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Bruno Garschagen entrevista Olavo de Carvalho

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Por:   •  14/4/2014  •  Artigo  •  4.628 Palavras (19 Páginas)  •  304 Visualizações

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Ser conservador é não ser jamais o portador de um futuro radiante"

Bruno Garschagen entrevista Olavo de Carvalho

Bruno Garschagen, janeiro de 2008

Em 2007, quando comecei a colaborar com a revista Atlântico, de Lisboa, fiz uma lista de pessoas do Brasil que eu gostaria de apresentar aos portugueses leitores da revista. Era uma forma de restabelecer uma aproximação cultural entre os dois países que não se limitasse à esfera diplomática e governamental.

O primeiro entrevistado foi Diogo Mainardi. O segundo, Reinaldo Azevedo. O terceiro, Olavo de Carvalho, cuja conversa, feita por e-mail, reproduzo hoje integralmente. Por questões de espaço, a revista publicou uma parte pequena, embora substancial, da entrevista (o quarto entrevistado foi Nelson Ascher). Antes, porém, algumas considerações.

Considero Olavo um dos grandes responsáveis por reabrir na imprensa e na vida intelectual um espaço de debate que no Brasil já era tido como morto, enterrado, goodbye, so long, farewell. Foi nos anos de 1990 que o filósofo brasileiro inaugurou uma nova fase na filosofia e na discussão político-cultural em Terras de Vera Cruz.

Sua faceta notavelmente provocadora é apenas uma das pontas de um trabalho criativo de pesquisa e reflexão que não vejo similar no âmbito do debate público. Ao lançar obras filosóficas da envergadura de Aristóteles em nova perspectiva e O Jardim das Aflições. De Epicuro à Ressurreição de César, entre outras, imprimiu no pensamento filosófico brasileiro um rumo completamente diverso da dominação doutrinária impingida pelos autoproclamados filósofos que eram (e são), apenas, professores universitários ligados à esquerda, de forma consciente ou não. No Brasil, a revolução gramsciana foi tão bem executada na educação, artes e meios de comunicação que a maior parte da população assimilou o espírito degenerado do esquerdismo sem sequer saber que fora estrategicamente convertida em inocente útil da causa.

Mediante aulas, cursos e divulgação de idéias pelos jornais, revistas, site e talkradio (www.olavodecarvalho.org), Olavo segue com seu trabalho abnegado de construir um pensamento original e tentar formar uma elite intelectual. Uma rápida googlada dá uma idéia, embora pálida, do efeito explosivo que esse trabalho vem provocando desde a década de 1990. Aos 60 anos, o filósofo mora com a família desde 2005 em Richmond, Estados Unidos, onde desenvolve seus estudos, principalmente, sobre a mente revolucionária e a paralaxe cognitiva, e trabalha como colunista do Diário do Commércio (SP) e Jornal do Brasil.

Olavo aceitou gentilmente responder algumas perguntas para a revista Atlântico, respostas essas que divido com vocês, não sem antes fazer um agradecimento especial à Roxane Andrade, mulher do filósofo, pessoa extraordinária e gentil que tenho a honra de ter como amiga. À entrevista:

O que é e há quanto tempo, Olavo, você desenvolve os estudos sobre a mentalidade revolucionária?

É uma longa história. Esse estudo surgiu da confluência mais ou menos acidental de duas investigações independentes que eu vinha desenvolvendo desde os anos 80. A primeira diz respeito às definições de direita e esquerda. Por um lado, havia uma tendência, na mídia e nos debates públicos em geral, de minimizar ou até negar explicitamente a diferença entre direita e esquerda. Essa tendência tornou-se ainda mais forte depois da queda da URSS. Por outro lado, a esquerda assumia cada vez mais orgulhosamente sua identidade de esquerda, ao mesmo tempo em que a sua influência política se tornava cada vez mais dominante. A direita, por seu lado, se encolhia numa timidez abjeta, negando sua própria existência, escondendo-se sob o rótulo de "centro" e copiando cada vez mais o vocabulário e a forma mentis da esquerda. Era claro que aí havia um problema, principalmente porque os mais obstinados negadores da diferença entre esquerda e direita eram provenientes da direita. O problema colocava-se portanto em dois níveis. Primeiro, o empenho de dissolver as diferenças entre dois discursos ideológicos não impedia que pelo menos uma das forças políticas correspondentes continuasse existindo historicamente como força atuante e perfeitamente identificável. Segundo: se a negação da diferença tencionava esvaziar a esquerda, diluindo a força atrativa do comunismo num vago e inofensivo "progressismo", foi a própria direita que por meio desse artifício acabou se tornando vaga e inofensiva. Se era assim, era claro que havia um desnível entre a discussão pública e as forças políticas reais por baixo dela. A pergunta que surgia era: Em que consistem a direita e a esquerda como forças históricas objetivas, para além de seus respectivos discursos de autodefinição ideológica? Logo tornou-se claro que era impossível definir direita e esquerda em função de seus objetivos proclamados, que não só eram mutáveis, mas intercambiáveis.

E o que fez para avançar na investigação?

A idéia que me ocorreu então foi atacar o problema num nível mais profundo, buscando diferenças estruturais de percepção da realidade, das quais os sucessivos discursos historicamente registrados como de direita e esquerda pudessem se desenvolver com toda a sua variedade interna alucinante, sem prejuízo das estruturas básicas. Se eu conseguisse descobrir essas duas estruturas permanentes, a direita e a esquerda estariam delineadas por diferenças objetivas para muito além do horizonte de consciência dos indivíduos e organizações que personificavam essas correntes. Descobri várias dessas diferenças. A principal é a diferença na percepção do tempo histórico. A esquerda – toda a esquerda, sem exceção – enxerga o tempo histórico às avessas: supõe um futuro hipotético e o toma como premissa fundante da compreensão do passado. Em seguida, usa essa inversão como princípio legitimador das suas ações no presente. Como o futuro hipotético permanece sempre futuro, e por isso mesmo sempre hipotético, toda certeza alegada pelo movimento esquerdista num dado momento pode ser mudada ou invertida no momento seguinte, sem prejuízo, seja da continuidade do movimento, seja do sentimento de coerência por baixo das mais alucinantes incoerências.

Somando a isso a descoberta de Jules Monnerot de que a cada geração é a esquerda quem aponta e delimita a direita, nomeando como tal aqueles que lhe resistem, a direita aparecia portanto como o conjunto daqueles que, por mil motivos variados, resistem à inversão

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