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A relação entre cultura e educação

Relatório de pesquisa: A relação entre cultura e educação. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  21/10/2013  •  Relatório de pesquisa  •  5.266 Palavras (22 Páginas)  •  396 Visualizações

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Introdução

Escrever algo novo sobre as relações entre cultura e educação é um desafio. O que já se disse sobre esse binômio... Ainda assim, ele parece sempre novo, sempre aí a nos desafiar, com as suas mais de mil e uma faces, com as suas infinitas possibilidades. Isso decorre em parte da própria complexidade e múltiplos sentidos dos dois termos do binômio; uma rápida consulta a algum manual de antropologia ou de pedagogia revelará a notável polissemia dessas duas palavras e até mesmo fortes desacordos entre aqueles que falam delas. E quantas não vêm sendo as suas ressignificações ao longo da história... Tais ressignificações vêm proliferando especialmente nas últimas décadas. Como em nenhum outro momento, parecem tornar-se cada vez mais visíveis as diferenças culturais. Igualmente, mais do que nunca, têm sido freqüentes e fortes tanto os embates sobre a diferença e entre os diferentes, quanto a opressão de alguns sobre os outros, seja na busca da exploração econômica e material, seja nas práticas de dominação e imposição de valores, significados e sistemas simbólicos de um grupo sobre os demais.

Os muitos entendimentos de hoje sobre o que seja cultura,1 sobre o que seja educação e sobre as relações entre ambos se encontram no centro de tais embates. Nesse contexto, o próprio papel atribuído à educação acabou transformando a pedagogia - enquanto campo dos saberes - e a escola - enquanto instituição - em arenas privilegiadas, onde se dão violentos choques teóricos e práticos em torno de infinitas questões culturais. E, como todos sabemos, tais embates envolvem argumentos, ações e estratégias que extravasam largamente o plano puramente intelectual.

Assiste-se atualmente a um crescente interesse pelas questões culturais, seja nas esferas acadêmicas, seja nas esferas políticas ou da vida cotidiana. Em qualquer caso, parece crescer a centralidade da cultura para pensar o mundo. Mas tal centralidade não significa necessariamente tomar a cultura como uma instância epistemologicamente superior às demais instâncias sociais - como a política, a econômica, a educacional; significa, sim, tomá-la como atravessando tudo aquilo que é do social. Assim, assiste-se hoje a uma verdadeira virada cultural, que pode ser resumida como o entendimento de que a cultura é central não porque ocupe um centro, uma posição única e privilegiada, mas porque perpassa tudo o que acontece nas nossas vidas e todas as representações que fazemos desses acontecimentos (Hall, 1997).

Essas são questões da mais alta relevância, tanto no campo acadêmico quanto no campo mais, digamos, "concreto" de nossas práticas sociais. Seria preciso lembrar, por exemplo, que estamos assistindo a uma onda mundial de imposição do American way of life em nível planetário? E lembrar que, mais do que simples assistentes, estamos sendo levados a participar ativa ou passivamente dessa onda? Saibamos ou não e queiramos ou não, estamos enredados nessas questões. E seja como for, é preciso estarmos atentos a elas, discuti-las, problematizá-las, sabermos sobre o que estão (os outros) e estamos (nós) falando. É imprescindível sabermos de onde vieram tais questões e para onde elas podem nos levar. Enfim, à conhecida pergunta nietzschiana "que estamos fazendo de nós mesmos?", proponho que se acrescente "que estão fazendo de nós mesmos?".

Mas a proliferação semântica a que antes aludi é relativamente recente. Faz pouco tempo que o velho binômio parece estar se transformando em um polinômio bastante complexo, com muitas e muitas variáveis, com muitas e muitas incógnitas. Neste texto, pretendo trazer alguma contribuição não apenas para as discussões que estão sendo travadas em torno desse polinômio mas, sobretudo, para as discussões que buscam compreender a proveniência e a emergência2 do conceito moderno de Cultura, bem como alguns comentários sobre os deslocamentos atuais deste conceito, dos quais resultou aquela proliferação. Penso que isso é útil para entender mais refinadamente as dificuldades que surgiram especialmente no campo da educação, a partir da emergência e dos avanços de uma epistemologia multicultural.3 São dificuldades que se colocam justamente quando, em vez de escrevermos cultura e educação, passamos a escrever culturas e educação.

Ao falar em "alguma contribuição", faço três alertas.

O primeiro: aqui, meu objetivo não é propor soluções, nem fazer prescrições, nem tampouco julgar. O que quero é apenas tecer algumas considerações de ordem histórico-genealógica, de modo a mostrar o atrelamento da Pedagogia e da escola moderna à invenção do conceito de Cultura, e o quanto isso pode funcionar como um obstáculo para as transformações educacionais e sociais que hoje pensamos ser necessárias. Assim, este texto tem um cunho analítico e, talvez, descritivo; quem nele quiser encontrar soluções práticas para as nossas dificuldades no cruzamento da educação com a Cultura, sairá frustrado... Meu objetivo aqui não é apontar "o que podemos fazer para tornar o futuro melhor", mas tão-somente propor uma problematização do presente a partir de uma descrição de como chegamos até aqui, de como se constituiu um determinado estado de coisas.

E isso me leva ao segundo alerta: não considero, absolutamente, irrelevantes as discussões que muitos vêm travando sobre "o que podemos fazer para tornar o futuro melhor". Eu mesmo tenho, na medida das minhas possibilidades, tentado trabalhar nesse sentido. Aliás, a Pedagogia moderna parece não poder se esquivar do compromisso de combinar e conciliar o passado com o futuro.

Por fim, o terceiro alerta; e este agora parte dos dois anteriores para, justamente, se contrapor ao primeiro deles e, de certa forma, nos conciliar com o segundo. Mesmo que neste texto o meu objetivo não seja apontar soluções, é preciso reconhecer que sabendo - mesmo que minimamente - como chegamos a um determinado estado de coisas, fica muito mais fácil desconstruir aquilo que nos desagrada nesse estado de coisas. A desnaturalização dos fenômenos sociais - ou seja, tomá-los não como algo desde sempre dado, mas como algo historicamente construído - é um primeiro e necessário passo para intervir nesses fenômenos. Saber como chegamos a ser o que somos é condição absolutamente necessária, ainda que insuficiente, para resistir, para desarmar, reverter, subverter o que somos e o que fazemos. Talvez, então, ressoem no fundo deste texto uma ou outra possibilidade para nossa ação como professores e professoras. E se for mesmo assim, que isso sirva de algum consolo para os que aqui buscam

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