Fichamento A Noção de Cultura nas Ciências Sociais
Por: Kamilla Kamilla • 26/8/2021 • Resenha • 3.092 Palavras (13 Páginas) • 194 Visualizações
Cuche, Denys. A Noção de cultura nas ciências sociais . Bauru: EDUSC, 1999
Capítulo 1: Gênese social da palavra e da ideia de cultura
A noção de cultura é inerente à reflexão das ciências sociais. E é necessária para pensar a unidade da humanidade na diversidade para além dos termos biológicos. Ess a noção fornece a resposta mais satisfatória à questão da diferença entre os povos, contra a resposta baseada na noção de “raça” (p. 9)
- O ser humano é essencialmente um ser de cultura (p. 9). É a cultura que torna possível a transformação da natureza (p . 10).
- Se todas as populações humanas possuem a mesma carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais. A noção de cultura é o instrumento adequado para acabar com as explicações naturalizantes dos comportamentos humanos. A própria naturez a é interpretada pela cultura (p. 10)
Nada é puramente natural no homem. Mesmo aquelas funções que
correspondem a necessidades fisiológicas (fome, sono, desejo sexual) são informadas pela cultura: as sociedades não dão as mesmas respostas culturais a estas necessidades.
- Cultura remete também à questão da identidade. Esses são conceitos que remetem a uma mesma realidade. Quando se fala na identidade de um grupo, se está aludindo à idéia de unidade cultural dele. E se leva em conta as relações dele com outros grupos e como ela influencia nesse processo de formação de uma identidade (p. 14)
- A invenção do conceito de cultura é reveladora de aspectos da cultura onde surgiu –a “ocidental”. Essa palavra não tem um equivalente na maior parte das línguas estudadas pelos/as antropólogos/as. [Conceito de cultura é ocidental – século XVIII]. Isso não significa que as sociedades não tenham suas culturas! Mas que essa questão não lhes é importante muitas vezes. É importante para quem as estuda.
- Vai falar sobre a gênese do conceito nas ciências sociais fundamentalmente (p.
18)
- No século XVIII, cultura é sempre empregada no singular, o que reflete
universalismo e humanismo dos filósofos. Homem, em maiúscula. Cultura do Homem (p. 21).
- Tanto o uso de cultura quanto de civilização, no século XVIII, marcam uma concepção histórica dessacralizada. A filosofia da história se liberta da teologia. Homem no centro das reflexões e do universo [sujeito e objeto de conhecimento].
- Surgem as condições para o desenvolvimento das “ciências do homem” (p. 23).
- Essa cultura que distinguia no século XVIII a intelectualidade alemã, no XIX vai se converter em marca distintiva da Nação inteira (p. 26). Expressão de uma consciência nacional que questiona sobre o aspecto específico do povo alemão que não conseguiu ainda sua “unificação política”. Diante das poderosas França e Inglaterra, glorificando sua cultura a Alemanha esfacelada e enfraquecida por divisões políticas pôde afirmar sua existência (p. 27)
- Por isso que no século XIX a noção distancia-se da noção francesa de
civilização. Enquanto uma tende à universalização, a outra busca especificidades. Por isso se diz que a cultura, na Alemanha, era uma noção particularista. Enquanto civilização é universalista, expressão de uma nação unificada desde há muito e com pretensões expansionistas já (p. 27). Preocupações diferentes
Johann Gottfried Herder, em 1774, final do XVIII, Uma outra filosofia da história, já criticava a noção de civilização e ressaltava a especificidade de cada cultura. Cada cultura exprimiria à sua maneira um aspecto da humanidade [essa idéia se mantém] (p. 27). Espécie de precursor do conceito relativista de cultura [Dumont, por exemplo, diz isso] (p. 28)
-Essa noção evolui no século XIX ligada ao nacionalismo. Cultura liga-se à idéia de “Nação”. Vem da alma, do gênio de um povo. A nação cultual precede a nação política. Cultura como conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais que constituem o patrimônio de uma nação, algo que funda sua unidade (p. 28).
“O debate franco-alemão do século XVIII ao século XX é arquetípico das duas concepções de cultura, uma particularista, a outra univers
alista, que estão na base das duas maneiras de definir o conceito de cultura nas ciências sociais contemporâneas” (p. 31)
Capítulo 2. A invenção do conceito científico de cultura
-Antropologia: como pensar a especificidade humana na diversidade dos povos e dos costumes?
-Postulado da unidade do ser humano, herança da filosofia iluminista. A dificuldade é pensar essa unidade na diversidade. Proposta é dar outra explicação à diversidade, diferente da suposição de “raças” diferentes. Dois caminhos serão percorridos: um que privilegia a unidade e minimiza a diversidade –ela seria “temporária” –é o esquema evolucionista (p. 33); o outro caminho dá importância à diversidade, preocupando-se em demonstrar que ela não é contraditória com a unidade da humanidade (p. 33-34). O conceito que vai permitir enfrentar essa problemática é o de cultura (p. 34)
-A introdução do conceito difere de país a país. E não houve entendimento entre as diferentes “escolas” sobre a questão de saber se era preciso utilizar o conceito no singular (a Cultura), numa acepção universalista; ou no plural (as culturas), numa acepção particularista (p. 34-35)
-Edward Burnett Tylor, antropólogo britânico, que em 1871 define a cultura como um todo complexo. Uma definição que se pretende descritiva, objetiva. Rompe com as descrições restritivas –a cultura é a expressão da totalidade da vida social do homem. Caracteriza-se por sua dimensão coletiva. E é adquirida, não depende da hereditariedade biológica (p. 35)
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