Análise do discurso: gêneros, comunicação e sociedade
Pesquisas Acadêmicas: Análise do discurso: gêneros, comunicação e sociedade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: eversonfrei • 22/9/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 4.728 Palavras (19 Páginas) • 319 Visualizações
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O DISCURSO POLÍTICO1
PATRICK CHARAUDEAU*
UNIVERSIDADE DE PARIS XIII
INTRODUÇÃO
O fenômeno político é complexo. Como disse Claude Le Fort, ele
resulta de um conjunto de fatos que pertencem a ordens diferentes,
mas que ao mesmo tempo se cruzam constantemente:
- fatos políticos, como atos e decisões que levantam a questão da
autoridade e da legitimidade dos atores sociais;
- fatos sociais, como a organização das relações sociais,
levantando a questão do lugar e das relações que se instauram
entre as elites e as massas;
- fatos jurídicos, como o quadro que regula as condutas,
levantando a questão da ação legisladora;
- fatos morais, como um espaço de pensamento sobre os sistemas
de valores, levantando a questão da idealidade dos regimes
de governo para o bem dos povos.
1 Tradução de Wander Emediato.
* Esse texto é a retomada de um artigo enviado ao 9° Colóquio de Pragmática de Genebra.
O texto inicial, tendo excedido o número de signos requeridos para sua publicação, teve de
ser reduzido, o que é sempre um trabalho frustrante. Meu propósito era o de mostrar como
a problemática da ação deve ser deslocada para um problemática do poder e, para tanto,
eu o ilustrava dando como exemplo categorias de palavras no discurso político. É essa
parte que foi suprimida, além de uma reorganização de autoridade/legitimidade invertendo
a apresentação.
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ANÁLISE DO DISCURSO: GÊNEROS, COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE
Isso explica porque, no que diz respeito a sua análise, o fenômeno
político é objeto de estudo de diferentes disciplinas: as Ciências
Políticas (fatos políticos), a Sociologia (fatos sociais), o Direito
(fatos jurídicos), a Filosofia política (fatos morais). Isso mostra
também que não há domínio reservado, exclusivo, para a análise
do fenômeno político, como alguns poderiam pretender. O que é
certo é que, dado o cruzamento dessas dimensões, impõe-se uma
interdisciplinaridade.
E o discurso, onde se situa? Ele atravessa todas essas dimensões
do fenômeno político. Isso parece evidente para as dimensões
moral e jurídica (a definição dos valores e das leis através e pela
linguagem), mas também para as dimensões social e acional.
É o que eu gostaria de mostrar agora. Não seria possível tratar
aqui do conjunto de questões que resulta da relação entre
linguagem e ação no domínio político. Eu buscarei mostrar como
a linguagem se junta à ação no discurso político e qual incidência
isso tem para as diferentes estratégias discursivas que se
desenvolvem nesse campo.
LINGUAGEM, AÇÃO E PODER
Contrariamente a uma idéia que circula no imaginário social e
que opõe a palavra à ação (seja na dissimulação, seja na eficácia),
partirei da hipótese de que o discurso político (bem como todo
tipo de discurso) não tem sentido fora da ação, e que a ação busca,
para o sujeito político (mas também para todo sujeito), o exercício
de um poder. Em seu livro A condição do homem moderno a filósofa
Hanna Arendt diz que uma ação silenciosa não seria mais ação
porque não haveria mais ator, e o ator, o fazedor de atos, só é
possível se ele é ao mesmo tempo um emissor de palavras.2
2 Arendt H., La condition de l’homme moderne, Calman-Lévy, Paris, 1961 et 1983, coll.
Agora, p.235.
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O DISCURSO POLÍTICO... PATRICK CHARAUDEAU
1. A RELAÇÃO LINGUAGEM-AÇÃO EM GERAL
Discurso e ação são dois componentes da troca social que, ao
mesmo tempo, têm uma autonomia própria e se encontram em
uma relação de interdependência recíproca, mas não simétrica.
Todo ato de linguagem:
- emana de um sujeito,
- esse sujeito só se define em sua relação com o outro, segundo
um princípio de alteridade. Ele precisa do outro para existir
(sem a existência do outro, não há consciência de si);
- trata-se de um sujeito que, em sua relação com o outro, não
pára de remeter esse outro a si mesmo, segundo um princípio
de influência, para que esse outro pense, diga ou faça segundo
sua própria intenção;
- mas é um sujeito que se confronta com o outro, pois esse
outro tem seu próprio projeto de influência. Os dois são assim
levados
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