Resenha - A Garota Dinamarquesa
Por: Beatriz Moreira • 20/3/2020 • Resenha • 1.442 Palavras (6 Páginas) • 307 Visualizações
PET – Sexualidade e Educação Sexual Nome: Beatriz Moreira de Oliveira | Data: 08 de outubro de 2017 |
RESENHA CRÍTICA
Resenha do Filme: A Garota Dinamarquesa. Título original: The Danish Girl. Roteiro: David Ebershoff e Lucinda Coxon. Direção: Tom Hooper. Gênero: Drama. Duração: 120 minutos. Ano: 2015.
O filme “A Garota Dinamarquesa”, trata-se de uma cinebiografia, que é oriunda do livro de David Ebershoff publicado pela primeira vez no ano 2000, conta a história de Lili Elbe que nasceu Einar Mogens Wegener, um pintor dinamarquês, e ficou conhecida como a primeira pessoa a fazer uma cirurgia de redesignação sexual, no século XIX, além de contar sobre o seu relacionamento amoroso com sua companheira Gerda Wegener.
Por um momento, o filme que tem todo o seu desenrolar em 120 minutos parece-nos longo, porém, após a terceira ou quarta cena torna-se algo surpreendente. A história do filme se passa, inicialmente, na cidade de Copenhagen (Dinamarca), onde o jovem casal artista Einar e Gerda Wegener, acabam de se casar. Ele, um pintor de paisagens de sucesso, porém dito sem concorrência. Ela, uma pintora de retratos de pessoas da alta sociedade que é comparada ao marido, e através dele encontra meios para disseminar a sua pintura. Devido à falta de uma de suas modelos marcadas, Gerda toma a decisão que irá mudar sua vida para sempre: Decide vestir Einar com meias, sapatos e um vestido, caracterizando-o como mulher para pintá-lo.
Para Gerda, neste momento do filme, torna-se uma diversão. Para Einar, uma nova forma de se perceber no mundo e de se descobrir como alguém diferente do que sempre foi. Neste tão tênue e inocente momento, nasce Lili Elbe, nome dado por uma amiga do casal Wegener. Já na primeira noite de amor do casal, após o corrido, Einar observa Gerda se despir e admira a sua camisola de seda, ela propõe o empréstimo a ele, onde com um suave abraço e um sorriso de lado, ele diz: “eu poderia gostar” e numa noite posterior, de fato ele a usa e age de forma passiva. Estes são os primeiros sinais de que Lili ali habitava e encontrava meios de aparecer ao mundo.
Gerda começa a dar subsídios para que gradativamente se inicie a transformação de Einar em uma mulher, começando por uma festa a qual não queria ir, e que vai se passando por uma prima sua, sendo reconhecida como Lili Elbe. Neste momento pensamos que Einar já deixava de existir, mesmo que primariamente, naquele corpo que de fato não era seu. Cada vez mais em sua transformação, banca o seu papel e identidade de gênero feminino e não consegue dissociar isto de si. Einar passa de um homem feliz e ativo, a um ser agora deprimido; cansado; sem energia e com dores de cabeça constantes, além de uma relação conturbada com Gerda, que passa a não compreender o que se passa com o marido. Fica evidente ao telespectador a dificuldade da mesma em aceitar o que ela mesma percebeu por primeiro: a mulher bonita, sensível e frágil que sempre existiu em Einer.
Em uma rápida análise, é possível perceber que Einar ao se envolver em um relacionamento com Gerda, admira nela a mulher que ele sempre quis ser, por ela demonstrar seu lado forte, determinado e destemido, que encara os desafios e vai atrás de seus objetivos de forma sábia sem jamais desistir. Aqui podemos livremente dizer que Lili Elbe é uma “espécie de alter ego feminino” de Einar Wegener. Em meio a acontecimentos e ambos acreditarem que algo errado estava acontecendo com Einar, juntos buscam diversos tratamentos, que de alguma forma poderiam o submeter à situações de risco ou à exposição social de um estigma, como um ser estranho ao que a sociedade espera.
Através do que é retratado no filme, é importante ressaltar que a transexualidade, até os dias de hoje, apesar de não ser mais catalogada como um transtorno da sexualidade no DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – 5ª edição), ainda é considerada uma doença, sendo enquadrada como disforia de gênero. E este dito “diagnóstico” é determinante para que se inicie o acompanhamento de pessoas transgênero/transexuais pelas equipes multidisciplinares para o processo da hormonioterapia, além da cirurgia de redesignação sexual acontecer.
Gerda aos poucos cresce como pintora ao conseguir vender os quadros onde há a imagem de Lili representada, e ela por sua vez entra ainda mais na ilusão de que há como Einar reverter o que há em si. Em um momento ao propor que ele o ajude em uma pintura, aparece em sua fala uma recusa em ajudá-la. Neste momento percebemos que o papel de gênero do homem e “pintor dinamarquês” não é algo pertencente ao mundo de Lili, e sim ao de Einar que cada vez menos habita naquele corpo e anseia por mudanças o quanto antes. Ela não tolera mais ser, anatomicamente, uma pessoa que carrega algo que não fala de si.
Com o apoio, ainda que conturbado, da esposa, um Einar deprimido e cabisbaixo, vê a vida colorir novamente quando ao consultar-se com um famoso médico, professor e pesquisador acerca da transexualidade, o mesmo garante realizar a cirurgia para retirar seu pênis e ali construir uma vagina, sendo a sua única opção de real mudança. Era então o grande marco em sua historia pessoal, evento que mudaria sua vida para sempre. Apesar de todos os riscos relatados pelo médico, e com o incessante apoio e também resistência de Gerda, passa por uma das primeiras cirurgias de mudança de sexo da história para tentar se transformar por completo em Lili e recuperar o gosto pelo viver, como alguém que ele sempre foi e nunca teve a oportunidade de ser.
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