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A PSICOLOGIA E SENSO COMUM NA DISCUSSÃO SOBRE MENOR INFRATOR

Por:   •  14/10/2015  •  Projeto de pesquisa  •  2.329 Palavras (10 Páginas)  •  323 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CURSO DE PSICOLOGIA

JÚLIO CÉZAR GONÇALVES

Produção textual referente ao processo de intervenção do Estágio Básico: Conversa transversal entre acadêmicos do Curso de Psicologia e o Curso de Direito sobre a temática do conceito de menor-infrator

BALNEÁRIO CAMBORIÚ

2015

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI 

Centro de Ciências da Saúde 

Curso de Psicologia – 5º Período 

Estágio Básico

Professora: Natália Mueller 

Acadêmico: Júlio Gonçalves

  1.  A Psicologia simplista do dia-a-dia

        Por se tratar de uma área que estuda os seres humanos, a Psicologia ganha cada vez mais importância em nossa sociedade.  Podemos perceber em nosso dia-a-dia a grande quantidade de conselhos e métodos de como devemos trilhar caminhos, geralmente pedregosos. Esses conselhos são fornecidos por amigos e conhecidos, livros, sites de autoajuda, conselhos esses que procuram ajudar a compreender o nosso comportamento e os dos outros. Todos os dias pela televisão, rádio, cinema, internet somos bombardeados por temas relacionados a Psicologia, exames detectores de mentira, experiências extracorpóreas, memória, paternidade e maternidade, abuso sexual infantil, transtornos, crimes hediondos, etc. Nas livrarias encontramos centenas de livros de autoajuda, relacionamentos, dependências e recuperações, todas essas informações com intuito de facilitar nosso dia-a-dia e nossa história de vida (LILIENFELD et al, 2010), porém, parte dessas informações é equivocada, rasa e considerada óbvia por quem as prolifera. Podemos tratar muitas dessas informações como um conjunto de dados errôneos, sendo que muitos estudiosos se utilizam desse discurso para alcançar um fácil reconhecimento se autoproclamando especialistas nos saberes científicos. Essa Psicologia utilizada no cotidiano, pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum, no qual podemos entender como um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia científica (BOCK 2001). Essa natureza fragmentada e inconsistente do senso-comum não costuma ser um grande problema em nosso dia-a-dia, justamente pelo fato de nosso dia-a-dia ser divididos em pequenos problemas diante os contextos específicos que conseguimos resolver, porém isso começa a importar quando utilizamos do senso-comum para resolver problemas que envolvem antecipação ou gerenciamento do comportamento de um grande número de pessoas, em situações que estão distantes de nós no tempo e no espaço (WATTS, 2011). O professor de ciências norte-americano David Hammer (1996) observou que os equívocos científicos possuem quatro propriedades importantes: Eles são estáveis, e com frequência, sustentam vigorosamente certas crenças sobre o mundo; Contradizem evidências bem estabelecidas; influenciam a maneira como as pessoas veem o mundo; devem ser corrigidos para que o verdadeiro conhecimento seja alcançado (LILIENFELD, 2010 apud STOVER & SAUNDERS, 2000). Muitos dos mitos da Psicologia são esforços compreensíveis para dar sentido ao mundo, uma tentativa de explicar aquilo que ainda não podemos explicar, porém se usados de forma descompromissada, como dita anteriormente, se tornam um grande problema para a ciência. Lilienfield, Lynn, Ruscio e Beyerstein reuniram os mitos mais enraizados no cotidiano e lançaram em 2010 um livro intitulado Os 50 maiores mitos populares da Psicologia, explicando, a partir da ciência e de informações precisas, o que de fato é verdadeiro e o que é falso. Existem alguns exemplos de mitopsicologia que os autores abordam que com certeza já ouvimos e talvez já a pronunciamos como um fato irrefutável e imutável, são elas: liberar a raiva ajuda a dissipá-la; pensamento positivo cura câncer; uma bebida, um bêbado; mais velhos, mais tristes; usamos 10% da capacidade cerebral; esses são alguns entre muitos. Normalmente esse tipo de informação “cai como uma luva” e sequer indagamos sua veracidade por justamente ser cômoda, resolutiva e prática. E isso se pode transferir quando se trata a comportamentos antissociais, ou seja, comportamentos aversivos para uma comunidade. Muitas vezes, e não poucas, solucionamos casos de maneira simplista, levando em consideração somente o bem-estar momentâneo e afastamento da sensação aversiva e não avaliamos, olhando para o problema, como ele realmente é, repleto de variáveis, mantido por uma cultura, reproduzido simplesmente por repetição. Questões que abordaremos, no decorrer do processo de intervenção da disciplina de estágio básico, referentes a infância, menor, infração, leis, formulação de conceitos nos levarão do senso comum a produção científica, permearemos a posição defendida pelos alunos do Curso de Direito procurando apresentar uma Psicologia Científica e não somente de inferências incertas e que todos acham que conhecem. Percebemos que é muito fácil defendermos uma posição quando ela nos traz certo conforto, condenamos facilmente baseados em argumentos de senso-comum, tratamos dos assuntos de natureza ética, moral e humana como se fossem problemas individuais e óbvios, colocamos nesses indivíduos a autonomia pela execução de determinados comportamentos, porém será que realmente estamos sendo justos quando julgamos os que se encontram no papel de infratores simplesmente solucionando nosso problema de “satisfação” de forma individual? Não olhamos para as condições ambientais no qual esses indivíduos são expostos durante a vida, não olhamos para eles como organismos modelamos a partir de um processo filogenético, ontogenético e sócio cultural e sim de modo superficial e óbvio conforme nos convém. Sim, tudo é óbvio conforme nos diz Watts (2011), mas desde que você saiba realmente a resposta.

02. A Psicologia e métodos para leitura de fenômenos humanos.

Mesmo sendo uma disciplina tão nova, por volta de 1879 com Willian Wundt, ao mesmo tempo é uma das mais antigas. As especulações sobre a natureza e conduta do ser humano já existem há muitos séculos. Aristóteles, Platão e outros sábios gregos já indagavam sobre muitas questões que os psicólogos hoje se detêm: memória, aprendizagem, motivação, percepção, comportamentos disruptivos, etc (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). A Psicologia, na segunda metade do século XIX era costumeiramente chamada de ciência da mente, e o método utilizado para se estudar era a introspecção. Wundt (1832 – 1920), um dos percursores da Psicologia com a construção do primeiro laboratório experimental em Leipzig, utilizava esse método para investigação. Os indivíduos eram submetidos numa situação padronizada: auto observando-se descreviam a observadores treinados o que sentiam e assim permitiam análise dos processos mentais. Por exemplo: era solicitado a cor de uma maça para um indivíduo, se o observador falasse vermelha o observador treinado estabelecia como normal o processo mental e visual do indivíduo. Por outro lado se o observador dissesse verde, a resposta era considerada errada, pois o indivíduo não soube ver a cor conforme o observador treinado via. O problema estava no observador e não no modo como foi colhida a informação. Existem muitas limitações no método introspectivo: Os dados só podem ser comunicados através da linguagem e muitas vezes o sujeito tem dificuldade de exprimir o que sente por palavras; diversas pessoas descrevem e interpretam de forma diferente no mesmo fenômeno psicológico; fenômenos psicológicos não são compatíveis com a introspecção, pois se está muito emocionado não se consegue analisar a emoção; não se pode aplicar a introspecção nas áreas de psicologia infantil, psicopatologia, psicologia animal; a tomada de consciência de um fenômeno muitas vezes implica na modificação do próprio fenômeno, etc.

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