A Teoria social e teoria da memória
Por: Juliana Hollweg • 19/6/2018 • Artigo • 1.173 Palavras (5 Páginas) • 263 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA (ICHF)
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E METODOLOGIA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: TEORIA DA MEMÓRIA E TEORIA SOCIAL
PROFESSORA: JOANA D`ARC FERRAZ
NOMES: GUILHERME PIO E JULIANA QUEIRES
- Relação entre memória e produção de esquecimento
Myrian dos Santos, em “Memória coletiva e teoria social”, analisa as teorias dos principais expoentes no estudo da memória, sendo uma fonte para se começar a entender a relação entre memória e a produção de esquecimento,
Segundo Halbwachs, os indivíduos não eram capazes que guardar todas as suas experiências do passado, já que este é construído com base no presente. Estas lembranças se encontram na sociedade, ou seja, nos processos sociais nos quais as memórias são construídas. Ressaltando o caráter social da memória, Halbwachs relega a memória individual a um segundo plano ao condiciona-la completamente à memória social, incluindo a questão da lembrança.
Já Bartlett trabalha a memória numa perspectiva psicossocial, que envolvia um processo adaptativo e de construção do passado, voltado para a busca de sentido e influenciado pelas práticas coletivas. A rememoração por parte do indivíduo está ligada a um processo de percepção, pois o ato de perceber envolve as lembranças passadas. Se ele não tivesse percebido, não teria lembrado, e será a busca pelo significado que marcará esses processos cognitivos.
Bergson irá dividir a memória em dois tipos: a instantânea e a do esforço. A primeira envolve as ações e atividades da vida cotidiana, e a segunda refere-se a um trabalho de recordação de um evento ou imagem passada, capazes de serem localizadas no tempo-espaço, um esforço contra o esquecimento. Ao pensar como as lembranças se mantem, Bergson rejeita as concepções de tempo hegemônicas e apresenta o conceito de durée, uma espécie de tempo que não é definido pelo subjetivo ou pela física, mas atrelado a experiências que ocorrem em momentos específicos da vida. O tempo, então, não pode ser separado dos acontecimentos, da memória.
Entretanto, é Jeanne Gagnebin quem se aprofunda no tema em “Lembrar, escrever, esquecer”, ao analisar a questão do fim da narrativa
tradicional, primeiramente do ponto de vista de Walter Benjamin. De acordo com a autora, o declínio da experiência em sua forma mais pura e forte; podendo agora no máximo ser vivida, acarretou no término das formas tradicionais de narração.
Entre as causas, estão o avanço da ideologia capitalismo e de novos métodos de produção, e as Grandes Guerras, que cujos acontecimentos não podem ser traduzidos por aqueles que os testemunharam, tornando-os mudos. Em resumo, a modernidade, junto com o seu peso e sua superficialidade, empobreceram a experiência e a transmissão de memória, criando o silêncio e, com o devido tempo, a possibilidade; e até mesmo o desejo; do esquecimento.
A fim de evitar tal destino, propõe-se um tipo de memória cujo foco se encontra nos buracos da lembrança, os silenciosos e os esquecidos, aquilo que não é recordado, constituindo uma narração do que é deixado de lado pela história oficial. Trata-se do conceito de rememoração, que, ligado com uma ideia de recuperação, acaba por influenciar o presente.
Logo, ao contrário de comemorar ou sacralizar o passado, a rememoração, em sua tentativa de lutar contra o esquecimento, propõe a assimilação crítica do passado, buscando assim evitar que os mesmos erros se repitam.
- Zona Cinzenta
Primo Levi narra, através de uma construção de um testemunho literário, as barbáries sobre os episódios presenciados e vividos no universo nazifascista a partir de sua experiência em Auschwitz e com a contribuição de analises da própria complexidade que o campo de concentração apresenta. A partir disso, Primo Levi desseca e analisa o contexto ali vivido, identificando diversas figuras dentro da zona cinzenta, não excluindo os alemães e as vitimas que se encontravam ali – onde inclui-se dentro desse contexto.
Para o autor, a zona cinzenta é aquela onde o bem e o mal não são delimitados de maneira clara, sendo então entendidos em meio a uma dicotomia, onde as vitimas podem se encontrar por diversas vezes ao lado de seu malfeitor. Esta situação é subjetiva e não fixa, podendo não estar relacionada diretamente ao individuo. Primo Levi afirma que onde há uma ação autoritário e em prol de poucos contra muitos, o privilegio nasce e se propaga, sendo o Estado muitas vezes conveniente e incentivador da ação.
...