A reconstrução histórica do surgimento e a transformação da sociologia e teorias
Artigo: A reconstrução histórica do surgimento e a transformação da sociologia e teorias. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: suziene • 10/9/2013 • Artigo • 874 Palavras (4 Páginas) • 524 Visualizações
Resumo
O artigo apresenta uma reconstituição histórica da emergência e
transformação das teorias sociológicas que buscam compreender
comportamentos socialmente classificados como “desviantes”. De uma
abordagem inicial comprometida com a moral hegemônica, as ciências
sociais progressivamente colocaram em xeque os valores que
determinavam a classificação de certos comportamentos como
anormais. Assim, a partir da segunda metade do século XX, o desvio
dá lugar às diferenças como categoria de análise de forma a questionar
os valores que servem como critérios para a invenção do Outro em
nossa sociedade.
Palavras-Chave
Desvio Social – Normalização – Ciências Sociais – Diferenças
Abstract
This article presents a historical reconstruction on the creation and
transformation of sociological theories that try to comprehend
behaviors socially classified as deviant. From an initial approach
committed to the hegemonic morals, Social Sciences increasingly
criticized those values that determined the classification of some
behaviors as abnormal ones. Therefore, during the second half of XX
century, deviance gives place to differences as an analytical category.
This new concept allows social scientists to question the values that
serve as criteria to invent the Other in our society.
Key-Words
Social Deviance – Normalization – Social Sciences - Differences
Em fins do século XIX, nas grandes cidades européias e
americanas, autoridades e intelectuais apresentavam um quadro similar
sobre os problemas sociais emergentes. Londres, Paris, Nova York,
R. MISKOLCI
DO DESVIO ÀS DIFERENÇAS
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Chicago, Rio de Janeiro ou São Paulo compartilhavam temores diante
dos dados sobre criminalidade, prostituição, suicídios e, em todas elas,
não demoraram a surgir projetos de saneamento médico e higienização.2
Neste período, predominava uma visão biológica da sociedade e
de seus problemas. A solução de questões sociais e históricas era vista
como uma espécie de profilaxia que responderia à questão: por que
tantos indivíduos caíam no crime, no álcool, prostituíam-se ou
desenvolviam outras formas de comportamento consideradas doentias,
mas cujo tratamento ainda não fora descoberto? A resposta mais comum
era a de que esses indivíduos problemáticos não eram como a maioria. A
solução dos problemas passava pela classificação de cada forma de
anormalidade, ou seja, o enquadramento de cada um em seu desvio.
Se o crime e a prostituição já eram considerados alarmantes, algo
ainda pior se temia diante do crescimento súbito e desorientador do
número de internamentos nos hospícios. Segundo uma tese apresentada
à Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro em 1900, em apenas dez anos
tinha se dado um crescimento de 7849% no número de internamentos.
De 77 entradas no Hospício Nacional em 1889 passou-se a uma média
anual de 612 casos em 1898, ou seja, 12 entradas por semana. Tais
estatísticas ainda eram vistas como uma pálida estimativa já que se
presumia que o número de casos de loucura era muito maior e a
administração do Hospício deixava de atender requisições das
autoridades por falta de acomodações. Esse cenário de patologia social
generalizada se completa com a crônica dos suicídios, prática tornada
endêmica e vista como uma febre que se disseminava pela capital do
Brasil.3
Esse panorama dos problemas e temores sociais de fins do
século retrasado é o ponto de partida necessário para o estudo histórico
da normalidade e do desvio social, pois este par relacional de oposições
não existia anteriormente. A emergência da normalidade e do desvio só
pode ser esclarecida se constatarmos que, ao contrário do que parecia
aos pensadores daquela época, os problemas que os afligiam não eram
novos.
O crime, a prostituição e outros comportamentos similares
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