O FICHAMENTO DO LIVRO O QUE É ETNOCENTRISMO
Por: jhonytrabagratui • 30/12/2021 • Trabalho acadêmico • 3.088 Palavras (13 Páginas) • 361 Visualizações
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FICHAMENTO DO LIVRO O QUE É ETNOCENTRISMO[pic 3]
Jhony Luiz Oliveira Jordão
José Fernando Saroba Monteiro
O etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e de todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos modelos, valores e cultura. No plano do cognitivo, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo hostilidade, etc. Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, mora no mesmo estilo e procede, por muitas maneiras, semelhantes. Aí, então, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente”. O grupo do “eu” faz da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certos. O grupo do “outro” fica como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. A sociedade do “eu’ é a melhor, a superior, representada como o espaço da cultura, e da civilização por excelência. A sociedade do “outro” é atrasada. São selvagens, os bárbaros.
Segundo o exemplo da história de um pastor que tinha a missão de pregar junto aos índios no Xingu, relatada por Rocha, fica perceptível alguns importantes aspectos da questão do etnocentrismo.
Neste conto fica evidente o choque de culturas, entre o índio e o pastor, os personagens privilegiaram as funções ornamentais, decorativas, estéticas de objetos que, na cultura do “outro”, desempenham funções que seria principalmente técnicas. Para o pastor, o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto o que causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha. Cada um “traduziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. O etnocentrismo caminha nesse sentido julgando o valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”.
A história ainda evidencia que o “outro” e sua cultura, da qual é contada na sociedade é apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como bem entendemos. Ao “outro” negamos aquele mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo.
O autor ainda afirma que a imagem proposta pelos livros de história acerca dos índios é equivocada, pois afirmam que estes são preguiçosos ou incompetentes quando os senhores de engenho lhes atribuíam alguma função, ressaltando a perspectiva de que na verdade os índios estavam certos em não querer trabalhar como escravos. A romantização dos índios nos livros didáticos é prejudicial, pois prevalece a visão de que estes são incapazes de compreender o mundo como é, ou se adaptar as novas situações, chegando a implementar ideologias que se quer perguntam ao índio se ele quer ou não determinada coisa para si.
Ressalta que as atitudes do grupo “eu” frente a “outros” grupos sociais com os quais convivem nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de resquícios de atitudes etnocêntricas. São aplicados rótulos e estereótipos através dos quais guiam para o confronto cotidiano com a diferença. Uma das ideias que se contrapõe ao etnocentrismo é a de relativização. Relativizar pode ser definido como um objeto que depende da interpretação de alguém, ou seja, da posição que a pessoa que observa atribui ao mesmo, dessa forma, não há uma maneira correta de se o observar, pois tudo depende da perspectiva de quem vê. Para Rocha, relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.
Em Portugal do final do século XV, com as navegações, os financiamentos para pesquisa e explorações, o mundo do “eu” se via obrigado, frente ao “outro”, a pensar a diferença. Muita violência, espanto e perplexidade iriam regular as relações entre os povos, sociedades e culturas tão impressionantemente diferentes a ponto de uma negar, frequentemente, à outra a própria natureza humana. Destes encontros, entre a sociedade do ‘eu” e a sociedade do “outro”, o século XVI constitui-se em uma das arenas principais.
O primeiro destes pensamentos, ocorridos na antropologia e que procuram explicar a diferença, é conhecido como Evolucionismo. A noção de evolução é um marco fundamental para o pensamento antropológico. Assim a diferença que se travestia em espanto e perplexidade, nos séculos XV e XVI, encontra, nos séculos XVIII e XIX, uma nova explicação: o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. Evolução é o desenvolvimento obrigatório de uma determinada unidade que revela, pelo processo evolutivo, uma segunda forma, mostrando sua potencialidade. É um processo permanente onde uma unidade qualquer se transforma numa segunda que, por sua vez, transforma numa terceira e assim sucessivamente. O evolucionismo biológico e o evolucionismo social se encontram e o segundo passa ser o modelo explicador da diferença entre o “eu” e o ‘outro”. O resultado disso vai ser a permanência do etnocentrismo agora traduzido na sociedade do “eu” como o estágio mais adiantado e a sociedade do “outro” como o estágio mais atrasado.
Todas as formações sociais humanas tinham origens remotas e caminhavam no mesmo sentido, na direção do progresso, os evolucionistas pensavam que os australianos haviam parado num estádio “primitivo” e os ingleses avançado para um estádio “civilizado”. Mas restava ainda um problema teórico. A escolha e a definição dos critérios pelos quais seria possível medir o estádio de “avanço” de cada uma das sociedades existentes.
A mudança nas sociedades se daria pela invenção, consequência do aperfeiçoamento do espírito científico. Temos dois marcos básicos. No extremo inferior os povos “primitivos” e no extremo superior os povos ditos “civilizados”. Cada item da cultura serve para demonstrar o percurso do primitivismo à civilização e encontrar para as sociedades um lugar neste caminho. Os itens culturais faziam papel de régua com a qual se media a distância histórica entre os povos.
A contribuição de um dos antropólogos mais famosos da época, Lewis Morgan, foi exatamente calcular as sociedades segundo seu grau de evolução. Para Morgan, a “acumulação do saber” e o progresso das “faculdades mentais e morais dos homens” vão marcando as mudanças de estádios no caminho da evolução. Divide os cem mil anos de história humana em três períodos básicos – selvageria, barbárie e civilização. O século XX traz para a Antropologia um conjunto vasto e complexo de novas ideias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Relativizar é uma palavra que até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia.
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