Fichamento, Laraia, Roque de Barros. Como opera a cultura. Cultura um conceito antropológico
Por: Matheus Faria • 27/6/2016 • Resenha • 1.392 Palavras (6 Páginas) • 4.901 Visualizações
LARAIA, Roque de Barros. Como opera a cultura. In: _____. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 65-101
A cultura condiciona a visão de mundo do homem
Nesse capítulo Laraia foca no fato de que quando o homem vê o mundo através de sua cultura consequentemente tende a considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência é denominada etnocentrismo, responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.
Como há uma variedade enorme de culturas, também existe várias formas que o homem pode enxergar o mundo. As heranças culturais desenvolvidas através das gerações, condicionam a desvalorização do comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade.
Assim, continua Laraia, essa oposição de pontos de vistas ocasionada pelas culturas distintas, expressa em níveis diferentes essa tendência. Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre sob a forma de parentes e não-parentes. Os primeiros recebem um tratamento diferenciado. A exibição desta separação para o plano extra grupal resulta em manifestações nacionalistas ou em formas mais extremas como a xenofobia.
Uma pessoa pode ser facilmente adequada na sua respectiva cultura, devido às características típicas que cada sociedade apresenta e que permite diferenciá-la das demais, uma vez que até mesmo simples ações podem se diferenciar de cultura para cultura, neste trecho o autor explicita essas ações: “todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (...) depende de um aprendizado e este da cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do povo” (p.70e71).
A cultura interfere no plano biológico
Na discussão sobre a atuação da cultura sobre o biológico, o autor faz referência ao campo das doenças que não têm origem apenas corporal, mas tem origem na psique, dizendo que estas são fortemente influenciadas pelos padrões culturais. Por exemplo, quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação perigosa, certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses alimentos.
Algumas crenças também podem levar ao que se chama de “doenças psicossomáticas”, em que o indivíduo fica adoentado em função da realização de algumas práticas consideradas não saudáveis, apesar de ser comprovada cientificamente. “A cultura também é capaz de provocar a cura de doenças, reais ou imaginárias. Essa cura acontece quando existe a fé do doente na eficácia do remédio e no poder dos agentes culturais” (p.77).
Assim, Laraia, diz que a cultura também é capaz de provocar curas de doenças, reais ou imaginárias. Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do remédio ou no poder dos agentes culturais.
Os indivíduos participam diferentemente na sua cultura
Laraia começa por afirmar que a participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura. Nenhum sistema de socialização é perfeito, em nenhuma sociedade são todos os indivíduos igualmente bem socializados, pelo contrário, alguns podem permanecer completamente ignorante a respeito de alguns aspectos.
Uma dessas limitação na participação se aplica à idade. “Mas é necessário saber que esta afirmação permite dois tipos de explicações: uma de ordem cronológica e outra estritamente cultural” (p.81). Certamente, indivíduos de faixas etárias diferentes não estão aptos a realizarem os mesmos trabalhos por motivos de ordem prática, cronológica. Nas restrições de ordem cultural, as razões não são tão evidentes.
Assim, conclui Laraia, o importante, porém, é que deve existir um mínimo de participação do indivíduo na pauta de conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os demais membros da sociedade.
A cultura tem uma lógica própria
Anteriormente aceitava-se existir sistemas culturais lógicos e sistemas culturais pré-lógicos. Tal afirmação não encontrou, por parte dos pesquisadores de campo, qualquer confirmação empírica. Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. Infelizmente, a tendência mais comum é de considerar lógico apenas o próprio sistema e atribuir aos demais um alto grau de irracionalismo.
A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence.
Um trabalho fundamental para a compreensão deste problema é o livro de Claude Lévi-Strauss, O pensamento selvagem, que refuta a abordagem evolucionista de que as sociedades simples dispõem de um pensamento mágico que antecede o científico e que, portanto, lhe é inferior. Assim, ao invés de um continuo magia, religião e ciência, temos de fato sistemas simultâneos e não-sucessivos na história da humanidade.
A ciência não depende da dicotomia entre os tipos de pensamento citados acima, mas de instrumentos de observação, pois como enfatizou Lévi-Strauss: “o sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a cultura, definida por um período da história em que vive, a civilização que é a sua e os meios materiais que dispõem”.
Sem estes meios materiais o homem tem que tirar conclusões a partir de sua observação direta, valendo-se apenas do instrumental sensorial que dispõe. Assim, não é nada ilógico supor que é o Sol que gira em torno da Terra, pois é esta sua sensação.
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