A ANTROPOLOGIA CULTURAL
Por: Gabriela Torban • 5/6/2017 • Ensaio • 3.602 Palavras (15 Páginas) • 692 Visualizações
UNICAP
CURSO: PUBLICIDADE E PROPAGANDA
PROFª: MARIANA TRAJANO
MATÉRIA: ANTROPOLOGIA CULTURAL
ALUNA: GABRIELA TORBAN
Para realizar o ensaio a respeito da primeira parte do livro “Aprender Antropologia”, de François Laplatine, escolhi uma experiência que vivi ao passar o texto “O Ritual do Corpo entre o Sonacirema”, do antropólogo estadunidense Horace Minner, para jovens na faixa etária dos 15 a 17 anos, participantes do Movimento Juvenil Habonim Dror, no qual atuei como educadora, com intuito de discutir sobre diferentes sociedades.
E através do texto e da discussão obtida com eles, poder fazer uma análise crítica comparativa com o livro, mais especificamente, com a Pré-história da Antropologia.
Para poder falar da experiência com os jovens e realizar a análise, primeiramente terei que apresentar uma pequena resenha a respeito dos Sonaciremas, mostrando seu modo de vida, seus hábitos, costumes e sua forma de se relacionar.
No final do trabalho, também irei anexar o texto original, para caso seja de interesse a leitura.
“O Ritual do Corpo entre os Sonacirema” aborda o estilo de vida dos Sonaciremas, grupo norte-americano obcecado pela magia e com crenças, em um primeiro contato, pouco usuais. Segundo ele, o cuidado com a saúde e a aparência é uma característica marcante da cultura desse povo e para cuidar de seus corpos, os Sociaremas fazem rituais e cerimônias com tendências masoquistas.
Horace descreve os aspectos cerimoniais dessa tribo. Boa parte do dia dessas pessoas é ocupada por rituais mágicos. Em todas as casas há um santuário, nele há um grande número de poções mágicas e feitiços, que são obtidos por profissionais da área. Neste espaço são praticados rituais secretos e privados. Diariamente os membros da família fazem um breve rito de ablução nas águas sagradas encontradas em tal espaço. No ritual cotidiano do corpo, homens arranham e laceram seus próprios rostos. Mulheres assam suas cabeças em fornos por, em média, trinta minutos.
Outro ponto importante na cultura dos Sonaciremas, é o cuidado com a boca, que é uma preocupação constante para essa sociedade. Para evitar o apodrecimento dos dentes e atrair amigos, os membros são sujeitos a rituais de tortura anualmente. Os “homens-da-boca-sagrada” - especialistas da área - utilizam ferramentas como furadores, sondas e agulhas. Com elas alargam quaisquer buracos que tenha nos dentes e depositam materiais mágicos nos mesmos.
O autor destaca também o templo dos médicos-feiticeiros, o latipsoh. Quando ficam doentes, os nativos procuram este local, em que são realizadas cerimônias extremamente cruéis, que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão, e sobrevivido às cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se ele não fizer outra doação.
Ao terminar de ler o texto em questão para cerca de 40 jovens, de diferentes partes do Brasil, a primeira impressão causada neles, foi uma alteridade, um confronto com o “estranho”, o “não familiar”.
Foram realizadas perguntas do tipo “O que vocês acharam do modo de vida dos Sonaciremas?”, “Já tinha escutado a respeito de alguma sociedade semelhante a esta?”, e as respostas, quase que unanimes, foram julgando os hábitos e costumes vistos, críticas a respeito de como podem gostar tanto de se machucar, ou como conseguem levar a vida da forma que levam. Houve gente falando que deviam ser loucos, ou que era uma sociedade retrógada a nossa e que nunca pertenceriam a um povo assim.
O mais surpreendente foi pedir para que eles pudessem ler o nome Sonacirema ao contrário, se deparando com a palavra AMERICANOS. Ainda fazendo complementos e dizendo que os santuários são os banheiros, os “homens-da-boca-sagrada” são dentistas e o latipsoh o hospital.
Com isso, entrou-se na questão de que as vezes, olhando de uma diferente perspectiva, julgamos e criticamos uma sociedade, ou uma cultura, por achar que é completamente diferente da que vivemos e temos conhecimento, podendo ela ser a nossa própria sociedade, ou alguma com costumes muito semelhantes.
E aí entra a relação com o livro lido na matéria de Antropologia Cultural, em que através dele, é possível ver que esse contato com a alteridade, com o estranho, com o diferente, esteve presente desde os primeiros registros da nossa história.
Na Pré-história da Antropologia, por exemplo, podemos ver o primeiro contato do homem europeu, com a descoberta de novos continentes e seus habitantes, e os questionamentos surgidos ao se deparar com essa cultura tão diferente.
O questionamento inicial se daria à “aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem à humanidade?”. E a partir daí começam a nascer duas ideologias a respeito, em que uma seria a recusa do estranho, afirmando que quem havia sido descoberto não fazia parte da humanidade, e a oura a fascinação pelo estranho, incluindo, aqueles que haviam sido descobertos, aos humanos e considerando que eles poderiam obter uma “salvação” do modo de vida retrógado que levavam.
Até o século XIX, os estereótipos de mau selvagem e bom civilizado ganharam força, com o desejo de expulsão da cultura todos os que não participavam da faixa de humanidade à qual pertencemos e com qual nos identificamos. Os índios, por exemplo, foram julgados por causa de suas crenças religiosas, aparência física, comportamentos alimentares e língua.
Porém em contra partida, haviam também os especialistas que defendiam a ingenuidade dos povos, comentando que os mesmos cometiam, muitas vezes, menos barbáries do que nós mesmos.
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