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A Desigualdade de Gênero

Por:   •  21/9/2023  •  Ensaio  •  6.765 Palavras (28 Páginas)  •  64 Visualizações

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IGUALDADE

DE GÊNERO

Eduardo Floriano Lopes Santos – 2021.2.997.078

Novembro - 2021

Igualdade de Gênero

        Em 1968, no livro Sexo e Gênero, o professor e pesquisador Robert Stoller, utilizou pela primeira vez o conceito de gênero para opor-se ao conceito de sexo (este último significando o conjunto de diferenças anatômicas e biológicas entre homens e mulheres), destacando desta maneira o caráter de construção social das noções de feminino e masculino:

                “ O que determina a identidade e o comportamento masculino ou feminino não é o sexo biológico, mas o fato de se haver vivido, desde o nascimento, as experiências, rituais e costumes atribuídos aos homens e às mulheres; além disto, a alocação e aquisição de uma identidade é mais importante que a carga genética, hormonal e biológica.” (Stoller, 1968).

        A História do Conceito de Gênero foi inicialmente concebida como uma forma de difusão da História das Mulheres, permitindo redefinir seus objetivos no sentido de

                “ ...descobrir a variabilidade e o significado dos papéis de cada sexo em diferentes sociedades e períodos, compreender o que representavam e como funcionavam para manter a ordem social ou promover promover suas mudanças.” (Zemon Davis, 1976).

        Segundo Scott (1986), o gênero não é apenas a construção social da diferença sexual, mas também uma forma de significar as relações de poder entre homens e mulheres.

        Desta forma, tornou-se possível, a partir do conceito de gênero, não apenas prosseguir o estudo da Mulher como ser sexuado, condicionado pelas expectativas da sociedade ao que considera apropriado para seu sexo, mas também começar a realizar o estudo dos homens sob o mesmo escopo. (Seabra, 2009).

As idéias e simbolismos as quais interpretamos com equidade de gênero vêm se transformando e evoluindo ao largo da História da Humanidade; através de uma revisão histórica faz-se o levantamento do surgimento e da apropriação dos conceitos de igualdade e desigualdade de gênero, assim como dos papéis desempenhados pela mulher, do nascimento do patriarcado, das relações de poder, das construções de divisão de tarefas por gênero e das manifestações de igualdade/desigualdade nas sociedades organizadas. Também são resgatados o pensamento e a documentação que evidenciam o papel que a Educação desempenhou no desenvolvimento de uma formação social sexista. (Duarte Cruz, 2016).

Partindo da Pré-História, temos que as pinturas de mãos em negativo, encontradas em centenas de cavernas difundidas em todo o mundo, assinalam que os homens e as mulheres produziam os halos se suas mãos em locais distintos das grutas, sem mesclá-los entre si, denotando uma preocupação com os lugares próprios para homens e para mulheres deixarem suas marcas. (Carletti, 2006).

                “As descobertas das pinturas de mãos têm tomado grande importância, pois colocam em evidências que os rituais dos homens das sociedades primitivas não se misturavam com os das mulheres; ainda que não esteja estabelecida a causa desta separação, pode se identificar que a presença feminina auferia um teor mágico e xamânico nestas organizações sociais.” (Chazine, 2009).

        Em investigações sobre o que denomina “Identidade de Gênero na Pré-História”, Romero (2007)  evidencia a importância do papel feminino neste período; segundo a autora, as mulheres estiveram vinculadas às chamadas atividades mantenedoras, aquelas relacionadas ao preparo do alimento, do aproveitamento da pele dos animais e confecção de peças de vestuário, da preservação das condições de limpeza e higiene, da manutenção da saúde dos membros do grupo, do cuidado com o fogo e da socialização dos indivíduos durante a infância.

        O Patriarcado (vocábulo com origem grega que significa a autoridade exercida pelo pai, pelo homem e que consiste na manifestação e institucionalização do domínio masculino sobre as mulheres e as crianças, com a ampliação deste domínio para a sociedade em geral) e a subsequente construção da sociedade patriarcal remontam à Antiguidade, quando o ser humano deixa de ser nômade e se converte ao sedentarismo, adquirindo conhecimentos de agricultura e se estabelecendo grupamentos familiares; tem início o processo de acumulação de excedentes de produção; as famílias passam a dividir as tarefas cotidianas e as normas implantadas nestas comunidades permitem que os homens desenvolvam atividades externas relacionadas à produção destes excedentes, cabendo às mulheres as tarefas domésticas necessárias à manutenção. (Fontenla, 2008).

        Desta diferenciação sobre quem deve “sair” para buscar o sustento e que deve “ficar” cuidando dos filhos e da casa, se estabelecem os primeiros indícios da criação de uma organização social e política. (Duarte Cruz, 2016).

        Começa a ser imposto um princípio dogmático que pressupunha a debilidade física e intrínseca das mulheres e a correspondente função de protetor e provedor dos homens, portadores de atributos naturais de poder, força e agressividade. (Pintos, 2007)

        Estes conceitos da Antiguidade são transpostos para a Idade Média, e fortemente sedimentados com a institucionalização do Matrimônio, sacramento do Cristianismo que assegura a chancela da Aprovação Divina da união entre homem e mulher; o papel da Igreja como unanimidade e homologadora das relações humanas indica as normas fundamentais de convivência no casamento, detalha práticas, idéias, pensamentos e comportamentos esperados dos fiéis em seu cotidiano, e acaba por repercutir na sociedade medieval a noção da superioridade masculina em aspectos físicos, inteligência e educação:

                “Para que um homem possa contrair matrimônio, este deve conhecer o caráter feminino, através de sinais fisiológicos (saúde frágil, debilidade, timidez, tudo derivado de sua natureza fria) e psicológicos (insegurança, irritabilidade, loquacidade, desconfiança). Através deste conhecimento, se evitará a decepção com a mulher. Estes defeitos próprios da mulher se devem moderar e reconduzir de forma conveniente, para que possam ter efeitos positivos na vida em comum.” (Vives, 1532).

        As mulheres que se contrapunham a estas premissas eram marginalizadas pela sociedade, estigmatizadas e mesmo perseguidas. Conhecidas como bruxas, eram aquelas que não se sujeitavam ao matrimônio, adquiriam conhecimentos em diversos campos (como anatomia, botânica, alquimia, sexualidade, culinária) e desempenhavam atividades importantes na comunidade (parteiras, curandeiras, perfumistas, boticárias, amas de leite, instrumentistas). Por afrontarem a autoridade masculina ao demonstrar profundo saber a respeito de minerais, plantas, animais, resinas, medicações, tratamentos, representavam ameaça ao patriarcado e à ordem natural; isto foi interpretado pelos grupos dominantes da Idade Média como um poder diabólico. (Blazquez, 2011).

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