Esquema corporal
Pesquisas Acadêmicas: Esquema corporal. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Elizandro_XGames • 22/6/2013 • Pesquisas Acadêmicas • 2.873 Palavras (12 Páginas) • 669 Visualizações
Esquema corporal
Newra Tellechea Rotta
No estudo da evolução das idéias sobre esquema corporal encontramos que, no fim do século 19 e no início do século 20, diferentes autores passaram a se preocupar com o estudo do corpo.
Krishaber descreve pela primeira vez alterações no que chamou “percepção bruta”, em 1873, em um paciente com perturbações da personalidade. Ribor concorda com Krishaber e comenta o papel das perturbações sensoriais na patologia da personalidade. Uma das primeiras tentativas para abordar este problema sob um ângulo fisiológico foi feita por Bonnier, em 1893, quando disse que a origem de nossa atividade, a partir de todas as sensações e percepções, nos leva sempre à noção de espaço. Mais tarde, em 1905, o mesmo Bonnier observa que este sentido de espaço se concretiza em um esquema de corpo que chamou de “configuração topográfica de nossa corporalidade”, ou “atitude de nosso corpo”. Surgiram, posteriormente, os trabalhos de Pick, autor de expressão “imagem especial do corpo”; de Schilder, sobre o “esquema corporal”, noção esta dependente não só da atividade motora, como também dos aspectos emocionais e das necessidades biológicas. Outros autores, como Head, conceituaram a mesma situação de diferentes formas. Para este se tratava de um “esquema postural”, imagem tridimensional que o indivíduo tem dele mesmo. Esta imagem é formada por muitos esquemas, que constituem o esquema original.
Von Boggaert chamou de “imagem de si” o que para Lhermitte era “imagem de nosso corpo” e para Hécaen e Ajuriaguerra, “somatognosia”.
Segundo Lhermitte, a expressão “esquema corporal”, empregada por Bonnier, Head e Schilder, não corresponde à realidade, pois não se trata de um esquema, e sim de uma imagem corporal que, como toda a percepção e toda a representação, não está pronta ao nascer. Vai sendo edificada pela criança. Lhermitte diz que a imagem que fazemos do nosso próprio corpo não é tênue e nem um presente do céu; é uma imagem edificada peça por peça, que assume uma estrutura sólida, capaz de suportar as perturbações a que se expõe diariamente.
Schilder, mais tarde, diante de novos dados clínicos, amplia e sistematiza a concepção de Head ao dizer que a imagem corporal é uma integração da Gestalt biológica e estável com uma Gestalt em contínua modificação a partir de impressões sensoriais e motoras, de reações conscientes ou automáticas, de condições sociais e de fatores psicológicos que se integram em uma Gestalt individual.
Os estudos psicanalíticos muito contribuíram para o conceito de esquema corporal. A organização do “Eu” nada mais é que a fusão do “eu” psíquico com o “eu” corporal. Para Freud o ego é antes de tudo um ego corporal, Para Ajuriaguerra não se pode separar, na criança, o corpo do psiquismo, já que a principal forma de ela expressar suas necessidades e suas emoções é através do corpo.
O estudo das patologias neurológicas capazes de desintegrar a noção de esquema corporal já adquirido pelo indivíduo adulto tem auxiliado para o conhecimento da integração dessa mesma noção. O transtorno de nossa imagem corporal pode ocorrer por lesões em diferentes alturas do sistema nervoso. Por exemplo, a ilusão do membro fantasma pode ocorrer desde por uma lesão do sistema nervoso periférico nos amputados, até por lesões hemisféricas, constituindo as alucinações cinestésicas, ou seja, a falta de conhecimento do defeito. É a anosognosia descrita por Babinski, em que o hemiplégico nega sua paralisia, imaginando que se hemicorpo paralisado se move normalmente.
A imagem do corpo de cada indivíduo é construída a partir de todas as formas de sensibilidade, geral e especial, integradas com a motricidade, da integração das percepções com o gesto e das representações com as ações.
Infância e adolescência: psicologia do desenvolvimento, psicopatologia e tratamento. Org. por José O. Outeiral. Porto Alegre, Artes Médicas, 1982.
O desenvolvimento do esquema corporal caminha, pois, passo a passo com o desenvolvimento sensório-motor. No recém-nascido se observa uma confusão total entre seu mundo interior e o mundo exterior; eles são separados progressivamente, ao mesmo tempo em que se organizam. De uma maneira geral, o conhecimento que a criança adquire de seu corpo é, inicialmente, parcial, regional e assimétrico. Vai sendo construído lentamente, pressupondo a noção do espaço.
Pode-se dizer, quanto à noção de espaço, o mesmo que Guyau disse com relação a noção de tempo e Dellais, quanto à memória: “(...) é uma obra de arte que a patologia a qualquer momento destrói”. Como exemplo, vamos citar uma paciente com um quadro de epilepsia focal parietal e que, de forma episódica, tinha a sensação de apresentar um membro extranumerário, próximo ao seu braço esquerdo. Outra paciente com patologia semelhante relatava que sua cabeça abandonava o corpo e andava alguns metros à sua frente.
Nas primeiras etapas da vida, tem grande importância a manipulação que a mãe faz no recém-nascido e no lactente, enviando estímulos sensitivos e desencadeando respostas motoras fundamentais para o desenvolvimento da noção de esquema corporal. A atividade do lactente se desenvolve em um ritmo relacionado com as alterações tônicas que sofre seu organismo, dependentes da satisfação ou não das suas necessidades. A isto Ajurriaguerra chamou “diálogo tônico”, de grande importância para a aquisição da linguagem falada posteriormente. A evolução da linguagem modifica a imagem corporal em desenvolvimento. Desde a lalação até a palavra-frase, a palavra vive uma dimensão corporal que se associa com a dimensão espacial e temporal, resultando desse conjunto a harmonia da comunicação.
A imagem do corpo é elaborada e mantida a partir de dados sensoriais. A somastesia está entre os principais dispositivos sensoriais que possibilitam o conhecimento do nosso corpo. As primeiras sensações intero e exteroreceptivas do feto ocorrem no quarto mês de vida intra-uterina, primeiro na face a í uma sensibilidade mais discriminativa aparece na região da boca e tem grande importância na sucção. Mais tarde, observa-se a maturação da sensibilidade profunda, seguida da discriminativa e, finalmente, do sentido das atitudes segmentares e da palestesia, que se adquirem em torno dos três aos quatro anos de idade.
Quando às sensibilidades especiais, sabemos que no oitavo mês de vida intrauterina o feto reage a estímulos auditivos intensos. No sétimo mês fetal,
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