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Antropologia Visual

Por:   •  24/4/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.073 Palavras (5 Páginas)  •  269 Visualizações

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Este trabalho tem por base a reflexão sobre o filme Nanook of the North (1922) de Robert J. Flaherty (1884-1951) considerando: a relação que este documentário etnográfico possibilita entre a antropologia e o cinema; a rutura que B. Malinowski promoveu com a prática antropológica ocidental ao integrar-se por longo tempo junto do seu objeto de estudo; e a interação que se estabelece entre quem observa e quem é observado.

Na sua atividade profissional de engenheiro de minas, Flaherty descobre as “imagens em movimento” e o povo esquimó Itiumuits, com quem estabelece relações próximas. A luta constante deste povo contra as forças agrestes da natureza e contra o animal, sua única fonte de alimento, em prol da sobrevivência, promovem em Robert Flaherty um sentimento de admiração e respeito por eles. Determinado a mostrar aos seus contemporâneos a forma de vida original desse povo, com uma cultura ainda não contaminada pelo Homem ocidental, vai superando todas as adversidades, desde a perda de um filme, até à realização final do documentário, que se concentrou numa só família esquimó, a de Allakariallak (Nannok). Este documentário marca de forma pioneira o início da relação entre o cinema e a antropologia; assim nasce o filme etnográfico, que se afasta dos “diários de viagens” (Ribeiro, 2004).

François Laplantine considera que “a etnografia propriamente dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa.” (2003, p.57).

O modo de realizar Nannok foi ao encontro do método utilizado por Bronislaw Malinowski (1884-1942), considerado como o “fundador da modalidade científica moderna da prática antropológica” (Santos, 2002, p.112), que também em 1922 publica a obra Os Argonautas do Pacífico Ocidental, após longas estadias nas ilhas Trobriand. Ambos, Flaherty e Malinowski, produzem trabalhos que se centram na “linguagem e no discurso – a escrita em antropologia e a linguagem cinematográfica” (Ribeiro, in Ribeiro e Bairon, 2007, p.30). Dessa forma, promovem o contacto direto (permanecem durante um longo tempo junto daqueles que pretendem estudar): criam “laços de amizade ou confiança”; participam na vida das pessoas para compreender a sociedade pelo seu interior; e observam-nas “minuciosamente” procurando a sua “colaboração estreita” (Ribeiro, 2004). Armindo dos Santos refere que para Malinowski, “viver a mesma vida que os naturais de um local” é uma “condição absolutamente necessária à investigação antropológica”, o que permite ao investigador, adquirir uma “autoridade científica” própria pelo facto de “conhecer intimamente o local de pesquisa” (2002, pp.112-113).

Para a realização de Nanook of the North, Flaherty cumpre três postulados: a) a permanência “durante 15 meses em condições climatéricas difíceis” e com “temperaturas que rondavam os 55º negativos” junto do povo Itiumuits; b) cumpre a sua ideia de filmar a realidade de um povo, ainda intocado pelo progresso; e c) partilha com eles a realização do filme (são os primeiros espetadores da sua própria realidade) - filma, exibe-lhes o filme, eles avaliam e emitem uma opinião (Ribeiro, 2004). Flaherty dá desta forma os primeiros passos da observação participante descobrindo, tal como Malinowski, todas as “potencialidades” de aquisição de conhecimentos, decorrentes da proximidade com o seu objeto de estudo (Ribeiro, 2004). Neste início do século XX, o antropólogo já não é um mero angariador de dados para o cientista da metrópole, mas é, ele próprio, parte integrante da comunidade que pretende estudar (Laplantine, 2003, p.57).

Em Nanook of the North, dão-se os primeiros passos para uma aliança entre o cinema e a antropologia, que fazem caminhos paralelos. O filme etnográfico antropológico, que partiu do cinema documental, permite recolher imagens, cumprindo assim a primeira função da antropologia que “foi (e é) documentar”, registando um “acontecimento observável ou verificável” (Ribeiro, 2005, p.621), Funciona como um prolongamento da mera recolha de objetos para museus, arquivos e colecionadores europeus; e a antropologia, através do cinema, mostra a “existência dos outros mas também da alteridade” ao grande público do mundo civilizado (Shohat & Stam, 2002, p.122 e 125, in Ribeiro, 2005, p.621).

Margaret Mead, citada por Ribeiro (2005, pp.622), designa de Antropologia Visual a disciplina que se ocupa de estudar e “preservar documentos” sobre as diferentes culturas humanas através da imagem, na área da fotografia e do cinema. Se no início, o filme etnográfico era mudo e se ocupava em estudar a “vida quotidiana de povos exóticos sem fala”, nos dias de hoje, a disciplina cresceu com as novas tecnologias de som e imagem, com realce para as potencialidades do digital. Tem como objetivos, em primeiro lugar utilizar essas tecnologias “na realização do trabalho de campo”; em segundo lugar usar as tecnologias na “apresentação dos resultados de pesquisa”; e finalmente centra-se na “análise dos filmes”. Cumpre assim a meta de adquirir e transmitir conhecimento sobre a sociedade e a cultura, mas também vai expandindo as “suas áreas de reflexão” (Ribeiro, in Ribeiro e Bairon, 2007, pp.24-25).

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