Educação no complexo. Educação em Tempos Globais
Monografia: Educação no complexo. Educação em Tempos Globais. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 12/12/2013 • Monografia • 10.037 Palavras (41 Páginas) • 395 Visualizações
FACULDADE SABERES
PÓS -GRADUAÇÃO I ESPECIALIZAÇÃO
LUZIMAR DOS SANTOS
O DESAFIO DO GESTOR
NA COMPLEXIDADE DA EDUCAÇÃO
VITÓRIA
2005
LUZIMAR DOS SANTOS
O DESAFIO DO GESTOR
NA COMPLEXIDADE DA EDUCAÇÃO
Monografia apresentada ao Curso de Pós- Graduação/ Especialização em Gestão Educacional da FACULDADE SABERES, como requisito para obtenção do Certificado de Especialista de Gestão Educacional.
Orientadora: Maria Elizabeth Barros de Barros Phd Doutora em Educação
Vitória,
2005
LUZIMAR DOS SANTOS
O DESAFIO DO GESTOR
NA COMPLEXIDADE DA EDUCAÇÃO
Orientadora Maria Elizabeth Barros de Barros Phd Doutora em Educação
Vitória/ES, 12 de dezembro de 2005.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 8
2. DESENVOLVIMENTO 11
2.1. Breve Histórico da Educação 11
2.2. Educação em Tempos Globais 17
2.3. O Comportamento Humano 22
2.4. Por que e para que educar? 29
2.5. Participação da família no Processo Educativo: Parceria com a
escola 37
2.6. O Educador: O Especialista da Escola 65
2.7. Os Agentes no Processo de Mudanças 74
2.8. Gestão Participativa 86
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 90
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia às Irmãs da Comunidade do Colégio São José, aos amigos da Reprografia e às minhas amigas do curso, que contribuíram e me apoiaram na caminhada e na realização deste trabalho.
Á minha Orientadora Maria Elizabeth Barros de Barros, que, não medindo esforços, me incentivou e contribuiu com sua orientação atenta, segura, enriquecedora nos momentos de reflexão, de análise, de repensar e re-orientar meu trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ser minha força nessa caminhada tão árdua e por me conceder a graça do entusiasmo e da entrega nesta missão de educar com amor, colaborando na formação de cidadãos competentes, criativos e conscientes do seu amanhã.
Sinto o desejo de expressar a minha gratidão, pois durante o processo de pesquisa, de construção e de reelaboração de novas concepções referentes à arte educar, encontrei pessoas que contribuíram para que eu vencesse os novos desafios e superasse as barreiras encontradas.
De forma carinhosa, minha gratidão à Companhia das Filhas da Caridade, aos meus Superiores e à minha comunidade local; a contribuição de todos foi essencial para a conclusão deste trabalho.
Espero com a graça de Deus poder corresponder e colocar em prática o que aprendi.
Faço aqui também um agradecimento especial a professora Rosália Sá de Oliveira pela sua grande ajuda ao sentar comigo e corrigir o referido trabalho, com dedicação e carinho no interesse de me ver crescer.
Não posso deixar de agradecer Irmã Neil Pimentel, por me liberar muitas e muitas vezes para a execução deste trabalho.
Sou grata à minha Orientadora Maria Elizabeth Barros de Barros, à Direção da Faculdade Saberes e aos professores, indistintamente, pelo carinho com que me receberam, pelas trocas que me proporcionaram para meu amadurecimento profissional e pela amizade que tornou o meu trabalho prazeroso e significativo. E a todos que, de uma forma ou de outra, me estimularam com suas palavras, apoio e presença.
" Aquilo que sou, a qualquer momento da minha vida, será determinado por meus relacionamentos com aqueles que me amam ou se recusam a me amar; com aqueles a quem amo e a quem me recuso a amar."
John Powell
1 - INTRODUÇÃO
O principal objetivo da educação visa despertar de uma coletividade. Não é possível, entretanto, visibilizar a possibilidade de uma coletividade, que supõe a existência de uma civilização consciente de sua cidadania a nível de mundo,
É preciso entender que educar é muito mais complexo que o fenômeno da globalização, devido à diversidade de história e costumes dos educandos que a escola recebe, e as fortes exigências que as famílias fazem à instituição de ensino, o que algumas vezes, torna difícil o bom desenvolvimento do processo educacional do estabelecimento.
Mudar a forma de pensar das pessoas é uma tarefa árdua e por vezes quase impossível. Isto porque a mudança de comportamento exige esforço e vontade própria de cada ser humano, melhor dizendo, depende do interesse de cada um. É necessário mostrar a todos os educandos que a terra é nossa comunidade étnica, onde não somos apenas ocupantes do planeta chamado terra, mas somos parte integrante da grande comunidade em que cabe a cada um o dever de cuidar com carinho para que o ambiente seja habitável .
A compreensão da vida como conseqüência da história da terra e da humanidade como protagonista desta história é de suma importância para a escola.
O ser humano é igualmente um ser estranho ao planeta, porque é simultaneamente natural e sobrenatural. Natural pelo seu enraizamento no cosmo físico e na esfera dos seres vivos; sobrenatural porque padece de um certo desenraizamento e de uma estrangeiridade atribuídos às próprias características da humanidade, da cultura, das religiões, do espírito e de sua própria consciência.
Essa correlação de significados nos ajuda a entender a turbulência que há entre o homem e a natureza. Na atual circunstância em que vivemos, compreendemos a condição humana e a de toda humanidade através de uma verdadeira contextualização de nossa complexa situação no mundo.
Percebemos que a aventura do homem no mundo o coloca em uma busca desconhecida do seu destino. Torna-se assim, imprescindível que desde idade tenra a escola oriente seus educandos para integração com a sociedade mundo, para que haja harmonia entre o homem e a natureza. Eis o principal desafio de uma educação .
É papel da escola formar cidadãos críticos. Todo cidadão crítico é participativo e tem a capacidade de colaborar para uma mudança coletiva, assentando bases sólidas para a construção de uma sociedade civil apta a validar a utopia de uma qualidade de vida desejável e viável a todos.
Os educadores devem fortalecer o papel estratégico na formação de crianças e jovens,
Sendo nossa casa comunitária a terra , nela deveríamos ser cidadãos de verdade. A este modo, a cidadania nos dá idéia de unificação, de conjunto, de pluralidade, de uma nova visão onde o sentido de pluralidade dá condições de viver em harmonia com todo o planeta terra com o que dele advem.
Educar para a cidadania l é criar um processo de construção da democracia. Onde não há amor, não há nada mais do que problemas de carreira, de dinheiro para o docente, e de aborrecimento para o aluno. A missão de educar supõe, fé na cultura e fé nas possibilidade do espírito humano. É portanto, elevada e difícil, porque supõe arte fé e amor.
Essa missão deve começar realizando uma ação institucional que permita incorporar nos diferentes aspectos educativos e de acordo com os diferentes níveis de aprendizagem para uma ação cidadã, articuladora de suas experiências e conhecimentos, e para uma contextualização permanente de seus problemas fundamentais no prosseguimento da hominização. A educação planetária deve propiciar a necessidade urgente da sociedade de contar mundólogos que permitam orientar à civilidade na percepção dos problemas mais urgentes e globais. A escola não pode omitir a tal missão.
Para um gestor integrar toda a escola dentro deste parâmetro educacional e extremamente exigente, numa era em que a sociedade é totalmente consumista e egocêntrica, não é fácil, mas é possível enfrentar os desafios. Organizar eixos estratégicos que leve a compreensão e sustentação de nossas finalidade terrestres. Isto é fortalecer as atitudes e as aptidões dos homens para a sobrevivência da espécie humana .
Diante todo as estas colocações, este trabalho por mim realizado vai ajudar a refletir sobre o compromisso que a escola assume de educar para a saúde do nosso planeta terra. Mesmo diante de toda complexidade vivenciada na sociedade em que vivemos, mas é urgente esta busca de reflexões quanto aos desafios do gestor na complexidade da educação.
2 – DESENVOLVIMENTO
2.1 - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO.
Nos primeiros séculos de nossas história, a educação era restrita a poucos, privilégio de minorias econômicas. É somente a partir do século XX que a escola vivencia um período de expansão, mais especificamente por volta dos anos 20 e 30, quando muitas mudanças econômicas, políticas, culturais e sociais ocorrem. Com o crescimento do processo de urbanização e de industrialização, a escola passa a representar uma condição de modernização do país.
As reformas ocorrem em muitos estados. Educadores que marcam a história das idéias educacionais em nosso país, estão à frente dos movimentos reformistas. Nesta mesma época surge um importante movimento da educação brasileira, que foi o Manifesto dos pioneiros da Educação Nova.
Os educadores portadores das idéias mais avançadas daquele período defendiam uma educação pública gratuita e laica para todos os cidadãos brasileiros.O espírito do manifesto mantém-se bastante atual, revelando sintonia com a função social da escola em nossos dias, no que diz respeito à sua relação com a comunidade.
A Constituição de 1934 incorpora as idéias do manifesto, estabelecendo a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário. Durante as décadas, observa-se uma lenta organização dos sistemas estaduais de ensino. Mas é somente em 1961 que o país tem aprovada a sua primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB ( Lei 4.024/62 ). Esta foi de curta duração.
Com a instauração do regime autoritário, em 1964, e as mudanças políticas dele decorrentes, novas leis passam a definir a organização escolar, desde a universidade ( LEI 5.540/68 ) à educação elementar e média.
Estas leis instituem a reforma universitária e a reforma dos antigos ensinos primários e secundário. Amplia-se a escolaridade obrigatória de quatro para oito anos e propões-se a profissionalização do ensino.
Ao longo do processo da escolaridade no Brasil, muitos problemas foram surgindo. Já nos anos cinqüenta, a educação apresentava uma má qualidade. Na verdade, problemas dos mais diversos foram acumulando. A escola não poderia mais se destinar ao atendimento de uma pequena minoria da população e ao oferecimento de uma educação de elite.
Com a incorporação de grandes massas de crianças, jovens e adultos à escola, houve muita improvisação, instalações, equipamentos e recursos humanos, para criar apenas os mais óbvios.A oferta escolar manteve-se em expansão nas últimas décadas. Em 1998, a taxa de escolarização líquida da população de 7 a 14 anos era de 95,3% .
Para fazer face aos problemas acumulados, o poder público tem buscado alternativas de reforma do sistema escolar, aprovando uma nova legislação educacional, a Lei 9.394/96, instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério; e mais recentemente, o Plano Nacional de Educação, em dezembro de dois mil, e sancionado pelo presidente da República, em janeiro de dois mil e um.
A partir da concepção de educação daqueles que estabelecem a política educacional, podemos inferir o tipo de Administração Escolar. Por exemplo: se a política educacional priorizar o intelectualismo do professor como centro do processo educativo, teremos uma educação tradicional e, conseqüentemente, uma administração humanista tradicional; se se priorizar o aluno ativo como centro do processo educativo, teremos uma educação progressista e uma forma humanista-progressista de administração.
No início da década de 90, as reformas na educação já vinham implementando mudanças na organização e na gestão escolar, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada somente em dezembro de 1996. No que se refere à gestão e à organização da educação básica, a LDB 9.394/96 introduz importante mudança na escola. Na realidade, a referida Lei torna obrigação para todo o sistema o que já vinha ocorrendo de maneira esparsa pelo país.
A autonomia dos estabelecimentos de ensino foi ampliada não só em relação à gestão como também às formas de organização escolar. A autonomia é o fundamento da concepção democrática - participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto pedagógico, faculdade das pessoas de auto-governar-se, de decidir sobre seu próprio destino. Numa instituição, ela significa poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. Faculta às escolas traçar seus projetos pedagógicos, envolvendo professores, alunos, funcionários, pais e comunidade próxima que se tornam co-responsáveis pelo êxito da instituição.
As reformas educacionais dos anos 90 atuaram fortemente sobre a organização escolar, provocando novas formas de ensinar e de avaliar. Além disso, houve mudanças na divisão do trabalho na escola, a extinção de algumas rotinas e adoção de outras, a substituição de certas hierarquias, a demanda por novos procedimentos profissionais.
Em virtude de mudanças sócio-econômicas e culturais ocorridas na sociedade brasileira, a escola teve de reformular suas funções tradicionais, redefinir o seu papel e criar novos serviços, aumentando-se, assim, o número de pessoas envolvidas no processo educativo, bem como o nível de complexidade da instituição. Acabou assumindo, gradativamente, a responsabilidade pelo desenvolvimento integral do educando, em seus múltiplos aspectos: físico, intelectual, escolar, social, emocional, moral, profissional, vocacional, enfim, os aspectos em relação aos quais a criança e o adolescente se desenvolvem, enquanto nela permanecem.
Como um ser em formação, o aluno necessita de orientação de diferentes instituições, desde a família até a igreja ou o clube que eventualmente possa freqüentar. No que se refere à família, principal instituição educativa, urge lembrar que o despreparo dos pais e a possibilidade cada vez maior de a mulher ausentar-se de casa para trabalhar fora vêm contribuindo para que os genitores ou responsáveis tenham menos condições e disponibilidade para a orientação dos filhos.
Por outro lado, o aluno passa, quase sempre, um grande número de horas na escola, e como esta instituição deve ser bem aparelhada para exercer influência sistemática e científica na educação dos jovens, espera-se dela, hoje, bem mais do que a transmissão de conhecimentos.
O gerenciamento democrático das escolas, apesar de ser uma boa intenção para os profissionais e comunidades correlatas, tem ainda encontrado certos entraves no cotidiano educacional. Isto porque a harmonia nas ações e a eficiência nos resultados só acontecerão, no momento em que gestores, especialistas e professores chegarem ao consenso de que a educação é um trabalho a ser desenvolvido por todos, uma vez que o aluno é, na realidade, o alvo de todos que se contextualizam no âmbito escolar. Desse modo, torna-se imprescindível a reflexão sobre o fazer de cada um na tarefa de educar.
No desenrolar das atividades do cotidiano escolar, observa-se que o professor aplica e desenvolve o processo ensino-aprendizagem, promovendo em cada unidade o crescimento integral do educando. Ao Supervisor Educacional cabe, como atribuição principal, conduzir o professor na reflexão diária, avaliando o seu desempenho para ver se o processo utilizado confere com os resultados alcançados. Da mesma forma, os demais especialistas aparecem durante o processo educacional, assessorando o professor, no momento em que este sinta necessidade de um respaldo na relação professor / aluno e, ao aluno no processo de aprendizagem, ou nos momentos de identificar a coerência necessária entre o realizar a tarefa e a lei que rege essa atuação.
Os sistemas educacionais e os estabelecimentos de ensino, como unidades sociais, são organismos vivos e dinâmicos, e como tais devem ser entendidos. Assim, ao se caracterizarem por uma rede de relações entre os elementos que nelas interferem direta ou indiretamente, a sua direção demanda um novo enfoque de organização. E é a essa necessidade que a gestão educacional tenta responder, abrangendo a dinâmica do trabalho, como prática social, que passa a ser o enfoque orientador da ação diretiva executada na organização de ensino.
A expressão “gestão educacional”, comumente utilizada para designar ação dos dirigentes, surge, por conseguinte, em substituição à “Administração Educacional”, visando buscar não apenas novas idéias, mas um novo paradigma e estabelecer coerência no que ocorre, dialeticamente, no seu contexto interno e externo. Assim, a mudança paradigmática está associada à transformação de inúmeras dimensões educacionais pela superação, pela dialética de concepções dicotômicas que enfocam diretivismo/não-diretivismo; hétero-avaliação/auto-avaliação; avaliação quantitativa/qualitativa e a transmissão de conhecimento construído, a partir de uma visão da realidade.
Os gestores escolares são hoje desafiados a se voltarem para o ambiente, mudando suas práticas e, mais do que isso, a maneira de perceber a especificidade do setor educacional. Até o início da década de 90, podia-se afirmar que o conceito de uma boa escola estava fortemente ligado à tradição. Uma escola de sucesso geralmente era aquela que, fechada em si mesma, procurava perpetuar seus padrões de qualidade. A preocupação maior centrava-se nos processos pedagógicos, desconsiderando ou dando importância menor aos aspectos da gestão organizacional. As exigências dos pais quanto aos padrões de organização, atendimento, clareza de propósitos, entre outras, eram pequenas. Os paradigmas que serviam de referência para análise e avaliação de uma escola eram quase sempre os padrões das escolas tradicionais.
Atualmente a escola tem a função de assegurar o desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas, sociais e morais, preocupando-se em dinamizar o seu currículo na elaboração do desenvolvimento dos processos do pensar, na formação da cidadania participativa e na formação ética, promovendo a apropriação dos saberes, procedimentos, atitudes e valores por parte dos alunos, pela ação mediadora dos professores e pela organização e gestão da escola.
Como gestor, sua obrigação é atuar como líder democrático que consiga fazer com que cada pessoa se comprometa com suas atividades frente à instituição escolar, possa dar o melhor de si. Além disso, deve intervir para que os especialistas se sintam motivados, os alunos felizes em um espaço de convivência agradável.
2.2 - EDUCAÇÃO EM TEMPOS GLOBAIS
A exclusão gera violência. A violência gera mais violência.O fim da antiga ordem mundial bipolar, ordem de guerra, não trouxe nem paz, nem a justiça, mas ampliou o fenômeno de nivelamento macrocultural; o fenômeno do luxo e do consumo nababesco (grande nível) de alguns, pago pela violência contra a natureza e as pessoas e ainda, o fenômeno da sobrevivência na exclusão. Assim, não se pode nem começar a conversar se não partimos da idéia de que existem interesses econômicos poderosos que determinam a globalidade. Mas não se avança em nada se pararmos por ai, pois no passado eles sempre existiram.
Não podemos esquecer que o processo de globalização da economia tem sua gênese no modelo capitalista. Ganhou forças após a Segunda Guerra mundial com a internacionalização dos mercados e do capital produtivo. A história do capitalismo é vista como a história da mundialização, da globalização do mundo. Um processo histórico de larga duracão, com ciclos de expansão e retração, ruptura e reorientação. A pretexto de promover a inserção, a globalização acelera a exclusão em todo mundo.
A simples leitura dos dados do relatório da ONU apresenta a pobreza absoluta castiga 1,3 bilhões, é suficiente para comprovar o avanço da exclusão no mundo. Tal relatório mostra que 22,8% da população mundial sobrevive com menos de um dólar por dia. Isso permite testemunhar a fragmentação vertiginosa do mundo dos trabalhadores. No Brasil, a exclusão do emprego formal é particularmente importante; primeiro pela quantidade da população que é atingida e segurada por provavelmente estar crescendo... A exclusão do emprego formal, contudo, está em função de uma grande mudança estrutural em escala mundial, derivada, em última análise, da terceira Revolução Industrial.
Segundo os dados da ONU a pobreza tem crescido cada vez mais, um quarto do mundo vive em estado de pobreza e este número cresce a cada ano, milhões de crianças desnutridas em um país onde se produz a maior porcentagem de grãos por ano e ainda há uma grande taxa de analfabetismo. Numa sociedade cada vez mais exigente em termos educacionais.
A exclusão social não é uma exclusividade dos países periféricos, mas neles mostra sua face mais perversa.
O projeto globalizador do capitalismo avançado pela cooptação da educação. Hoje, a socialização das novas gerações é técnica, reproduz as características da sociedade tecnizada, organizada e sistêmica. Entende-se, então, o imenso capital investido na propaganda, que utiliza recursos visuais, psicológicos e ideológicos na tentativa de criar o homo globalis, consumidor ideal no âmbito mundial, portador de uma nova cultura.
Esta cultura, ao ver o mundo como um grande mercado, as pessoas como clientes e a qualidade total como uma meta a ser atingida a qualquer preço, torna-se a base da atual sociedade de espetáculo.
Um questionamento persegue aos educadores comprometidos com um projeto pedagógico: Como educar na era da globalização neste novo milênio? Resposta nada simples, uma vez que envolve dimensões políticas, econômicas, sociais e religiosas.
Alguns educadores têm se recusado a ver nos educandos meros receptores passivos e têm tentado resgatar suas vozes, suas expectativas, suas aspirações. Segundo Paulo Freire formar é muito mais do que treinar o educando e reitera a sua histórica defesa pelo respeito à educação, aos educadores e aos estudantes. Condena enfaticamente a política econômica hegemônica – neoliberalismo – e convoca a todos a reagirem.
Neste momento, em que se questiona a hegemonia de uma interpretação do mundo – a educação preocupada em formar para a vida terá um papel fundamental. Uma sociedade que quer ser sempre mais inclusiva não pode deixar de lado a dimensão religiosa. A experiência religiosa presente em todas as culturas reveste-se de singularidade e complexidade, que se manifestam tanto no plano individual quanto no social.
Com o advento da quarta globalização, que para muitos se confunde com uma Nova Era, a do conhecimento, a educação é tida como o maior recurso de que se dispõe para enfrentar essa nova estruturação do mundo. Dela depende a continuidade do atual processo de desenvolvimento econômico e social, também conhecido como era pós-industrial, em que notamos claramente um declínio do emprego industrial e a multiplicação das ocupações em serviços diferenciados: comunicação, saúde, turismo, lazer e informação.Sendo que o maior recurso é a educação. De acordo com:...
"Através da história e em virtualmente toda a parte da Terra, os homens viveram e multiplicaram-se, criando alguma forma de cultura. Sempre e em toda parte encontraram seus meios de subsistência e algo para poupar. Civilizações foram erguidas, floresceram e, na maioria dos casos, declinaram e pereceram. Este não é o lugar para examinar porque pereceram; podemos dizer, porém, que deve ter havido alguma falta de recursos. Na maioria dos casos, novas civilizações despontaram, no mesmo terreno, o que seria assaz incompreensível se apenas os recursos materiais tivessem falhado antes. Toda a história - assim como toda a experiência atual - aponta para o fato de ser o homem, e não a natureza, quem proporciona o primeiro recurso: o fator-chave de todo o desenvolvimento econômico brota da mente humana. Subitamente, ocorre um surto de ousadia, iniciativa, invenção, atividade construtiva, não em um campo apenas, mas em muitos campos simultaneamente. Talvez ninguém seja capaz de dizer de onde isso surgiu, em primeiro lugar, mas podemos ver como se conserva e até se fortalece: graças a vários tipos de escolas, por outras palavras, pela educação. Numa acepção bastante real, por conseguinte, podemos afirmar que a educação é o mais vital de todos os recursos."
Tudo leva a crer que no século XXI, a principal atividade "industrial" será o turismo. Com a redução das jornadas de trabalho na maior parte do mundo industrializado ou "ex-industrializado" e a idade avançada de seus habitantes, até pelo menos durante o período de reposição da população, o que as pessoas farão com o seu tempo disponível? Vão fazer mais viagens e irão a busca de mais entretenimento. A arte também, nesse processo de mudanças, passará a ter um papel mais importante do que teve até agora, uma vez que o tipo de profissional exigido no século XXI será o homem "global".Esse homem "global" terá por obrigação estudar durante toda a vida para se manter atualizado e membro da sociedade do conhecimento. Conforme DRUCKER(1995:156):
Aprendendo a aprender "Educação básica significa tradicionalmente, por exemplo, a capacidade de efetuar multiplicações ou algum conhecimento da história dos EUA. Mas a sociedade do conhecimento necessita também do conhecimento de processos - algo que as escolas raramente tentaram ensinar. Na sociedade do conhecimento, as pessoas precisam aprender como aprender. Na verdade, na sociedade do conhecimento as matérias podem ser menos importantes que a capacidade dos estudantes para continuar aprendendo e que a sua motivação para fazê-lo. A sociedade pós-capitalista exige aprendizado vitalício. Para isso, precisamos de disciplina. Mas o aprendizado vitalício exige também que ele seja atraente, que traga em si uma satisfação”.
Quanto às mudanças na educação, além do novo enfoque exigido, sobretudo, em ciências sociais, do ponto de vista da pedagogia global, será preciso trabalhar mais com a informalidade, que por sua vez, só pode ser alcançada através da pedagogia da alegria e da positividade, cujos principais representantes são Um dos caminhos, dentre muitos, para a informalidade do ensino é o lúdico.
Por que o lúdico? Usando uma terminologia psicanalítica, o lúdico pode ser considerado um "material auxiliar expressivo", isto é, faz parte da terapêutica para a cura de muitos males do ensino. Desses males, o maior deles é o que nos lembram o grande poeta grego Píndaro (500 anos a.C.) e São Tomás de Aquino (século XIII): "o homem é um ser que esquece". Assim, ele precisa ser constantemente lembrado, principalmente do essencial, uma vez que o acidental o homem sempre traz na lembrança.O homem é um ser que esquece "Se perguntássemos à milenar tradição do pensamento pelos fundamentos filosóficos da Educação, os antigos dar-nos-iam esta sentença - tão simples - para meditar: "O homem é um ser que esquece!"
O homem, ele que foi agraciado pela divindade com a chama do espírito, o homem (é o mito de Píndaro), afinal, saiu mal feito, mal acabado, ele tende ao embotamento, à insensibilidade... ao esquecimento!
É a partir dessa constatação - dessa trágica constatação de nossa condição ontológica (também ela, hoje, esquecida...) - que se edifica toda a educação ocidental. As musas (filhas de Mnemosyne), as artes, são já uma primeira tentativa de Zeus para remediar essa situação: elas foram dadas pela divindade ao homem como companheiras, para ajudá-lo a lembrar-se... E é por essa mesma razão que os grandes pensadores da tradição ocidental consideravam as descobertas filosóficas, não tanto um deparar-se com algo novo ou insólito, mas, precisamente, descobertas: trazer à tona algo já visto, já sabido, mas que, por essa entrópica tendência para o esquecimento, não permanecera na consciência.
Assim, a missão profunda da educação não é de apresentar-nos o novo, mas algo já experimentado e sabido que, no entanto, permanecia inacessível: precisamente o que se expressa com a palavra lembrar.
2.3 - O COMPORTAMENTO HUMANO.
A palavra “humano” tem duas conotações, sendo a primeira referindo-se ao homem e sua natureza e a segunda refere-se aos valores como a compaixão, a bondade e a compreensão com outros seres. Humanizar as relações humanas é conferir aos homens a sensibilidade, uma vez que a história nos mostra ao contrário: desde o início da civilização, os seres humanos têm se tratado muito friamente, com insensibilidade e crueldade, cometendo atrocidades uns com os outros a ponto de exterminar seus semelhantes.
Nem sempre as relações cotidianas indicam traços de generosidade entre as pessoas, elas mostram muitas vezes, indiferenças e desconhecimento dos efeitos que provocam umas sobre as outras.
Desumanizar é privar-se do caráter humano; humanidade implica a existência de certas qualidades intrinsecamente humanas; é o núcleo central de atributos ou potenciais que enobrecem a personalidade humana, manifestando-se nos aspectos essenciais do processo de humanização. Hoje as maiorias das grandes empresas estão tomando consciência de que a humanização é fator importante em seu interior, e chegam a promover semana da Humanização, pois a qualidade do relacionamento interpessoal e o desejo de transformá-las para melhor.
Existem pessoas que estabelecem relações baseadas na sensibilidade e na generosidade. Buscam sempre o que há de positivo no outro, puxando-o para cima e valorizando-o através do que tem de bom. Há outras que desqualificam o outro e estão sempre em busca dos pontos negativos com a finalidade de puxá-lo para baixo. Entre os seres humanos existem dois tipos de pessoas; um é daquelas pessoas que constroem relações amorosas, afetivas, familiares e sociais, transformando–se em relações de ajuda informal, outro tipo é daquelas que estabelecem relacionamentos profissionais, que implicam sempre uma ajuda formal.
O homem se torna eu na relação com o tu, é a relação interpessoal e o diálogo na atitude existencial do face a face. Relação é reciprocidade. Meu tu atua sobre mim assim como eu atuo sobre ele, a pessoa aparece no momento em que entra em relação com outras pessoas. Os sentimentos residem no homem, mas o homem habita em seu amor, ele se realiza entre o eu e o tu. De acordo com FELDMAN(23):
O amor é uma força cósmica. Aquele que habita e contempla no amor, os homens se desligam do seu emaranhado confuso próprio das coisas; bons e maus, sábios e tolos, belos e feios, uns após outros, tornam-se para ele atuais, tornam-se tu, isto é , seres desprendidos, livres, único e ele os encontra cada um face a face, assim ele pode agir, ajudar, curar, educar, elevar, salvar. Amor é responsabilidade de um eu para com tu: nisto consiste a igualdade daqueles que amam; igualdade que não pode consistir em um sentimento qualquer; igualdade que vai do menor ao maior, do mais feliz e seguro, daquele cuja vida está encerrada na vida de um ser amado, até àquele crucificado durante sua vida na cruz do mundo por ter podido e ousado algo inacreditável: amar os homens.
Segundo Rogers, quando conseguimos ser congruente e genuíno, quase sempre ajudo a outra pessoa. Quando essa outra pessoa é cristalinamente autêntica e congruente, ela quase sempre me ajuda, é neste encontro de autenticidades é que acontece a relação Eu e Tu, provoca-se então uma reciprocidade que envolve reunião e encontro. É através do encontro que o outro deixa de ser indivíduo interpessoal, um ele ou ela, mas torna-se um você sensível e próximo do meu eu. Pressupondo uma comunicação autêntica, uma comunhão ontológica, uma verdadeira fusão entre duas pessoas, o fato é que podemos entender-nos a nós mesmos a partindo outro ou de outros, e só a partir deles...Somente nessa perspectiva é que poderá ser concebido um legítimo amor do Eu.
O humanismo enfoca os interesses, as potencialidades e as faculdades de ser humano; que valoriza sua capacidade para a criação, para a transformação das condições naturais e sociais, para o livre-arbítrio diante de poderes supostamente transcendente e de condicionamentos históricos. É uma concepção do mundo e da existência que tem como centro o homem.
Na visão da psicologia humanística o homem possui princípios básicos que estruturam a existência – humanística, conforme FELDMAN (25)
O homem é a fonte e o centro de todos os valores, está em processo permanente de crescimento que o leva à superação de si mesmo. As propriedades são determinadas pelos problemas humanos autênticos. É ele mesmo o proprietário de sua dignidade, não podendo ser reduzido a um objeto. É um ser que tem responsabilidade existencial de defrontar-se consigo mesmo e de criar a sua própria natureza que tem capacidade de realizar como ser individual e relacional, sendo capaz de ir sempre além de seu estado atual, de escolher e crescer através de sua responsabilidade, sua tendência básica é realizar seu potencial máximo, mesmo diante de problemas internos ou posição externas
A busca de valores é uma necessidade própria do ser humano, diferente para cada indivíduo. Essa busca é uma forma de promover o crescimento e o desenvolvimento de suas potencialidades. Um dos movimentos essenciais da natureza humana é a busca de relações interpessoais construtivas, de compreensão e sentimento de comunidade, o eu precisa do outro, do diálogo, do encontro, da reunião, da intersubjetividade, este encontro é baseado no respeito pela pessoa e no reconhecimento do outro não como um objeto, um caso ou conjunto de instintos, mas como ele mesmo. Assim percebemos que o ser humano é sujeito á mudanças de si mesmo e da realidade que o cerca, vejamos o que nos diz Carls Rogers a este respeito:“ Toda pessoa é um ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só pode construir uma ponte para se comunicar com as outras ilhas se primeiramente se dispuser a ser ela mesma e se lhe for permitido ser ela mesma.”
O que realmente promove mudanças nas pessoas é o grau de aceitação, empatia, percepção dos sentimentos, a consideração positiva, a congruência. O movimento natural do ser humano é a direção de sua auto realização e os recursos para tal realização não está fora de si, mas sim em seu interior, existe uma relação de causa e efeito nos relacionamento: determinada postura de uma pessoa ajudam a promover o crescimento da outra, que desenvolve a auto-estima, a flexibilidade, e o respeito para consigo mesma e para com os outros.
A grande corrida dos psicoterapeutas, nos tempos atuais, é a desesperada necessidade de adquirir o máximo de conhecimentos básicos e a maior competência possível para estudar as tensões que ocorrem nas relações humanas. O admirável crescimento das tecnologias e seus fortes avanços conseguidos pelo homem parecem conduzi-lo à destruição total do nosso universo, a menos que façamos grandes inovações na compreensão e no tratamento das tensões interpessoais e intergrupais. Um dia, quem sabe, se investirá menos em construção de mísseis e se investirá mais em meios que leve toda humanidade a uma maior compreensão de si mesma para que a relação seja mais adequada aos homens.
Não podemos nos afastar do que somos, não podemos mudar enquanto não aceitarmos profundamente quem somos, aproximar da verdade do nosso eu, nunca é prejudicial, nem perigoso e nem incômodo, aquilo que é mais pessoal é mais geral.O núcleo da personalidade dos homens é o próprio organismo, que é essencialmente autopreservador e social, a vida no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera e onde nada está fixo. A vida é sempre um processo de devir.
O desenvolvimento das habilidades do ser humano é interpessoal que são identificadas na relação com o outro passíveis de aprendizagem pelas pessoas em qualquer seguimento do relacionamento humano. É sabido que o ser humano muitas vezes adquire experiência através da imitação de alguém ou alguma coisa que é considerada uma imagem perfeita, que se torna modelo. A palavra modelo traz o sentido de flexibilidade, criatividade, valorização do estilo individual e da abertura ao subjetivo que existe em cada um que pressupõe uma troca, uma aceitação do diferente, a condição entre posições também diferentes, a existência de várias verdades que se complementam e se enriquecem, não de uma verdade única. Esses ingredientes efetivos e comuns a todos os processos de aprendizagem, ao ensino, á educação, á ação social, ao desenvolvimento de recursos humanos e comunitários em nível mais abrangente. É este o sentido de desenvolver as habilidades interpessoais, possibilitar a arte da escuta e do diálogo entre amigos, parceiros, familiares, companheiros e, naturalmente,entre os profissionais de ajuda .FELDMAN a este respeito postula que:“ Aquilo que sou, a qualquer momento da minha vida será determinado por meus relacionamentos com aqueles que me amam ou se recusam a me amar; com aqueles a quem amo e a quem me recuso a amar.”
A qualidade da relação entre duas pessoas está na comunicação que estabelece entre si. Um verdadeiro encontro só acontece através da comunhão e do compartilhamento, tal relacionamento vai desde o nível mais superficial até o mais profundo passando por níveis intermediário. Seja qual for o nível do relacionamento não deve haver qualquer julgamento do outro, nem a moralização do sentimento.
A auto-estima é desenvolvida na infância através das mensagens de amor incondicional que os pais transmitem às crianças, mais tarde o tipo de amor que leva à maturidade e à plenitude é a relação amorosa com um companheiro em que cada um conhece, respeita e valoriza a diversidade do outro. A auto-imagem de qualquer ser humano é fator determinante de seu equilíbrio emocional, da qualidade de suas relações, de seu crescimento pessoal. O que promove a mudança e o crescimento é a relação de amor que vai além de um simples sentimento, envolve compromisso, decisão, incondicionalidade, permanência, valorização e reconhecimento do ser amado.
O segredo de preservar a relação de amor está na comunicação dos sentimentos, no compartilhamento de emoções, na capacidade de escutar e dialogar. A felicidade é uma condição natural do ser humano e pode ser alcançada através de um trabalho interior que inclui desenvolver a auto-aceitação, assumir a responsabilidade pela própria vida, atender às necessidades físicas, valorizar o outro, buscar o crescimento ao invés da perfeição, aprender a se comunicar de maneira efetiva e desfrutar a vida.
Diante dos escritos até agora, percebe-se que o ser humano está em formação de forma infinda, a cada etapa vencida, surgirão outras necessidades de formar-se, pois as diversas mutações da sociedade e do mundo exige tal postura. É explícito o papel da escola, nesta formação inicial e, parceria com a família, pois o humano precisa de modelos como referência para direcionar suas ações a atitudes no início de sua vida. As pessoas que participam da formação inicial devem estar alerta da maneira de como dar uma boa formação de caráter e personalidade.
O ponto central da educação é formar cidadãos conscientes de sua harmonia com a realidade que o rodeia, assim a escola entra com sua verdadeira função; educar. Mas, o que é e para que educar? Muitas vezes não temos uma resposta clara para tais questionamentos, pois, vivemos em um período onde a educação não é mais o fator mais valoroso, nesta falta os homens não se entendem mais, não se conhecem e conseqüentemente não se respeitam e por isso não se preserva a vida com todos os seus elementos.
Hoje é urgente resgatar o valor à vida, nosso planeta terra está em perigo, nós educadores precisamos trabalhar a consciência dos nossos educandos para que a partir de um ato consciencioso mudar de comportamento e atitudes frente à vida, à natureza e ao outro. Para isto é necessário que tenhamos bem claro o conceito de educação, é o que vamos ter agora.
2.4 - POR QUE E PARA QUE EDUCAR?
O educar constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais harmonioso com o do outro no espaço de convivência.
A educação é um processo contínuo e de forma recíproca, há uma troca, que tem como resultado o aprendizado da convivência com as diferenças que se configura de acordo com a comunidade de seu convívio. A educação como sistema educacional configura um mundo, e os educandos confirmam em seu viver o mundo que viveu em sua educação.
Os educadores, por sua vez, confirmam o mundo que viveram ao serem educados no educar.
Este processo dura para a vida toda e que faz da comunidade onde vivemos um mundo espontaneamente conservador, ao qual o educar se refere. Isto significa que o mundo do educar não mude, mas sim que a educação, como sistema de formação da criança e do adulto, tem efeitos de longa duração que não mudam facilmente.
Na infância a criança vive o mundo em que se funda sua possibilidade de converter-se num ser capaz de aceitar e respeitar o outro a partir da aceitação e do respeito de si mesma. Na juventude, experimenta-se a validade do respeito a si mesmo, no começo de uma vida adulta social e individualmente responsável Como vivemos é como educaremos, e conservaremos no viver o mundo que vivemos como educandos. E educaremos outros com nosso viver com eles, o mundo que vivemos ao conviver.
É muito importante que tenhamos claro em mente que mundo nós queremos. Se queremos um mundo onde as pessoas se respeitem e respeitam os outros, aceitam-se e aceitam os outros num espaço de convivência com o diferente, assim mesmo que aconteça a negação do outro, é passível de mudança tal atitude. Vivamos nosso educar de modo que a criança aprenda aceitar-se e a respeitar-se, ao ser aceita e respeitada em seu ser, aprenderá a respeitar e aceitar o outro. Para isto, devemos reconhecer que não somos transcendentes, mas somos num devir, num ser variável, mas que não é absoluto nem necessariamente para sempre. Todo sistema é conservador naquilo que lhe é constitutivo, ou se desintegra.
Todo ato de educar é um ato de amor. Nossa educação precisa sair do contexto intelecto e partir para uma pequena questão chamada reflexão. Se não ensinar a criança a se aceitar e se respeitar partindo do pressuposto de valorizar o que lhe é de sua sabedoria e a respeitar seus erros e acertos, jamais teremos um cidadão que saiba aceitar e respeitar as diferenças, isto exige do gestor da educação uma séria interação com os educandos de forma amigável, afetuosa e dialogal. O gestor deve amar o que faz e assumir a missão como causa principal de sua trajetória profissional. Este não é obrigado a saber tudo desde o começo de sua profissão, mas ao longo do tempo vá adquirindo postura reflexiva frente à realidade que o rodeia, havendo respeito entre si e os colegas de trabalho sem premência de competição.
O amor é o centro de qualquer relação humana. O gestor da educação precisa estar arraigado nesta pedagogia para que consiga educar na essência, no limiar de outra ação educadora, que vai além do intelecto, que perpassa a superação de tudo aquilo que leva ao aniquilamento humano, em outras palavras, o gestor da educação precisa educar para os valores da vida.
O ser humano é um ser que está em constante necessidade, esta ambição de sempre querer mais e mais, de ter sempre mais que o outro, quer uma riqueza ou um êxito individual, mas não leva a uma transformação congruente com o mundo na sabedoria de uma convivência que pode gerar mais pobreza em seu sentido amplo.
Estamos em uma época que toda instituição de ensino para por séria crise, quanto a sua função, pois esta se encontra sobre carregada de tarefas extras para tentar responder às expectativas dos pais e dos alunos frente ao que a sociedade violenta oferece. Assim o essencial da educação ficou muito a desejar, pois as famílias em sua desestrutura, deixa o seu dever para a escola realizar.
É mais que necessário a escola conscientizar aos pais que a educação hoje é questão de parceria família-escola, na falta de uma desta algo fica deficiente. Facilmente encontra um adolescente em desarmonia consigo mesmo e com todos que o rodeiam, lemos todos os dias nos jornais o número de suicídios de jovens e adolescentes que desistiram de viver por não mais verem sentido na vida.
O adolescente e jovem moderno aprende valores, virtudes que deve respeitar, mas vive num mundo adulto que os nega. Prega-se o amor, mas ninguém sabe em que ele consiste porque não se vêem as ações que o constituem, e se olha para ele como a expressão de sentir. Ensina-se a desejar a justiça, mas os adultos vivem na falsidade. A tragédia dos adolescentes é que começam a viver um mundo que nega os valores que lhes foram ensinados. O amor não é um sentimento, é um domínio das ações nas quais o outro é constituído como um legítimo outro na convivência. A justiça não é um valor transcendente ou um sentimento de legitimidade, é um domínio de ações no qual não se usa a mentira para justificar as próprias ações ou as do outro.
A responsabilidade surge quando nos damos conta de se queremos ou não as conseqüências de nossas ações, e a liberdade surge quando nos damos conta de que queremos ou não nosso querer as conseqüências de nossas ações. Querer dizer, responsabilidade e liberdade surgem na reflexão que expõe nosso pensar no âmbito das emoções a nosso querer ou não querer as conseqüências de nossas ações, num processo no qual não podemos nos dar conta de outra coisa a não ser de que o mundo que se vive depende de nossos desejos.
Não é a agressão a emoção fundamental que define o humano, mas o amor, a coexistência na aceitação do outro como um legítimo outro na convivência. Não é a luta o modo fundamental de relação humana, mas a colaboração. Falamos de competição e luta criando um viver em competição e luta, não só entre nós, mas em toda sociedade. Assim dizem que os humanos devem lutar e vencer as forças naturais para sobreviver. Mas não é assim. Toda história da humanidade é traçada por guerras e lutas, domínios e competição.
A educação deve converter nossos educandos a resgatar esta harmonia fundamental que não destrói, que não explora, que não abusa, que não pretende dominar o mundo natural, mas que deseja conhecê-lo na aceitação e no respeito para que o bem-estar humano se dê no bem-estar da natureza em que se vive. Para isso é preciso olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser harmonia sem submissão. O mundo que queremos é o mundo de respeito, natural que nos sustenta, um mundo no qual se devolva e que se toma emprestado da natureza para viver. Ao sermos seres vivos, somos seres autônomos, no viver não somos. Queremos um mundo no qual seja abolida a expressão recurso natural, no qual reconheçamos que todo processo natural é cíclico e que, se interrompermos seu ciclo se acaba. De acordo com Maturana:
“O progresso não está na contínua complicação ou mudança tecnológica, mas na compreensão do mundo natural, que permita recuperar a harmonia e a beleza da existência nele, com base no seu conhecimento e no respeito por ele.Mas para ver o mundo natural e aceitá-lo sem pretender dominá-lo ou negá-lo, devemos aprender a aceitar-nos e a respeitar-nos como indivíduos.”
Jesus era um grande biólogo. Quando ele fala de viver o reino de Deus, fala de viver na harmonia que traz consigo o conhecimento e o respeito pelo mundo natural que nos sustenta, e que permite viver nele sem abusá-lo nem destrui-lo. Para isso devemos abandonar o discurso patriarcal da luta e da guerra e nos entregarmos ao viver matrístico do conhecimento da natureza, do respeito e da colaboração na criação de um mundo que admita o erro e possa corrigi-lo. Uma educação que nos leve a atuar na conservação da natureza, a atendê-la para viver com ela e nela sem pretender dominá-la, uma educação que nos permita viver na responsabilidade individual e social que afaste o abuso e traga consigo a colaboração na criação de um projeto nacional em que o abuso e a pobreza sejam erros que se possam e se queiram corrigir.
Não castiguemos nossas crianças por serem, ao corrigir suas ações. Não desvalorizemos seu saber.Guiemos nossas crianças na direção de um fazer que tenha relação com o seu mundo cotidiano. Convidemos nossas crianças a olhar o que fazem e, sobretudo não as levemos a competir.
A educação deve convergir não somente para o agora, mas para toda vida, não somente para alimentar o próprio Ego, mas para o coletivo, para as diferenças como já foi mencionado acima. O educar fomenta o desejo de buscar sempre a correção, o certo, o intercâmbio com outros seres da mesma espécie ou de espécie diferente, é o educar para conviver. Na verdade é educar para a cidadania. Mas o que entendemos por cidadania hoje?
O termo cidadania se expandiu e se espalhou a compreender todo o membro da comunidade humana, com direitos e deveres pessoais, universais. O cidadão é o sujeito da história, de sua própria história e, com outros cidadãos, da história de sua comunidade, de sua cidade, de sua nação, de seu mundo. Cidadania é o que se eleva em dignidade e direitos por sobre as instituições e estruturas, por sobre o próprio Estado que, sob licença, o governa. Cidadania é todo o homem e toda mulher, sem discriminação etária, igualada pela condição humana, de onde emana todo o poder político, que somente no seu interesse se justifica.
Há hoje uma corrida para resgatar o sentido da cidadania em meio à humanidade perdida, cada homem na sua individualidade como sujeito da história. A relativização do papel do estado, dos absolutismos teóricos e práticos, a insubmissão crescente ao poder das elites e das massas, reconduz aos poucos, o homem ao papel que sempre se lhe deveria ter reservado, ao qual, hoje, para evocar dignidade, chamamos de cidadania.
É forçoso, no entanto, reconhecer que a educação passa pela percepção de sua negação, da dura realidade ainda persistente em quase todos os cantos do planeta. Urge, assim, uma lua sem tréguas pela sua superação do paradoxo. Temos então, uma resposta a indagação: ” O que é educar para a cidadania?” Para Maturana:
“É educar para o reconhecimento dessa condição de direitos e deveres inerentes, que carregamos dentro de os pelo fato de sermos gente de qualquer raça, de qualquer credo, de qualquer nação, de qualquer extrato social; para reconhecer e respeitar as diferenças no plano individual e para combater os preconceitos, as discriminações, as ofensivas disparidade e privilégios no plano social;é educar cada um para a fé no próprio potencial, como agente da transformação qualitativa da própria vida e do mundo onde está inserido;é educar para fraternidade, para o sentido social da vida, sem jamais roubar, com isso, a singularidade de cada projeto, de cada contribuição;é educar para a luta pacífica, mas encarniçada, contra todo o sistema, contra toda a estrutura que negue a quem quer que seja o direito de ser cidadão. Enquanto houver na terra um só sem posse plena desse status, os demais só se justificam pela luta.”
Então, educar para a cidadania tem muito a ver com o tipo metodológico, com as relações interpessoais que estabelecemos com nossos alunos.
Até agora percebemos que a escola deve adotar novos métodos de educar para que seus educandos sejam atingidos em sua totalidade, para chegar a uma cidadania autêntica e pertinente da participação real da sociedade em que vivemos respeitando as diferenças que nela existem.
Não se educa para a cidadania derramando retórica academicista ainda que com pretensões a crítico-científica, sobre alunos objetos, passivos, despersonalizados, sem espaços para a liberdade, coletores de informações, repetidores de elaborações e análise alheias, alienadas de qualquer autoconceito. Se a retórica é unilateral, se os textos são direcionados e inquestionáveis, se o aprendizado foi reduzido a testes e provas, se a avaliação tornou-se apenas uma pobre medição da memória, não há educação para a cidadania. Não há sequer educação! Mesmo que isso tudo venha perfumado com o discurso crítico-social da competência. O adestramento não é privilégio de qualquer ideologia.
A cidadania precisa ser vivenciada na sala de aula por todo educador que se pretenda cidadão e que não queira estabelecer sua prática sobre bases esquizofrênicas. Isto não se confunde com liberalismo, nem desconhecimento do próprio papel, nem com desorganização, nem com desordem, nem com incompetência acadêmica, nem com inconsistência, nem com qualquer das coisas com que nos querem assustar os mistificadores, amantes da velha ordem. Isto se confunde com democracia Evidentemente, tanto quanto uma boa metodologia, é fundamental um bom conteúdo, em relação harmônica. E bons conteúdos metodológicos devem minuciar os que se nutrem para alguma forma de prática qualitativa diferenciada. Caso contrário, não seriam bons conteúdos e metodologias.
Isso significa que o micro cosmo da sala de aula não pode deslocar-se, em suas relações, do resto. Não há paraíso metodológico e nem conhecimento crítico-acadêmico que se justifiquem em si mesmos. As ferramentas não foram feitas para ficar guardadas. É preciso usá-las para aprender a usá-las. Assim, toda educação deve orientar-se no sentido do todo. O conhecimento existe para melhorar a vida. A sala de aula precisa ser uma caixa de ressonância das aspirações do social. A escola precisa derrubar os muros invisíveis que a separam da comunidade imediata e do mundo. Em termos muitos práticos, não devemos falar da miséria sem assumirmos algum tipo de compromisso prático pela sua erradicação. Temos o dever de orientar os nossos jovens nesse sentido se não os quisermos, em pouco tempo, amargurados, desesperançados, céticos e, subseqüentemente, cooptados.
Se a consciência ecológica é realmente importante para uma escola, os alunos precisam estabelecer, a partir de possibilidades que essa mesma escola apresente, qualquer vínculo amoroso e direto com a natureza. Todas as disciplinas têm algo a ver com pelo menos algumas dessas dimensões. É pequeno, é medíocre, causa dó o pretexto de ter que dar matéria, que mundo é esse, aos pedaços, onde os que se dizem educadores estão tão somente preocupados em dar o que chamam de matéria.
Se nós, gestores da educação, fôssemos menos pretensiosos, se percebêssemos que poderíamos desempenhar nosso mais importante papel, oportunizando aos educandos uma imersão crítica mais intensa na vida real, então, à vida real devolveria o status de melhor escola que a escola, de fonte mais densa e significativa de conhecimentos, de única experienciação segura para habilitar à competência. E talvez a escola pudesse, no mundo, após séculos de opressão, de injustiça e destruição, dar a sua primeira efetiva contribuição para uma sociedade melhor.
Seguramente, temos importante no despontar dessa Nova Era, ajudando na geração de uma juventude mais sadia, mais plena, portadora de ideais, de um significado para sua existência. Seria um crime contra ela e contra nós mesmos, perdermos tamanha oportunidade. Não é tarefa tão difícil. Basta um pouco de ousadia, alguma criatividade, fé em nosso próprio potencial, vocação real para educar e muita consciência de cidadania.
2.5 - PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO EDUCATIVO: PARCERIA COM A ESCOLA.
Todo ato de educar tem por objetivo formar caráter e personalidade. Educar é um ato civilizatório, nos diz Leonardo Boff. Este ato tem raízes na família, pois, esta é o primeiro ambiente social que a criança tem, portanto, é nela que se aprende os primeiros passos para a vida. Como se encontra o ambiente familiar atualmente para que esta base seja bem construída? Vejamos tal realidade no decorrer dos escritos a apresentados.
É muito importante discorrermos um pouco no que fez a história da família o que era no começo, seu desenvolvimento e o que é hoje, tal evolução teve e terá uma trajetória que é válido acompanharmos para entender seus processos vejamos.
Há na escola e na família um poderoso mecanismo de disciplinamento dos corpos e das mentes nos processos educativos.Sem dúvida, uma das situações que mais irritam são os comportamentos que desrespeitam as normas estabelecidas ou consensualmente admitidas. As normas e os comportamentos são estabelecidos pelos homens em função de conveniências históricas que, basicamente, deveriam garantir a sobrevivência e a convivência humanas.
A natureza dotou o ser humano apenas com algumas normas, muito precárias e limitadas, que costumamos denominar de reflexos, são os reflexos da sobrevivência natural do se humano, e outros são os constituídos pelos esforços de se adaptar ao meio natural e social para seu próprio desenvolvimento.
O ser humano nasce em plena anomia, isto é, numa situação de ausência total de normas.Sua orientação se faz impulsos vagos, na busca de satisfação das necessidades básicas percebidas sincreticamente. Por força do longo período de infância do ser humano e de sua fragilidade, ele necessita de presença e de cuidados dos adultos que introduzem no pequeno ser a heteronomia, onde as normas, os comportamentos, os ritmos começam a ser determinados pelos outros, muitas vezes com muita arbitrariedade e por muito tempo, de tal maneira que podem se cristalizar numa dependência e submissão dificilmente superáveis durante toda a vida.
Contudo, o ideal de todo processo de crescimento, desenvolvimento e educação é chegar à autonomia. Isto é, o ser humano chegar à possibilidade de decidir caminhos, ser dono de suas decisões e estabelecer automaticamente as próprias normas que garantirão uma experiência plena, feliz como um ser no mundo interagindo com a natureza, a história e os outros, também seres donos de sua autonomia. Esta, porém, é a questão mais complicada que necessita ser elaborada, até onde a autonomia do indivíduo pode ir, sem interferir na autonomia dos outros e nas determinações do mundo.
Vive-se num mundo absolutamente cheio de normas, de leis, de convenções, de determinações. Quanto mais avançamos na direção da civilização e do progresso, mais engrossam os códigos que esterilizam qualquer tentativa do original e do novo. Mesmo quando um povo consegue sua autonomia, sua liberdade, ironicamente estabelece em sua bandeira o ideal de ordem. Esta ordem se torna radical, contraditoriamente, nos tempos de revolução, onde a maior arma para manter a mudança é o instrumento da censura. Ninguém mais fará nada de diferente, nem mesmo pensar. A disciplina passa a ser imposta de tal maneira que ninguém mais conseguirá por muito tempo, nem pensar, nem fazer qualquer coisa além do estabelecido.
É necessário desenvolver no indivíduo o desejo da luta pela conquista de sua autonomia, embora isso não seja possível sem sofrimento, sem rupturas, sem grande irritação da sociedade e das instituições. Estas sempre lutarão pela sua manutenção e pela manutenção dos seus membros numa relativa heteronomia. É em função disso que as sociedades e as instituições não se mantêm sem os artifícios dos prêmios e dos castigos, das recompensas e das punições, ou então das inculcações ideológicas que podem não passar de outras formas de dominações e submissão, esse pode ser o risco quando se fala de modo geral, da necessidade de limites.
Nada de mais complexo se constrói sem organização e sem um mínimo de disciplina. Disciplina passa a ser uma situação positiva quando significa uma forma de organização em busca de objetivos livremente estabelecidos. Melhor ainda, se essa disciplina surgir espontaneamente, em consenso com os outros, em função de objetivos comuns. A disciplina será, então, sem autoritarismo uma ordem livremente consentida entre todos os envolvidos.
Evidentemente, se queremos um homem autônomo para uma sociedade solidária, a disciplina será organizar as condições necessárias para o trabalho coletivo em sala de aula, na escola e na família, de modo a garantir, acima de tudo, a solidariedade, o respeito, a responsabilidade, a participação, a construção significativa do conhecimento, na intenção responsável com os outros e com o mundo.Para PREISIG(13):
“É preciso que a comunidade educativa recupere e redefina o sentido do processo educativo, elaborando e explicando sua proposta educacional. Essa proposta será uma elaboração coletiva e contextualizada onde todos os envolvidos no processo educativo possam participar nas decisões que lhes dizem respeito. Isso definido, é preciso uma linha de ação comum assumida e revisada com modificações radicais dos procedimentos e das relações da escola e família como uma totalidade.”
A única forma para superar o autoritarismo dos processos e das relações sociais, políticas e econômicas gerais é a instalação radical da democracia na escola, e na família esse também é o espaço específico para exercício pleno da autonomia, individual e coletiva.
No cotidiano da escola e da família é inegável a existência da indisciplina, que gera os mais diversos tipos de conflitos. Saber conviver com esses conflitos, sem perder os horizontes maiores da autonomia, exige muita clareza, flexibilidade e equilíbrio nas opções das prioridades. Se for necessário desistir das tiranias dos programas, das práticas, dos rituais, que se faça isso.
“ Mais vale um cidadão em pé com grande auto-estima e confiança, que um homem disciplinado, mas sem sonhos. Prefiro uma família e escola alegres a um processo educativo onde as opções já estão definidas, onde predomina o medo.” PREISIG : 13 )
Muitas vezes é necessário para a família morrer os paradigmas para a libertação dos filhos e para seu crescimento e construção de sua identidade plena, o mesmo deve-se dizer da escola. É fundamental a morte dos pais e mestres e a morte da escola para que a criança, livre da submissão àqueles mestres, atinja a altura dos mestres e seja ela mesma mestra, capaz de procurar outras orientações, de construir outras normas, de tomar outras decisões e assumi-las com responsabilidade e riscos próprios. Até mesmo escolher outros mestres, outras normas, outras disciplinas.
Nos primórdios da humanidade a família era comandada por mulher, pois, era ela quem determinava a descendência familiar e sua organização. Tal situação mudou radicalmente quando a humanidade percebeu que a participação do homem era imprescindível para a geração de outro ser humano. Um outro fator que contribuiu para mudar a ordem das coisas foi a transformação do estilo de vida nômade para o sedentário, e com isso o início da agricultura e a necessidade de uma organização social mais complexa que desse conta de definir as funções sociais.
A idéia de que a família atual está em crise tem povoado a mente preocupada de pais e educadores. Nesse contexto, os problemas com que se passou a chamar limites na educação constituem o maior desafio. O grande dilema é compreender o que estaria levando as crianças a tornarem–se cada vez mais exigentes, intransigentes e desobedientes, como reclamam os pais, ou ainda, o que está ocorrendo em sala de aula das escolas, que traz tanta dificuldade para as professoras. O que fazer frente a isso?
Seria ingenuidade acreditar que a crise da família e os problemas dos limites na educação dos filhos estejam sendo causados por uma nova tendência social ou psicológica, algo imaterial e transcendente.É preciso ser real e reconhecer que somos nós, homens e mulheres, os responsáveis pela organização de nossas formas de viver, de se relacionar, responsáveis pelas escolhas que fazemos e por nossas decisões.Nem sempre somos livres para escolher o que queremos.Marx já nos dizia:
“ O homem constrói a sua história, porém nem sempre da forma como desejaria. Assim, também nós, somos responsáveis pela forma como organizamos nossa vida familiar, o casamento, a educação dos nossos filhos, embora as coisas nem sempre tome
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