Concurso Nacional de Leitura
Por: afonso.reis • 10/3/2020 • Trabalho acadêmico • 509 Palavras (3 Páginas) • 116 Visualizações
Desafio de Escrita
10- Uma história verdadeira
E se a referência da minha vida, realmente disparasse a pistola que tem constantemente encostada à cabeça? O que aconteceria se puxasse o gatilho atrás e cedesse a vez à bala, em vez de dá-la à razão? Que impacto teria no meu mundo? Quão sangrenta e obscura se tornaria a minha vida? É a história, a mais verdadeiramente abismada de sempre.
Jamais conseguirei descrever qual é a sensação de vivenciar a vida de um ente querido por um fio a qualquer momento. Não sei quando a bomba rebentará, quando a bala penetrará. Desconheço o seu limite até tal se suceder, mas reconheço que se encontra limitada pelas vozes diurnas e as suas respetivas festas noturnas. Todo o processo de adormecer parecia ser uma tortura para ela. Tem limitações até nos seus próprios pensamentos, já que são dominados pelas súplicas referidas. Não as sabe controlar e, por isso, escapam para fora quando está mais vulnerável e ensurdecem-na ao darem a sua própria festa. Deixou de conseguir ouvir o meu lado racional durante aquele espaço de tempo, pela primeira vez num dia inteiro, sendo que é abafado pelos seus pavores e desassossegos. Com receio de ensandecer é, quando até o próprio Sol está a dormir, que pensa em puxar o gatilho e satisfazer a sua vontade.
Por outro lado, conquanto tudo seja mais pacífico e mais monótono antes do sol se deitar, durante esse período, o seu fiel companheiro continua sempre do seu lado, o desalento. As demarcações fornecidas pela mesma também. Tem medo de dar um passo em falso e, em questão de segundos, puxar todo um mecanismo que insira a bala dentro dela. Todavia, não consegue negar que com pessoas ao seu redor, a tentação de emudecer as vozes de uma forma deliberada, torna-se menos apetitosa. Não quereria dar trabalho a limpar toda a imundície vermelha que ficaria pelo chão, embora presumisse que ninguém fosse notar, dado que todos os dias dançava sobre a corda mais bamba e frágil que poderia ter concebido, e ninguém prestara atenção.
Escusado será dizer que quem segura esta corda, são as tormentas que vivem com ela e que, por isso, é que é instável. Apesar disso, orgulha-se por ter aparecido mais matéria ao longo do tempo, para além do revólver, e não ter caído daquela vez. Talvez soe a um certo equilíbrio. A verdade é que passa noites e dias com uma a arma apontada à cabeça, uma faca apontada ao coração e com correntes nos pés e nas mãos e, ainda assim, não caiu. Faltara-lhe a coragem para desistir, ou talvez o seu lado competitivo, o racional, tenha mais poder sobre si do que as vozes? Quiçá fosse somente uma diferença de tempo.
Previsivelmente o inevitável não tardou a acontecer. Puxou o gatilho para silenciar as vozes. Escasseou a força para competir com elas. Espetou a faca e feneceu com os sentimentos. Fugiu das limitações, colocaram-lhe o par de asas que sempre ansiou. Pela primeira vez, teria controlo sobre tudo como tanto ansiara…
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