Cartona
Trabalho Universitário: Cartona. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: andreiaasf • 21/3/2015 • 5.079 Palavras (21 Páginas) • 329 Visualizações
Introdução
A câmera fotográfica apontava diretamente para eles. Ela bem que podia estar ali para registrar o momento, afinal, podia-se dizer que aquele era um momento histórico. Mas não era uma câmera de verdade. Ao menos, não funcionava mais como uma câmera de verdade. Estava ali artisticamente colocada naquele canto para decorar a sala de reuniões.A câmera foi trazida para a empresa por Ricardo Augusto Monegaglia, em 1977. Ela havia pertencido a um fotógrafo “lambe-lambe” dos anos 50, que tirava fotos dos paulistanos na Praça da República. Ricardo resolveu trazê-la para a empresa porque, além de se tratar de uma peca de antiguidade com valor histórico, ela seria um excelente símbolo do que representava sua empresa – um instrumento de “captura” das emoções. Isso mesmo, sua empresa, assim como aquela câmera, teria a missão de “guardar” emoções. O que não se sabia ao certo é se quando Ricardo a colocou ali, escolheu sua posição com a intenção consciente de apontá-la para a mesa de reuniões, como que desejando que ela “capturasse” os episódios mais importantes da empresa, vividos ali naquela sala ou aquilo era uma simples coincidência. Esse detalhe jamais seria revelado, uma vez que não havia mais como perguntar isso a Ricardo. Infelizmente ele estava morto. Ricardo Monegaglia que havia comandado a empresa ao longo de 30 anos, havia falecido repentinamente num acidente de carro. Agora, o que todos se perguntavam – funcionários, fornecedores, clientes e concorrentes – era o que seria da empresa. Naquela manhã, uma terça-feira de fevereiro de 1997, no dia seguinte ao enterro de seu pai, Ricardo Filho, de 28 anos, Rodolpho de 27 anos e Rodrigo de 26, estavam reunidos na sala de reuniões sob a mira daquela velha câmera fotográfica que, infelizmente, não poderia registrar aquele que era sim um momento histórico. Naquela reunião seria decidido o destino da Cartona. Não foi difícil para os irmãos chegarem a um consenso. Nem chegou a passar pela cabeça de nenhum deles alguma dúvida quanto ao caminho que tomariam. A Cartona continuaria sua missão. Continuaria a “guardar” emoções. Continuaria a “guardar” as emoções da família Monegaglia, sob a gestão da terceira geração, para que seus clientes pudessem continuar a “guardar” suas próprias emoções.
A história da Cartona
A história da empresa Cartona Cartão Photo Nacional Ltda. se confunde com a própria história da fotografia no Brasil. Inventada na segunda metade do século 19, a pequena caixa de madeira, capaz de registrar e reproduzir imagens, permitiu que o homem conquistasse um novo passo rumo à eternidade, registrando de forma indelével e permanente tudo o que parecia ser importante no mundo: retrato de pessoas, paisagens, monumentos, sítios urbanos e acontecimentos, impondo uma nova visão de mundo, cujo conteúdo elevado de informações precisas e realistas possibilitou uma democratização do saber. Foi em 19 de agosto de 1839 que o físico Arago deu a conhecer oficialmente, na Academia das Ciências, em Paris, a invenção da fotografia, creditada aos franceses Nicéphore Niepce (1765-1844) e Louis Mande Daguerre (1781-1851). Vale destacar que alguns anos antes, em 1832, o francês radicado no Brasil, Hércules Romuald Florence (1804-1879) descobriu, no interior de São Paulo, um processo de gravação através da luz, que batizou de Photografie, mas que só foi oficialmente reconhecido 140 anos depois, a partir da publicação do livro do jornalista e professor Boris Kossoy, “1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil”. Independentemente das controvérsias sobre a verdadeira autoria da invenção da máquina fotográfica, o fato é que ela foi oficialmente apresentada no Brasil em 1840, no Rio de Janeiro. Nessa época, o Brasil, afastado geograficamente das grandes metrópoles europeias, que passavam por profundas revoluções culturais e intelectuais, recebia as novidades de forma muito aberta, e a fotografia tornou-se moda num prazo bem curto de tempo. A sociedade brasileira do período do Império tratou de usufruir a nova técnica, passando a fotografar e registrar todas as imagens possíveis. Em especial, D Pedro II se interessou profundamente pela fotografia e tornou-se praticante e colecionador da nova arte, em função do que, trouxe para o Brasil os melhores fotógrafos da Europa, patrocinou grandes exposições, promovendo a arte fotográfica brasileira e difundindo a nova técnica por todo o Brasil. Os profissionais liberais da época, grandes comerciantes e outras pessoas de uma situação financeira abastada, passaram a se dedicar à fotografia em suas horas vagas. Para essa nova classe urbana em ascensão, carente de símbolos que a identificassem socialmente, a fotografia veio bem a calhar criando-lhe uma forte identidade cultural. O sucesso da fotografia no Brasil foi tão grande que, em menos de um século depois, em outubro de 1920, a Kodak instalou seu primeiro escritório no Brasil. Apenas sete anos após a fundação da Kodak no Brasil, em 1927, foi fundada a empresa Cartona Cartão Photo Nacional Ltda. por João José Monegaglia, filho de imigrantes italianos. No início, aproveitando a grande demanda gerada pela abertura da Kodak e a facilitação do comércio de papéis fotográficos no Brasil, a empresa iniciou a produção de capas de cartão para fotografias de formaturas e casamentos. Com o decorrer do tempo e com a popularização da fotografia, as capas se transformaram em álbuns fotográficos. Os primeiros modelos eram conhecidos como álbuns de cantoneira, onde as fotos eram fixadas com cantoneiras que permitiam a fixação de fotos de qualquer tamanho. A partir da década de 50, os fotógrafos profissionais, em grande maioria da colônia japonesa, começaram a migrar para o varejo dando origem aos antigos “fotinhos”. Percebendo o crescimento do mercado, em 1954 a Kodak iniciou a fabricação nacional de papéis fotográficos preto-e-branco e em 1958, a Fujifilm chegou ao Brasil, país escolhido para abrigar sua primeira filial fora do Japão. Com duas unidades fabris instaladas – uma em Caçapava (SP) e outra em Manaus (AM) – a empresa aqueceu o mercado de produtos fotográficos no Brasil e, com isso, houve um grande crescimento da demanda por álbuns para amadores, o que fez com que a Cartona aproveitasse esse momento iniciando um processo de expansão. Durante a década de 70, a Cartona lançou no Brasil os Álbuns de Folhas Autocolantes que apresentam o mesmo conceito dos álbuns de cantoneira – armazenar fotos de qualquer tamanho em qualquer posição sem a necessidade de serem fixadas com as cantoneiras, trazendo, portanto, uma inovação para os consumidores. Ao final da década de 80 com o advento dos Minilabs, as máquinas de revela- ção em 1 hora, criou-se um
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