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Resumo e Análise da obra "São Bernardo" de Graciliano Ramos

Por:   •  18/6/2023  •  Resenha  •  1.705 Palavras (7 Páginas)  •  128 Visualizações

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SOCIOLOGIA III

AULA 6

"SÃO BERNARDO"

GRACILIANO RAMOS

A obra "São Bernardo" foi escrita por Graciliano Ramos, em 1934. Compõe um grupo de obras pertencentes ao chamado 'ciclo da seca', que marcou o movimento modernista da 2ª geração (1930-1945).

Graciliano compõe uma trama que tem como cerne a situação dramática do Nordeste brasileiro, afetado com as secas periódicas, sobretudo as das primeiras décadas do século XX, que ocasionou o êxodo rural, a pobreza generalizada e as tentativas de sobrevivência dos sertanejos. Apesar da obra ser desenvolvida dentro dessa temática, o livro se difere das demais obras contemporâneas a ela pelo estilo da narrativa, uma vez que se passa em 1ª pessoa é um texto em estilo psicológico.  

O narrador-personagem, Paulo Honório, narra sua vida, de guia de cego no interior do Alagoas até se tornar um grande latifundiário, e como não mediu nenhum esforço para conseguir seus objetivos, deixando de lado os escrúpulos e a ética. Com uma forma bastante sincera e bruta, bem como a figura do sertanejo, o personagem relembra sua vida sentado na mesa da sala de jantar, fumando um cachimbo e escrevendo suas memórias. Paulo Honório é um homem brutalizado que, depois de envolver-se em uma briga, é preso e quando sai da cadeia resolve conseguir por qualquer meio a fazenda São Bernardo, onde era trabalhador alugado. Inicia, então, uma falsa amizade com Luís Padilha, o herdeiro da fazenda, passa a incentivar seus mais projetos, e por inexperiência deste, a fazenda vai à ruína econômica. Por causa de muitas dívidas, Padilha se vê na obrigação de vender a fazenda por um valor insignificante. Honório se torna dono de São Bernardo e consegue fazê-la prosperar.

Em seguida, arma contra o fazendeiro vizinho, Mendonça, sendo o mandante do seu assassinato, conseguindo assim ampliar o seu território. Consegue auxílio de políticos locais, advogados e outras personalidades estendendo sua rede de relacionamentos para garantir seus interesses.

Resolve casar-se e conhece Madalena, uma jovem professora, que altera a rotina da fazenda e da própria vida de Paulo Honório. Madalena é honesta, sincera e humana. Interessa-se pela vida dos empregados, discute as baixas condições de vida de alguns, questiona as ações e intenções do marido. Esse comportamento da mulher deixa Paulo Honório inquieto, que começa a se desorientar. Tem crise e acessos de ciúme da esposa e assim torna-se cada vez mais agressivo. Mesmo com o nascimento do filho, as desconfianças não param, e ele é massacrado pela ideia da infidelidade da mulher.

Em várias cenas de ciúme doentio, ele acusa a mulher de envolver-se com outros homens. Esse comportamento, altera o ânimo de Madalena, que torna-se abatida. Uma certa noite, ele a encontra escrevendo uma carta, aproxima-se e vê que a carta está endereçada a outro homem. Descontrolado, ele exige que ela lhe entregue a carta e em uma discussão ela o chama de assassino. Ele tinha delírios, ouvia passos, convencido de que a mulher possuía amantes. Isso aumenta o sofrimento e a solidão de Madalena, que se sente humilhada.

Uma tarde, Paulo Honório encontra uma folha de uma carta escrita pela mulher no chão. Vai à sua procura e a encontra na Igreja, exige explicações e ela diz que aquela folha é parte de uma carta que está na bancada do escritório. Pede-lhe perdão pelos aborrecimentos e diz a ele que o ciúme estragou a vida dos dois. Na manhã seguinte, quando ele chega em casa, encontra Madalena morta. Ela havia se suicidado. A página que ele encontrou era a página que faltava em uma carta de despedida que ela havia escrito a ele.

Após a morte de Madalena, a fazenda declina. Tem início a Revolução de 1930, Paulo Honório passa a ter dificuldades nos negócios e fica abandonado.

Ao compor a narrativa de sua vida, percebe como foi desumanizado à sua própria brutalidade. Vê-se incapaz de se auto-transformar e busca sentido para sua vida.

Do ponto de vista sociológico, "São Bernardo" oferece uma crítica social profunda sobre as relações de poder, a desigualdade e as estruturas presentes na sociedade brasileira. O protagonista é retratado como um homem ambicioso e pragmático, que busca alcançar o sucesso material a qualquer custo. Entretanto, ao longo do livro, Graciliano mostra como essa baixa desenfreada pelo poder e pelo dinheiro acaba corrompendo a personalidade de Paulo Honório, afetando suas relações interpessoais. O autor expõe a lógica implacável do capitalismo e a maneira como ela molda as relações humanas, muitas vezes de forma desumanizante.

Além disso, a obra também aborda questões relacionadas à estratificação social e à exploração dos trabalhadores rurais. O personagem de Paulo Honório é retratado como alguém que exerce um domínio autoritário sobre seus empregados, explorando sua força de trabalho e perpetuando a desigualdade social existente.

Graciliano Ramos utiliza a narrativa em 1ª pessoas para explorar a subjetividade do protagonista, revelando seus pensamentos, conflitos internos e o impacto de suas ações sobre a sociedade ao seu redor. Dessa forma, o autor expõe as contradições e os dilemas morais enfrentados por Paulo Honório, trazendo à tona uma reflexão sobre a condição humana e a complexidade das relações sociais.

– A obra possui várias citações marcantes. Dentre elas, se encontram:

"Quando era pequeno, tinha medo das pessoas. Agora é que percebo que o medo vem delas, mas que, não admitindo isto, jogam-no sobre os outros."

Essa frase acima traz uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a dinâmica das relações sociais. Ela revela uma percepção do narrador-personagem, Paulo Honório, sobre o medo e a forma como as pessoas lidam com ele.

No início da frase, Paulo Honório menciona que, quando era criança, tinha medo das pessoas, o que indica uma sensação de vulnerabilidade e insegurança diante do mundo ao seu redor. No entanto, ele faz uma observação crucial: perceber que o medo não é algo inerente a ele, mas algo que as pessoas possuem e projetam sobre os outros.

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