A Sociedade de Consumo
Por: Paulo Raposeiro • 15/8/2019 • Resenha • 3.734 Palavras (15 Páginas) • 245 Visualizações
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MESTRADO DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS E DESENVOLVIMENTO LOCAL (2012/14)
UNIDADE CURRICULAR: Lazer e Sociedade
ALUNO: Paulo Alexandre da Silva Raposeiro
DOCENTE: Ricardo Melo
RECENSÃO CRÍTICA DE:
Baudrillard, J. (1991). A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70.
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Coimbra, 2013
Neste livro o autor faz uma análise das sociedades contemporâneas, especificamente das ocidentais. Esta análise baseia-se sobretudo no fenómeno do consumo dos objetos. Ele tenta mostrar que o objeto não serve apenas para cumprir as tarefas para o qual foi construido, mas também serve para sustentar uma posição social. O objeto assume a forma de símbolo e de prestígio perante a sociedade.
Esta obra divide-se em quatro partes.
Primeira parte:
A Liturgia Formal do Objeto, que contém:
- o estatuto miraculoso do consumo;
- o mito do cargueiro;
- a vertigem consumida da catástrofe;
- o círculo vicioso do crescimento.
Segunda parte:
Teoria do consumo, que contém:
- A lógica social do consumo;
- Para uma teoria do consumo;
- A personalização ou a menor diferença marginal.
Terceira parte:
“Mass Media”, Sexo e Prazeres, que se divide em:
- A cultura dos “mass media”;
- O drama dos lazeres ou a impossibilidade de perder tempo;
- A anomia da sociedade da abundância.
Conclusão:
- Da Alienação Contemporânea ao fim do pacto com o diabo.
Primeira parte
A liturgia formal do objeto
Neste capítulo começa por ser referido que vivemos atualmente uma intensidade de consumo alucinante, onde as pessoas deixam de viver rodeadas por outras e passam a viver cada vez mais em função dos objetos.
Os objetos surgem como uma espécie de fauna e flora, criada pelo Homem para “colonizar” as sociedades. Hoje em dia existem vários estabelecimentos que evidenciam o excedente, o luxo, a profusão de todo o tipo de objetos, fazendo crer às pessoas que tudo o que existe não é demasiado. As pessoas são incentivadas a consumir não apenas o que necessitam, mas o que a sociedade apela a que elas consumam.
Estas ideias estão bem expressas nos grandes centros comerciais, onde se vai não apenas para fazer compras, mas também para usar o tempo de lazer.
Quando antigamente as pessoas iam dar um passeio pela cidade, detinham-se a observar a paisagem, a falar com os amigos; hoje param para ver o objeto exposto numa montra e falam com o vendedor no sentido de conhecerem as características desse mesmo objeto.
Deixámos de colocar o outro no centro da nossa vida e tempo de lazer, e colocámos lá um objeto qualquer que mais não faz do que “falar” connosco na ato de compra, para depois se calar para sempre ou se fala é para troçar de nós que não temos tempo para nada.
O Estatuto miraculoso do consumo
Nesta parte o autor coloca a questão de o consumo assumir uma função miraculosa na vida das pessoas. Estas adquirem objetos, esperando que eles lhe tragam a felicidade que procuram nas suas vidas.
Para elucidar sobre esta questão é dado um exemplo muito interessante. Diz o autor que os indígenas da Melanésia ficavam maravilhados quando viam um avião a passar no céu. Mas o avião nunca descia até eles, só os “Brancos” conseguiam apanhá-los. Pensavam que a razão estava em que os “Brancos” tinham objetos no solo que atraiam o avião. Assim os indígenas construiram uma espécie de avião, com ramos e lianas, delimitaram um espaço que iluminavam de noite e esperaram pelo avião (que, já agora, nunuca chegou).
Pretende-se com este exemplo, criar a analogia de que o consumo é o avião que carrega a felicidade, mas esta dificilmente aterra quando não temos a nossa estrutura pessoal, comunitária ou societal preparada para albergar tamanho avião.
O mito do cargueiro
Aqui é feita mais uma comparação entre a sociedade atual e os indígenas da Melanésia. Agora fala-se no mito do cargueiro. Neste os “Brancos” vivem na abundância e se eles -melanésios- nada têm é porque os “Brancos” desviam todas as mercadorias que eram destinadas aos indígenas. Virá um dia em que, depois do fracasso da magia dos “Brancos”, os antepassados indígenas virão com uma carga miraculosa e eles deixarão de sentir a necessidade.
Deste modo os povos subdesenvolvidos encaram a ajuda dos povos ocidentais como algo de natural, que desde há muito lhes era devido.
Transportando o mito para a sociedade ocidental contemporânea, conseguimos perceber que as novas gerações serão as herdeiras da sociedade atual e herdarão não só os bens, mas também o direito natural à abundância.
Se no ocidente vivemos desta forma o mito do cargueiro, na Melanésia este encontra-se em declínio. Apesar da abundância se tornar quotidiana e banal, continua a viver-se como se esta fosse um milagre, sendo dispensada por uma instância mitológica benéfica, de que somos os herdeiros legítimos: o progresso, o crescimento…
Mais à frente é referido que o que caracteriza a sociedade de consumo é a universalidade da comunicação de massas, que é recebida sob a mesma forma. A comunicação de massas não nos fornece a realidade, mas a vertgem da realidade, tendo que passar muito rapidamente tudo o que quer e muitas vezes retirado do contexto. Esta retirada do contexto dá azo a diferentes interpretações da mesma informação ou até a manipulação da opinião pública.
Depois o autor define o “lugar do consumo” que, para ele, não é mais do que a vida quotidiana. É referido que a tranquilidade da vida quotidiana é gulosa de acontecimentos e de violência, desde que ela lhe chegue ou seja servida em casa.
As pessoas além de trazerem o objeto e o consumo para as suas vidas, trazem também o que eles representam, garantindo assim uma posição social que transportam para o seu quotidiano. A sociedade de consumo indica-lhes que ao usarem determinado objeto, ficarão mais felizes. É a tal busca milagrosa pela felicidade.
O círculo vicioso do crescimento
Neste sub-capítulo aborda-se a questão de a sociedade de consumo não apresentar apenas um rápido crescimento das despesas individuais. São intensificadas as despesas assumidas por terceiros (principalmente a administração pública) em prol dos particulares, procurando algumas delas reduzir a desigualdade da distribuição de recursos. É anunciado pelo autor que o valor destas despesas chegava aos 20% do PIB em França.
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