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Economicismo E Invisibilidade Das Classes

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Por:   •  9/6/2014  •  1.117 Palavras (5 Páginas)  •  276 Visualizações

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O objetivo deste texto é refletir acerca das assim chamadas “classes populares” no Brasil contemporâneo. Toda intervenção no campo das idéias se dá, no entanto, dentro de um contexto já constituído com uma semântica e um conjunto de noções dominantes. Perceber isso é especialmente importante quando se trata da questão mais importante para a estrutura e legitimação de toda a ordem social: o tema da produção e reprodução das classes sociais. Não existe questão mais importante para a compreensão adequada de qualquer ordem social posto que: 1) é o pertencimento de classe que nos esclarece acerca do acesso positiva ou negativamente privilegiado a qualquer tipo – material ou ideal – de recurso social escasso; e, 2) dado que a sociedade moderna se legitima na medida em que “aparece” como justa e igualitária, são as justificativas para a desigualdade efetiva entre as classes que formam o núcleo da legitimação social e política que permitem que a sociedade moderna possa ser aceita como justa também pelos injustiçados e humilhados por ela.

Quando dizemos que o pertencimento de classe é a questão mais importante da vida social é porque ela não define apenas o acesso privilegiado a todo tipo de “bem material”, como a compra do carro do ano e do apartamento com varanda. Esse pertencimento pré-decide também o destino dos recursos escassos “ideais” como respeito, auto-estima, reconhecimento, “cultura”, prestígio, “charme”, os quais vão permitir, portanto, não só o acesso diferencial a “empregos de prestígio e bons salários”, mas, também, o acesso a certos amigos, a “conquista” bem sucedida de certo tipo de mulher ou de homem, e de tudo àquilo que desejamos e sonhamos acordado ou dormindo todas as 24 horas do dia. Assim, compreender a produção e a reprodução das classes sociais é a “chave mestra” para o desvelamento do “mistério” do funcionamento da sociedade como um todo.

O problema é que o descobrimento do “mistério” acerca do mecanismo de funcionamento da realidade social tem vários e poderosos inimigos. Todos os interesses e poderes que “estão ganhando” têm interesse na reprodução da sociedade injusta e desigual tal como ela é e a legitimam, por exemplo, dizendo que todo privilégio vem da ideologia – da qual trataremos em detalhe mais tarde - do “mérito

1 Agradeço a Maria Teresa Carneiro e Ricardo Visser pelas críticas e comentários a este texto.

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individual”. Todas as propagandas de cigarro ou carro, todos os “Best Sellers” vendidos como romance, 90% dos filmes de grande bilheteria, todas as telenovelas, além de toda a percepção fragmentada da realidade cotidiana que confunde o principal e o secundário e ficam na superfície de toda real compreensão do mundo social também ajudam para a manutenção da opacidade social.

Mas quem termina por fechar o círculo que constrói a nossa “cegueira” acerca do efetivo funcionamento da sociedade são as “ciências da ordem”, ou seja, as “ciências” que cumprem papel semelhante às propagandas de cigarro, às telenovelas, e à fragmentação da consciência cotidiana. As ciências da ordem perfazem 80% ou 90% do que se passa por ciência seja no Brasil seja fora dele. As ciências da ordem “imitam” a “ciência verdadeira” apegando-se aos “artifícios de cientificidade”, exemplarmente a partir da “quantificação da realidade” – afinal os números lembram exemplarmente as ciências naturais - com equações e gráficos. Mas elas não são “ciências de verdade”, pelo simples fato de que “ciência verdadeira” é apenas a “ciência crítica” desta mesma realidade. Apenas a ciência crítica é capaz de explicitar todos os conceitos que usa – para não contrabandear noções do senso comum comprometidas com a manutenção da ordem – e, desse modo, ser capaz de “reconstruir a sociedade” no pensamento como um todo. É apenas deste modo que podemos restituir a “compreensibilidade” roubada pelos interesses da manutenção e reprodução de todos os poderes que estão ganhando. A ciência social tem que ser crítica

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