A VELOCIDADE E POLÍTICA - PAUL VIRILIO
Por: Mike Figueiredo • 23/2/2018 • Resenha • 6.533 Palavras (27 Páginas) • 300 Visualizações
VELOCIDADE E POLÍTICA - PAUL VIRILIO
Parte 1: A Revolução Dromocrática
No prefácio:
- Na primeira parte, Virilio procura mostrar como a dinâmica das revoluções modernas se alimenta da enorme energia desencadeada pela transformação do proletariado-operário em proletariado-soldado e do proletariado-soldado em proletariado-operário.
- Isto é, como nas revoluções as massas são produtoras da velocidade necessária para tomar de assalto o poder. No entanto, embora produtoras, as massas não controlam essa velocidade, e são antes massas de manobra nas mãos de uma classe industrial-militar que, esta sim, capitaliza o movimento, e investe-o na ocupação e no controle dos territórios e de tudo o que neles circula.
- As revoluções modernas instauram a ditadura do movimento, põem em prática a ideia política de nações em marcha.
Capítulo 1: Do direito à rua ao direito ao Estado
- “A massa não é um povo, uma sociedade; é uma multidão de passantes” (pág. 19).
O contingente revolucionário só funciona se estiver na rua. Enquanto proletários na fábrica, funciona como substituto técnico da máquina. Na rua, se torna motor da revolução (máquinas de assalto), produtor de velocidade.
- “Quem conquistar a rua também conquistará o Estado!”, Joseph Goebbels (pág. 20).
- Dromomanes: nome dado aos desertores da época do Ancien Régime (monarquia absolutista). Também se refere a quem vaga, os errantes, os que passam.
- Virilio aponta a cidade como “paragem, um ponto sobre a via sinóptica de uma trajetória, antigo talude de fortificação militar, plataforma de vigilância, fronteira ou margem, onde se associam instrumentalmente o olhar e a velocidade de locomoção dos veículos”.
- “Onde há circulação, há aglomeração urbana” (pág. 26).
- Fenômeno migratório para as cidades:
- Formação das cidades europeias em locais com fluxo migratório facilitado (estradas, rios, planícies, campos);
- Fortificação dos entornos das cidades medievais para a defesa econômica e política;
- Estruturação da vida urbana nas cidades e organização do espaço para a circulação de bens (comércio) e de informação.
- O surgimento do modelo medieval de cidades europeias causou fluxo migratório de trabalhadores do campo para esse locais. A chegada do contingente populacional camponês para essas cidades fez as classes que dominavam os poderes militar, econômico e político começarem a se preocupar com a circulação e a fixação dessas pessoas.
- Como animais domesticados, esses migrantes se estabeleceram nos arredores das fortificações, em alojamentos provisórios. A partir dessa configuração que aparece, a força militar é usada então não somente para a segurança contra invasores externos, mas também para o controle do movimento dos migrantes que chegaram às cidades. Eles poderiam causar distúrbios da ordem e na segurança imposta.
- Advento do poderio burguês: a fortaleza comunal assume função de classe (quem está dentro e fora dela) e possibilita o cerco militar e o constante enfrentamento social. O inimigo passa a ser social.
“O poder burguês é militar antes de ser econômico, mas ele se relaciona mais precisamente à permanência oculta do estado de sítio, ao surgimento das praças fortes” (pág. 25). O estado de sítio favorece a permanência dos bens e valores seguros em um local.
- A cidade moderna como herdeira das comunas medievais.
- A cidade moderna como desembarcadouro final da migração das massas. A cidade tem riquezas, organizações técnicas inéditas, universidades, museus, lojas, festas permanentes, conforto, saber e segurança (pág. 22).
- O surgimento das classes antropófagas: a burguesia e a classe militar.
- Definição marxista do capitalismo como “consumidor da via humana e fundador do trabalho morto” (pág. 26);
- Meios de produzir (burguesia) e de destruir aquilo que produz (militar);
- A burguesia é empresária da guerra (origem dos exércitos).
“Está comprovado que a bravura e a indústria que, tomadas separadamente, não seriam suficientes, podem, ao ser reunidas, multiplicar-se mutuamente”, preconiza Lazare Carnot sobre essa divisão do trabalho
- Defesa do modelo das cidades fortificadas: militares é compradora do antigo empregador burguês. “Os interesses do empresário de guerra continuam mesclados aos do capitalismo em esquemas estratégicos permanentes” (pág. 27).
“O triunfo político da revolução burguesa consiste em estender, ao conjunto do território nacional , o estado de sítio da cidade máquina comunal, imóvel no interior de seu talude logístico e de seus alojamentos domésticos” (pág. 28).
- Definição do poder político do Estado como o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. “Num plano mais material, ele é pólis, polícia, isto é, serviço de manutenção do sistema viário” (pág. 28).
- Para discurso político burguês:
- A ordem social é controle de circulação;
- A revolução é engarrafamento, estacionamento ilícito, engavetamento, colisão.
“A passagem da “grande máquina imóvel” ao Estado-máquina, realiza-se sem dificuldade. Política de progresso, de mudança, são palavras vazias se não se enxergar por trás da megalópole elétrica, da cidade que não pára, a silhueta escura da velha fortaleza lutando contra sua inércia e para quem parar significa morrer” (pág. 28).
- Os herdeiros da poliorcética comunal são os sistemas de pedágio rodoviário e os quartéis-generais das forças policiais. “(...) todo esse controle primordial da massa pelos órgãos da defesa urbana” (pág. 29).
- Engenheiro como sacerdote da civilização. São responsáveis pela expansão do talude logístico ao conjunto do território.
“A classe militar não nasce dos estados-maiores inchados do Ancien Régime (...). A única atividade militar que reivindica então uma continuidade no plano das ideias é projeto logístico da fortaleza urbana” (pág. 30).
...