A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA NA TOLERÂNCIA
Por: CarvalhoIV • 22/9/2020 • Trabalho acadêmico • 2.817 Palavras (12 Páginas) • 154 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: TEORIA ANTROPOLÓGICA
PROFESSOR: VALTER SINDER
IVANILDO CARVALHO DOS SANTOS
A importância da antropologia na tolerância
Rio de janeiro
2020
Para muitos, antropologia surge com Lewis Henry Morgan (1818-1881), Edward Burnett Tylor (1832-1917) e James George Frazer (1854-1941), que são considerados pertencentes da chamada “antropologia evolucionista”, embora Celso Castro afirme que não há consenso quanto a isto, e que tampouco podemos resumir a vasta obra destes autores como evolucionistas. Ainda assim, Castro acredita que há credenciais que possam categorizá-los como um dos fundadores da antropologia, e é isto que ele o faz em sua obra “Evolucionismo Cultural”.
Morgan, americano de Nova York, começou os seus estudos em antropologia voltado à questão de parentesco. Tudo começou quando ele conheceu um filho de chefe iroquês, e desde então, começou a estudar sobre a tribo, se tornando, até então, o maior especialista nos Iroqueses. Em seu trabalho onde se destaca o sistema de parentesco, Morgan diz que havia muitas semelhanças entre os sistemas de parentesco dos Iroqueses com outras tribos americanas, o que provaria que havia uma origem comum entre elas. O antropólogo evolucionista colheu muitos dados, fazendo diversas viagens, enviando questionários para diversas missões religiosas, porém com a morte de sua filha, acabou abandonando a pesquisa. No fim de tudo, Morgan chegou à conclusão que existem apenas dois sistemas de parentesco, e que as diferenças são derivadas do desenvolvimento da propriedade. Aqui há um ponto fundamental na importância da economia, por exemplo.
Já o inglês Tylor, após viagens pela américa do norte e central, escreveu um livro chamado Anahuac: or, México, Ancient and Modem, em 1865, onde ele faz observações sobre os nativos destas regiões, focando nas antiguidades do período pré-colombiano. Seis anos depois, Tylor publica a sua principal obra Culture Primitive , onde ele aborda desenvolvimento da mitologia, filosofia, religião, linguagem, arte e costume dos ditos “primitivos”. Inclusive, Tylor foi o primeiro a dar uma definição formal ao termo “cultura”, e muitos por conta disso consideram-no o pai da antropologia cultural. O terceiro da lista, James Frazer, nascido na Escócia, fez um estudo onde afirma que o pensamento do ser humano evoluiu em três fases (magia, religião e ciência) através de comparações entre os mitos e folclores de várias sociedades por ele estudada.
Os três antropólogos surgem com uma ideia que vai na contramão da teoria mais aceita vigente, de que as diferenças entre inúmeras sociedades estavam na raça, ou na biologia. Celso Castro explica que o darwinismo estava muto presente em todas áreas do conhecimento, que pela “revolução darwiniana”, passaram a levar para a filosofia, história e para as humanidades em geral. Isso fez florescer a ideia de diferenças raciais, trazendo, então, o chamado “racialismo científico”. Com a teoria evolucionista, que também tem base em Darwin, a biologia deixou de ser determinante, dando ênfase a uma evolução cultural. Ou seja, todos os homens são iguais, as diferenças estão na cultura. O autor cita uma frase de Morgan para explicar a sua oposição ao determinismo biológico: "tanto possível quanto desejável eliminar considerações de variedades hereditárias, ou raças humanas, e tratar a humanidade como homogênea em natureza, embora situada em diferentes graus de civilização". (apud Celso Castro, 2005). Aqui vemos uma primeira e pequena contribuição da antropologia para à tolerância e um pequeno passo que será dado ao relativismo cultural, que será melhor formulado com o teuto-americano, Franz Boas.
Este segundo passo que será dado por Franz Boas, ironicamente, surge como crítica do que os próprios antropólogos evolucionistas defendiam. A ideia de evolução cultural estaria equivocada, não seria possível descrever uma linha evolutiva pois cada cultura possui a sua própria lógica. Com isso, alemão, então, cria uma nova área na antropologia chamada de “antropologia cultural” ou “antropologia americana”.
Devemos prestar atenção mais minuciosa às tentativas de considerar a vida cultural como evoluindo de formas primitivas para a civilização moderna, seja como uma linha evolutiva única, ou num pequeno número de linhas separadas. Cabe perguntar se, independentemente de raça, tempo e espaço, seria possível reconhecer uma série de estágios de cultura que representam para a humanidade inteira uma sequência histórica, de modo que se pudesse identificar alguns dos estágios como tipos pertencentes a um período antigo e outros como tipos mais recentes. (Boas, A mente do homem primitivo. p.124)
Conforme já enunciado, Morgan faz um estudo sobre parentesco onde tenta-se criar uma linha evolutiva a partir deste. Boas critica essa tese afirmando que não há provas de que há um conjunto de condições específicas que explica na história que uma família tenha tido uma influência dominante, tampouco que haja um motivo para que um tipo de relação tenha evoluído do outro. Ele explica que a atenção às semelhanças dos fenômenos étnicos fez com que estes antropólogos encontrassem linhas de conexão entre diversas culturas. O ideal, então, seria focar nas diferenças.
Tem-se sustentado que a organização da família começou com relações irregulares e mutáveis entre os sexos, que mais tarde mãe e filhos formaram a unidade familiar que permaneceu ligada à dos pais, irmãos e irmãs da mãe que só muito mais tarde se desenvolveu uma forma em que o pai era chefe de família, que ficou ligada aos pais, irmãos e irmãs dele. Se a evolução da cultura tivesse prosseguido numa linha única, as formas mais simples da família estariam associadas aos tipos mais simples de cultura. Mas não é só isso que acontece, pois um estudo comparativo revela a mais irregularidade distribuição. (Boas, A mente do homem primitivo. p.127)
Outra contribuição do autor para a quebra de preconceitos relacionados aos nativos seria a sua crítica ao chamado determinismo geográfico. O autor reconhece que não é difícil ilustrar a grande importância do ambiente geográfico na cultura, ele cita inúmeros exemplos como: a vida econômica que estaria limitada pelos recursos da localidade; a dependência da localização das aldeias e seu tamanho para a quantidade de alimentos; da comunicação que depende dos caminhos ou cursos d’águas disponíveis; entre outros exemplos mais específicos como a casa de neve do esquimó; a choça de cortiça dos índios etc. Enfim, há inúmeros exemplos que o autor cita, porém, todos estes não são os criadores da cultura, “as condições geográficas têm apenas o poder de modificar a cultura. Por si mesmas não são criadoras”. Resumindo, ainda que a localidade geográfica tenha grande importância em impor certos limites na cultura, ela sozinha não determina o tipo da cultura. Boas cita como exemplo o modo de vida dos esquimós pescadores e caçadores e seus tabus a respeito do uso promíscuo do caribu e da foca que impede um aproveitamento melhor do que há em sua região; do chukchee que cria renas; do hotentote pastor etc.
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