Você tem cultura?

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

CCS: Centro de Ciências da Saúde

Bacharelado Interdisciplinar em Saúde

Docente: Sílvia Michele

Componente curricular: Diversidades, cultura e relações étnico-raciais

Discente: Roney Moura Oliveira

DA MATTA, R. Você tem cultura? Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981

Roberto Da Matta, pesquisador e professor de antropologia social, através deste artigo publicado no Jornal da Embratel em 1981, conceitua a cultura no sentido real da palavra e busca expressar outros diferentes sentidos nos quais ela é comumente apresentada. Trazendo expressões que demonstram as duas maneiras como tal palavra tem sido utilizada. Além disso Da Matta explica de que forma o entendimento de cultura pode nos ajudar a compreender o que acontece na dinâmica da vida social e explica como a cultura é inerente ao ser humano.

Como dito anteriormente, o significado da palavra cultura vem sido frequentemente confundido, como se cultura fosse algo que algumas pessoas têm, outras não, como se cultura fosse medida pelo nível de escolaridade, leitura, conhecimento de artes, lugares e línguas, ou seja, cultura muitas vezes é vista como sinônimo de sofisticação, onde uma pessoa pouco instruída, mal alfabetizada ou que desconhece sobre arte não tem cultura. Desta forma, podemos notar que cultura neste caso, relaciona-se com inteligência, que pode ser medida, quantizada a partir das ações do indivíduo.

Da Matta evidencia que a cultura vista como medidor de nível de instrução de um indivíduo, leva a segregação, muitas vezes é usada como arma discriminatória, sendo utilizada para classificar pessoas e grupos sociais e até mesmo civilizações inteiras. Nessa perspectiva, a palavra cultura reforça o preconceito sobre determinadas pessoas ou grupos, supervalorizando uns em detrimento de outros.

O mesmo equivoco acontece com outras palavras. Da Matta exemplifica utilizando a palavra personalidade que na verdade se caracteriza por traços que definem os seres humanos e é constantemente confundida com o magnetismo, fascínio pessoal. Nesse contexto, da Matta traz o conceito de cultura como imprescindível para interpretação da vida social.

Para a antropologia, cultura é um conjunto de características que difere grupos, como um mapa que indica como um determinado grupo pensa, se relaciona, como modificam o meio onde estão inseridos e a se mesmo. A cultura é o que nos permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros. Ela é de fundamental importância para que, quem compartilhem desse código, mesmo que com interesses e capacidades distintas, consiga conviver juntas sentindo-se parte de uma totalidade. E o que nos faz seres culturais, é reproduzir e transmitir hábitos e costumes. O homem é um ser cultural por absorver, remontar e transmitir a cultura de geração para geração.

Porém, a cultura não se escolhe simplesmente, é tanto interior quanto exterior ao indivíduo, permitindo integrar indivíduos e o grupo com o ambiente onde vivem. Ou seja, da Matta refere-se ao fato de que a cultura favorece a coletividade, a convivência em grupo. Além disso ele traz a ideia de que o indivíduo não escolhe a sua cultura, ele já nasce inserido numa, e mesmo que passe a conviver com outras, sempre levará resquícios de sua cultura de raiz.

É comum pensar a cultura como algo individual, que é inventado pelas pessoas de acordo com sua criatividade e poder. Porém, no seu trabalho, Da Matta deixa claro que a cultura não é construída pelo indivíduo de acordo com suas necessidades, mas sim algo que consideramos tanto como singular como coletiva, afinal temos e pertencemos a cultura. A cultura está para sociedade como as regras estão para o jogo, ou seja, norteia, direciona, auxilia.

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