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A Epistemologia Moderna

Por:   •  11/10/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.041 Palavras (9 Páginas)  •  144 Visualizações

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EPISTEMOLOGIA MODERNA (II)

Alguns homens aceitam a opinião de que há no entendimento certos princípios

inatos; certas noções primárias, caracteres como que impressos na mente humana, que

a alma recebe logo que existe e traz consigo para o mundo. Bastaria, para convencer

um leitor sem preconceitos da falsidade de semelhante hipótese, mostrar

simplesmente (como espero fazer nas outras partes que seguem esta obra) de que

maneira os homens, só com o emprego de suas faculdades naturais, podem atingir

todo o conhecimento que possuem sem a ajuda de qualquer impressão inata, e de

como podem ter certeza sem tais noções ou princípios inatos. Imagino que será fácil

concordar na impertinência que seria supor que são inatas as ideias de cor, tratando-se

de uma criatura à qual Deus dotou de vista e de poder para perceber as cores

diretamente dos objetos externos por meio dos olhos. E não seria menos absurdo

pretender que certas verdades procedam de impressões da natureza ou de certos

caracteres inatos, quando podemos verificar em nós a existência de capacidades

adequadas para atingir as mesmas verdades com a mesma facilidade e segurança que

se tivessem sido originariamente impressas na nossa mente.

(....) Suponhamos que a mente seja, como costuma dizer-se, um papel em

branco, limpo de qualquer escrita, sem nenhuma ideia; como chega então a tê-las?

Donde a mente consegue essa prodigiosa quantidade de ideias que a imaginação

humana, na sua ilimitada atividade, cria com uma variedade quase infinita? Donde

tira todo esse material da razão e do conhecimento? A tudo isso respondo com uma

palavra só: da experiência. Eis o fundamento de todo o nosso saber e donde, em

última análise, todo ele procede. Nossas observações dos objetos sensíveis externos,

ou das atividades internas da nossa mente, que percebemos e sobre as quais nós

mesmos refletimos, são as que aprovisionam nosso entendimento de todos os

materiais de pensar. Estas são as duas fontes donde emanam todas as ideias que

temos ou que podemos naturalmente ter.

(....) A mente, tendo recebido do exterior as ideias de que falamos nos

capítulos anteriores, ao dirigir seu olhar para dentro, sobre si mesma, e ao observar

suas atividades próprias em relação às ideias que já possui, tira de lá outras ideias, que

podem ser objeto de sua contemplação tanto quanto aquelas que recebeu das coisas

exteriores.

(...) Tendo sido a mente, como demonstrei, provida de grande número de

ideias simples transportadas pelos sentidos e descobertas nas coisas externas, ou

mediante reflexão de suas próprias operações, ela observa, igualmente, que certo

número dessas ideias aparece constantemente unido, sendo supostas pertencer a uma

única coisa; e, mostrando-se a conveniência de palavras para apreensões ordinárias,

usadas para maior poder de expedição, são denominadas, tão unidas ao substrato, por

um nome que, por negligência, posteriormente fomos levados a discorrer e a

considerar como uma ideia simples, constituindo, realmente, uma complicação de

várias ideias reunidas; pois, como afirmei, sem poder imaginar de que modo estas

ideias podiam subsistir por si mesmas, nós nos acostumamos a supor um certo

substratum, no qual elas subsistem e do qual resulta, por conseguinte, o que

denominamos substância.

Locke e a tabula rasa

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De sorte que, se alguém se examinasse com respeito à sua noção de substância

pura em geral, descobriria que não possui dela nenhuma outra ideia, excetuando

apenas uma suposição de não saber o que sustenta tais qualidades que são capazes de

ocasionar em nós ideias simples, cujas qualidades são geralmente denominadas

acidentes. (LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano . São Paulo:

Abril Cultural, 1998. pp. 115-188. [OS PENSADORES])

(Da Origem das Ideias)

12. Podemos, pois, dividir aqui todas as percepções da mente em duas classes

ou espécies, as quais se distinguem pelos seus diferentes graus de força ou vivacidade.

As menos fortes ou vivazes são comumente denominadas pensamentos ou ideias. A

outra espécie não tem nome em nossa língua, como em muitas outras, suponho que

por não ser necessário para nenhum fim que não fosse filosófico o incluí-las sob um

termo ou designação geral. Tomemos, pois, uma pequena liberdade e chamemo-las

impressões, usando a palavra num sentido algo diferente do usual. Pelo termo

impressão entendo todas as nossas percepções mais vivazes, quando ouvimos, vemos,

sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. E as impressões distinguem-se

das ideias, que são as impressões menos vivazes das quais temos consciência quando

refletimos

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