O Gênero e Educação
Por: Leonardo Santos • 19/9/2022 • Trabalho acadêmico • 1.982 Palavras (8 Páginas) • 80 Visualizações
PESSOAS TRANS NOS ESPAÇOS ESCOLARES E ACADÊMICOS EM TEMPOS DE CONSERVADORISMO
Rio de Janeiro - 2022
O presente trabalho acadêmico surgiu a partir de uma proposta de atividade da disciplina eletiva; “DIREITOS HUMANOS, GÊNERO E SEXUALIDADES”, oferecida pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos - UFRJ e ministrada pelo Professor-Mestre Alexandre Bortolini. O tema comum do trabalho é sobre “A DEFESA DE DIREITOS DE MULHERES E LGBT+ EM TEMPOS DE CONSERVADORISMO” - sendo que o enfoque deste é nas PESSOAS TRANS NOS ESPAÇOS ESCOLARES E ACADÊMICOS EM TEMPOS DE CONSERVADORISMO, tendo como objetivo a vivência escolar e acadêmica dessa população durante esse período conservador.
Sabemos bem o peso da palavra transfobia para a sociedade. Esse termo foi criado para designar o preconceito e discriminação a pessoas transgêneros, ou seja, aquelas pessoas que fogem do binarismo homem/mulher que está atrelado ao seu sexo biológico. Transgênero, falando a grosso-modo, é aquele que não se identifica com seu sexo biológico. Sendo assim, vivendo numa sociedade preconceituosa e consequentemente violenta com aquilo que foge de sua “normalidade”. É muito difícil imaginar como essas pessoas conseguem viver o espaço social de maneira plena, como deve ser para qualquer cidadão. “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.” (Declaração dos Direitos Humanos, Art. I) Apesar dessa afirmação, na prática, não é bem assim que acontece.
Falando especificamente do tema - Trans nos espaços escolares-acadêmicos em tempos de conservadorismo - que é o espaço social que escolhemos para trabalhar, visto que a escola-academia é um dos primeiros grupos sociais no qual somos inseridos depois da nossa própria família, é de uma importância imensa a discussão sobre a forma como esse espaço se comporta quando são tomados por corpos trânsgeneros. Levando em consideração as publicações do livro “Quando os LGBTS invadem a escola e o mundo de trabalho (Unirio) e considerando a escola como um ambiente de elucidação, conhecimento e convivência em comum com todas as diferenças, como a escola trabalha para conseguir inserir todos nesse espaço comum? Como seus mestres, alunos e a comunidade em si se comportam e têm se comportado diante dessa onda de conservadorismo que voltou com força no Brasil nos últimos anos? Essas são algumas das questões que pretendemos discutir ao longo deste trabalho.
Para entender um pouco sobre essas questões, buscamos conversar com uma pessoa que fizesse parte do espaço escolar-acadêmico e que conseguisse visualizar de perto todas as marginalizações que uma pessoa trans pudesse encarar neste espaço. O nosso entrevistado foi o professor de biologia da rede básica de ensino do Município de Duque de Caxias, Mário Sérgio Souza, que trabalha há mais de 30 anos em sala de aula com questões de gênero e sexualidade, e que também é coordenador do Projeto Sem Vergonha que trabalha com questões sobre Gênero; Sexualidade, Saúde Sexual, Reprodutiva e Ambiental, Através da educação entre pares.
Trabalhar com questões consideradas “polêmicas”, muita das vezes, é uma tarefa muito árdua, justamente pelo fato da rede de apoio e suporte à tal pesquisa ser limitada. A pessoa que se dedica às questões principalmente das minorias precisa possuir muita garra para enfrentar as dificuldades encontradas pelo caminho, porém, apesar de tudo isso, nada foi capaz de deter o professor e pesquisador Mário Sérgio que, apesar de ter encontrado obstáculos em sua trajetória, persistiu e seguiu com seus objetivos.
Durante a entrevista, o professor pesquisador nos revelou como nasceu e seguiu suas pesquisas, além dos obstáculos e apoio que recebeu tanto por parte dos alunos em sua maioria, quanto pelos professores que com ele atuam em trabalhos e projetos.
Segundo o professor Mário Sérgio Souza, ser professor sempre esteve em seus planos, “Desde os 16 anos coloquei alguns focos na minha vida, que quando eu completasse 25, queria atingir e um deles era me formar em uma Universidade Pública, ser professor e ter meu emprego público. Através disso, a minha motivação de transformação social, porque eu acredito na educação como um instrumento de educação social, então isso me motivou desde muito cedo, então já sabia o que queria, que queria entrar na área de educação e sabia que queria fazer biologia.” (trecho retirado da entrevista realizada no dia 15/07/22)
A trajetória acadêmica e de pesquisa do professor Mário Sérgio iniciou-se com sua graduação sendo finalizada em 1990 e, neste mesmo ano, prestou concurso público, passou e tomou posse em 1991, quando iniciou seu magistério no Estado e no município de Duque de Caxias.
Em 1992, Mário fica definitivamente na escola de formação de professores Júlia Kubitschek, onde inicia um projeto: AIDS e ESCOLA, que é uma formação oferecida pela Secretaria de saúde e pela SEEDUC, que era para trabalhar com a questão Aids dentro do ambiente escolar. E o professor Mário salienta que o projeto Sem Vergonha se iniciou em 1992, entre aspas, dentro do projeto Aids e Escola.
A ONG Pro-mundo fez uma campanha chamada Sem vergonha, que na verdade adolescentes de várias escolas criaram esse nome, então o professor Mário juntou o grupo de Saúde Reprodutiva/Aids e o grupo Educação Ambiental, e então surge o projeto sem Vergonha, em 2013, com essa formatação, mas o professor sempre diz que surgiu 1992, com o projeto Aids, por ser um link entre projetos.
Assim, no projeto, há empoderamento juvenil, “aluno aprendendo com aluno, aluno ensinando aluno” e o professor (ele mesmo) apenas estando ali para orientar, tendo então apoiadores; Fiocruz, Casa da Ciência da UFRJ, ONG Empodera etc. Os alunos trazem as demandas, o professor Mário orienta e eles passam adiante.
O projeto Sem Vergonha tem como objetivo trabalhar com questões sobre Gênero; Sexualidade, Saúde Sexual, Reprodutiva e Ambiental, Através da educação entre pares”, focando na formação de professores. O professor diz que esse projeto corria em salas de aulas, justamente por, naquela época, haver, “muitos casais” e que, nos corredores, os casais héteros poderiam se beijar, entretanto, os casais homoafetivos não tinham esse mesmo direito, então ele foi até a direção questionar o porquê disso, visto que trabalhava dentro de sala de aula, com essas questões, justamente para que as pessoas que não tinham a mesma orientação sexual desenvolvessem um senso de respeito pelo próximo.
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