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ASPECTOS CULTURAIS, RELIGIOSOS E POLÍTICOS NA SOCIEDADE DO BRASIL OITOCENTISTA

Por:   •  18/4/2016  •  Resenha  •  2.379 Palavras (10 Páginas)  •  857 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DISCENTE: DECIVALDO BARBOSA DE QUEIROZ JUNIOR

DOCENTE: SHARYSE AMARAL         C. CURRICULAR: BRASIL IMPÉRIO

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ASPECTOS CULTURAIS, RELIGIOSOS E POLÍTICOS NA SOCIEDADE DO BRASIL OITOCENTISTA

FEIRA DE SANTANA, 10 DE JULHO DE 2013

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DISCENTE: DECIVALDO BARBOSA DE QUEIROZ JUNIOR

DOCENTE: SHARYSE AMARAL         C. CURRICULAR: BRASIL IMPÉRIO

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ASPECTOS CULTURAIS, RELIGIOSOS E POLÍTICOS NA SOCIEDADE DO BRASIL OITOCENTISTA

        O cenário brasileiro do século XIX, é fortemente marcado pela heterogeneidade, tanto no que diz respeito à sociedade que o compõe, quanto as manifestações culturais dessas massas. Tomando este ultimo aspecto, será proposta nesse texto, uma reflexão sobre a diversidade cultural da sociedade do Estado Imperial Brasileiro. Serão observados os cultos e festividades da sociedade brasileira, a partir de discussões sobre as relações entre as classes e raças contemporâneas ao contexto.

        Tomemos como ponto de partida por tanto, a discussão sobre as festividades religiosas. De inicio, é relevante citar que essas festas, ao mesmo tempo que formavam parte da identidade cultural da sociedade oitocentista, foram também o palco de diversas disputas, religiosas, políticas e ideológicas. Grande parte da massa integrante desses eventos, era composta de escravos e negros libertos,  que também realizavam seus cultos e festejos, baseando-se em suas crenças e em seus santos. Em choque a esses movimentos, tinha-se as “classes brancas”, e as elites, que junto a política e a Igreja, tentaram repetidas vezes sufocar essas manifestações, mas a resistência da massa negra mostrava-se firme, e gradativamente busca seu espaço de legitimação social.

        Outro aspecto a se ressaltar, é as que festas realizadas naquele período, além de sua função folclórica e cultural, proporcionavam a diluição das classes e raças em um mesmo espaço. Os festejos eram momentos em que concentravam-se pessoas de todas as classes e raças, desde as elites imperiais, aos escravos e libertos. Estes momentos também serviam como veículo político de comunicação, muitas vezes úteis a sociedade, outras vezes um cenário de acontecimentos indesejáveis , onde sujeitos sociais nem sempre valorizados comunicavam-se e expressavam seus interesses sociais e políticos, seus direitos e patrimônios.(GINBERG, Keila e SALLES, Ricardo.  2009, p. 238). Estas festas, passaram por tanto a ser um incomodo aos interesses políticos, onde muitos intelectuais e autoridades achavam que tais eventos não deveriam perdurar nos próximos séculos (GINBERG, Keila e SALLES, Ricardo.  2009).

Em se tratando dos festejos de origem cultural africana, eram várias as formas de cerceamento.  As primeiras delas estavam na prática de licenciamento dos festejos onde as Câmaras de Vereadores, criadora e gestora do mecanismo, cobrava dos integrantes dos festejos, determinadas posturas e comportamentos afim de manter a ordem social. Esta investida institucional teve força e legitimação, graças a sua união com o policiamento, que cobriria a função vigilante e se necessário, repressiva. A presença da milícia nesse contexto, também se deu pelo receio das minorias em possíveis rebeliões negras. Em um país recém liberto politicamente, a sedução pela abolição da escravatura aflorava o imaginário social, em especial, o imaginário das massas negras.  Esse clima de tensão, levara então o governo imperial  a fiscalizar e controlar qualquer festejo  composto predominantemente pela população negra. Tratava-se por tanto, de um alerta sobre os “ajuntamentos de pretos”, e sobre qualquer costume selvagem¹ que prejudicasse a ordem. A indecência e a licenciosidade eram os argumentos civilizados para justificar o policiamento e as repressões. As irmandades negras (...) viram muitas de suas atividades cotidianas perturbadas pelo esforço em eliminar tudo que parece bárbaros aos olhos dos reformadores.” (GINBERG, Keila e SALLES, Ricardo.  2009, p. 242). As Congadas, uma das principais festas culturais de matriz africana, era um exemplo de controle, onde para que fosse realizada, era necessário o licenciamento, seguido de uma série de censuras e limitações.

É prudente ressaltar, eu por traz de todo esse discurso de ordem social e urbana, posto como justificativa às perseguições para com os batuques e folias², existia uma ideologia etnocêntrica e higienista, bastante presente no evolucionismo que nesse contexto mantinha-se em seu auge produtivo³, sendo (se não) a mais forte corrente do pensamento antropológico da época. Contextualizando ao Brasil, um dos grandes nomes que destacou-se por suas discussões sobre a cultura e o comportamento dos negros, fora o medico e higienista Nina Rodrigues. Para Nina, as manifestações culturais negras no Brasil foram fruto da “sobrevivência”da cultura africana. E nesse contexto Histórico o termo “sobrevivência”, nos remete a pensarmos em seu conceito atribuído pelo Antropólogo Edward Tylor, no qual ele trata-o como os processos, costumes, opiniões, e assim por diante, que, por força do hábito, continuaram a existir num novo estado de sociedade diferente daquele no qual tiveram sua origem, e então permanecem como provas e exemplos de uma condição mais antiga de cultura que evoluiu em uma mais recente4. As discussões e Nina Rodrigues, alimentaram por um longo tempo o olhar pejorativo preconceituoso das sociedades brancas sobre as negras.

Essa onda de repressões e perseguições por parte das autoridades, e de resistências por parte das camadas negras, não limitara-se apenas as principais cidades brasileiras, muito menos ficara limitada a um problema do Rio de Janeiro. Essas historias de conflitos, ocorriam em outras partes do Brasil, como exemplo cito as manifestações de candomblé ocorridas na cidade de Cachoeira no recôncavo baiano, onde Edimar Ferreira5 em seu livro, O Poder dos Candomblés, narra e discute os conflitos, repressões e resistências vividos pelas populações negras para que pudessem ter liberdade em suas manifestações.

Em meio a tantos obstáculos, repressões e perseguições, era notável a resistência social. E os motivos quedavam força a estas camadas, não limitavam-se apenas às questões de origem étnica e de identidade cultural, como já dito anteriormente, as festas na condição de um espaço compartilhado por todas as classes e raças, era também o espaço em que estes reprimidos teriam a oportunidade de se relacionar com o Estado, (...)exigindo seus direitos, e inserindo-se numa nação que era definida, pouco a pouco, por seus contornos festivos e, evidentemente, políticos.(GINBERG, Keila e SALLES, Ricardo.  2009, p. 264).

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