A Evolução do Pensamento Geopolítico
Por: MrAnodrac • 9/12/2016 • Monografia • 1.581 Palavras (7 Páginas) • 795 Visualizações
DETERMINISMO, POSSIBILISMO E EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOPOLÍTICO
À luz de um dicionário da língua portuguesa, o termo Geopolítica pode ser referido como o “(…) estudo das relações entre os Estados, suas políticas e as leis da Natureza (de geo + política)” contudo, sendo este apenas um significado da palavra, pouco faz para atribuir uma verdadeira definição do termo.
Por sua vez, a definição Geopolítica, em toda a sua abrangência, é demasiado complexa para ser resumida a um conjunto de palavras, que tendem a refletir as circunstâncias de lugar e período histórico em que o autor da mesma se insere e, muitas vezes, as suas convicções pessoais, políticas e académicas (entre outras).
Não é, contudo, impossível traçar-se uma linha de tempo, desde o nascimento do termo, normalmente atribuído a Rudolf Kjellén (1864 – 1922) até aos dias de hoje. O pensamento geopolítico tem raízes tão antigas como as do Estado, como aliás refere Nogueira (2011) “(…) foi com o nascimento do Estado, alguns milhares de anos antes da nossa era, que o espaço geográfico adquiriu uma dimensão política”, através da inclusão das “soberanias estaduais concorrentes ou cooperantes” nas representações espaciais, para além dos demais fatores geográficos e demográficos próprios da época.
ENQUADRAMENTO
No contexto do pensamento geopolítico, segundo o entender do geógrafo Michel Foucher, é possível distinguir três enquadramentos: a geografia como prática, como representação e como método (Nogueira, 2011).
A geografia como prática observa-se, em grande medida, nos pensamentos e obras de autores como Tucídides, historiador grego que viveu durante o séc. V a.C. e que se refere a determinados locais como sendo fonte de recursos e motivo de disputas entre povos, ao passo que outros, por não possuírem recursos, não são sequer disputados. Heródoto, geógrafo e historiador grego contemporâneo de Tucídides, também concluiu que o povo grego era mais forte e saudável que o povo Persa, muito “devido aos seus hábitos e meio geográfico natural” (Nogueira, 2011).
Aristóteles, outro filósofo grego (séc. IV a.C.), considerava, entre outros assuntos, que a Grécia, pela sua posição centralizada e clima temperado, possuía uma vantagem sobre os povos do Norte ou do Sul e que “a cidade estado ideal devia ser dotada de um bom porto de Mar” (Nogueira, 2011). Outros pensadores surgiram que estabeleceram conceitos teóricos, ainda que rudimentares, para uma perspetiva claramente prática da Geopolítica.
Com o declínio do Império Romano e a entrada da Humanidade numa época de obscuridade, não deixaram de existir alguns trabalhos de pendor geopolítico, ainda que fortemente associados à Religião. Como refere Nogueira (2011) “A relação Homem – Deus era de tal forma importante, que os poucos mapas produzidos na Idade Média centram, geralmente, o Mundo em Jerusalém”. Foi já por volta do século XV, com a ascensão ou, melhor dizendo, com o ressurgimento do pensamento científico que foi possível desenvolver técnicas de representação cartográfica o que, por sua vez, desenvolveu o entendimento daquilo que é o espaço.
Com esse novo entendimento, foi possível perceber o valor que o conhecimento do espaço tem, como fonte de poder, podendo neste campo apontar alguns autores como Jean Bodin (1530 – 1596) que catalogou os diferentes locais onde se inserem as sociedades e como Montesquieu (1689 – 1755), que analisando a “influência dos fatores geográficos sobre os Homens e sobre os sistemas políticos – chegou, assim, à divisão do Mundo e à diferenciação do espaço” (Nogueira, 2011).
Continuando o enquadramento do pensamento geopolítico de Michel Foucher observa-se que foi mais tarde, por volta dos séc. XVIII e XIX, que a geopolítica se estreou no campo da representação, nomeadamente com o aparecimento da geografia popular na Prússia, graças a autores como Humboldt (1769 – 1859) que enfatizou as relações entre Homem/Estado/ambiente natural e Carl Ritter (1779 – 1859) que, inspirado no pensamento darwinista da evolução das espécies, transpôs para a cultura humana uma modalidade de pensamento em tudo semelhante à questão da sobrevivência no meio natural do ser mais apto, ou seja, “para sobreviver, uma cultura ou uma civilização tinham que conquistar espaço, esmagando os elementos mais fracos que com ela competissem” (Nogueira, 2011)
Finalmente, a geopolítica como método, mais característica dos séc. XIX e XX, observa-se nos trabalhos de Friedrich Ratzel (1844 – 1904), Alfred Mahan (1840 – 1914), Halford Mackinder (1861 – 1947) Rudolf Kjellén (1864 – 1922), Vidal de la Blache (1845 – 1918), entre outros. Na sua essência, estes autores consideravam o pensamento geopolítico (embora alguns ainda não usassem esse neologismo) como uma ferramenta capaz de explicar, de uma maneira geral, o status quo de um determinado Estado e quais as possibilidades que este tem para sobreviver ou proliferar, embora as suas teorias pudessem ser completamente opostas, como é o caso de Ratzel e Blache.
DETERMINISMO OU POSSIBILISMO
Foi com Ratzel e Vidal de la Blache que a dicotomia do pensamento geopolítico determinista/possibilista surgiu, digladiando-se os idealizadores e respetivos seguidores por aquele que, na visão destes, verdadeiramente explica a existência e continuidade de sociedades e Estados.
Pode ainda assim verificar-se, pelo descrito nos parágrafos anteriores, que a grande maioria dos pensadores da antiguidade consideravam a relação Homem-Natureza como sendo determinista, na medida em que estes entendiam que a Natureza tinha supremacia sobre a vontade do Homem e, por simpatia, condicionavam a existência, modo de vida e decisões políticas dos povos que se sujeitavam a essas condições.
A visão determinista de Ratzel, surgida no rescaldo do contexto histórico da unificação política e administrativa da Alemanha (1871) , e bem presente em duas das suas obras – Antropogeografia (1882) e Geografia Política (1897) – estabelecia por um lado um nexo de causalidade entre o meio natural e o comportamento humano e por outro analisava a necessidade expansiva dos povos em função da necessidade de manterem ou ampliarem o seu espaço vital, claramente na senda do expansionismo Germânico .
Outros dois autores são dignos de destaque, por seguirem a linha de pensamento de
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