainda bem patentes nas culturas não ocidentais, como é o caso dos países africanos e neste caso em particular de Moçambique. Sendo Moçambique um País de cariz sociocultural complexo, não se questiona a existência de uma “mistura e confusão” de culturas médicas, em que cada uma delas possui características muito próprias, mesmo sendo referenciadas pela biomedicina como entidade homogénea, acabando, e por analfabetismo, vingar sempre a medicina tradicional única e abrangente, conceito este que advém de tempos mais remotos mantendo se ainda bem presente na atualidade.

Quando solicitada a prática de medicina tradicional, como foi referido anteriormente, o povo recorre aos curandeiros, os nyanga, com o objetivo de acabar com a má sorte e com os azares. Estes por sua vez, só podem ser médicos tradicionais quando escolhidos pelos espíritos, é se “selecionado e chamado por espíritos que através de um ato de possessão, querem trabalhar como curandeiros”. (Granjo, 2009:574) Segundo um testemunho, “Eu estava na Africa do Sul a trabalhar nas minas (…) fiquei muito doente, não conseguia trabalhar. (…) Vim para Moçambique, consultei um médico que me disse que eu tinha espíritos que queriam sair (…) Fiz o curso e fiquei médico tradicional”. (Menezes, 2004:88).

O surgimento de doenças físicas associa-se a “ser derivado de não se cumprirem as regras sociais de os mortos não terem sido enterrados de maneira correta, do contágio com objetos impuros, e ainda fruto da ação dos espíritos maus”. (Menezes, 2004:90). Para os Moçambicanos, a SIDA é transmitida através do vírus ou por contágio simbólico ou espiritual. Também é certo que se tem vindo a verificar em Moçambique, um desenvolvimento de sistemas médicos híbridos, ou seja, que aceita o modelo medico moderno. A prática da medicina tradicional dificulta em muito a prática da biomedicina, dificultando que esta ultima atinja os seus objetivos.

A medicina tradicional foi contrariada, devido à correlação que se fez entre o feiticeiro e o médico tradicional. Os doentes e os próprios profissionais de saúde tradicionalistas falavam em situações distintas como referido pelo estudo feito por Menezes no bairro de Polana-Caniço, zona suburbana da cidade de Maputo, “Há diferença entre curandeiro e feiticeiro. O curandeiro cura e o feiticeiro mata. O feiticeiro conhece remédios para matar. Enquanto nós, os curandeiros, curamos porque é essa a nossa obrigação (…) os espíritos obrigam assim, senão castigam”.

Verificamos também que nestas sociedades algo nómadas as relações familiares é muito sustentada, relacionando-se a feitiçaria e o médico tradicional a um certo “status” social. As pessoas acabam por estar cada vez melhor informadas começando assim a opor-se de certa forma à feitiçaria, em contrapartida da procura de uma vida melhor.

A assistentes de nascimento, a quem costumamos chamar de parteiras tradicionais são exemplo de profissionais da saúde, caracterizam-se pela sua idade avançada, já com netos e com experiencias em cuidados de partos e pós parto. Para os médicos tradicionais “ter saúde é ter uma boa vida”, ou seja, é necessário existir um equilíbrio essencial num individuo, estar bem com a família, e com a comunidade em geral, ter casa, estar alimentado, ter emprego, ter proteção das forças malignas, quer elas sejam naturais ou “enviadas”.

O olhar que se tem a partir de um gabinete burocrático ou de um hospital leva a que se aceite com facilidade que a maioria das plantas utilizadas pelos tinyanga (terapeutas supostamente possuídos pelos espíritos) poderá possuir princípios ativos com eficácia de cura ao olhar dos critérios farmacológicos da biomedicina. Os conceitos que evolvem as práticas dos tinyanga tendem a ser vistos como que uma ganga de superstição, feitiçaria e magia, ou na melhor das hipóteses, de técnicas de manipulação psíquica, que estraga os saberes “verdadeiros” e com o qual a medicina dificilmente poderá compactuar muito menos ainda legitimar. Os tinyanga, desejam de forma individual e associativamente que as suas práticas sejam reconhecidas e legitimadas através do poder científico e politico.

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