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Filme Germinal: Uma análise

Por:   •  2/11/2019  •  Resenha  •  1.659 Palavras (7 Páginas)  •  296 Visualizações

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        O filme Germinal se passa na França do século XIX e reproduz claramente o contexto social, político, cultural e econômico daquela sociedade, naquele momento, contudo a problemática social pode ser vislumbrada nos tempos hodiernos.

        A obra, que inicialmente era um romance, escrito por Émile Zola, vira filme, tem como perspectiva a luta de classes. Mostra o processo de produção do trabalho do modelo capitalista, a expansão do chamado capital, mostrando o antagonismo entre as necessidades humanas e as materiais. Vale destacar a  possibilidade da existência de uma nova organização social que trouxesse mais igualdade entre a sociedade e o poder que o ambiente social exerce sobre as relações familiares.

        Émile Zola enfoca em sua obra as péssimas condições de trabalho; um ambiente desumano, degradante e inóspito; jornadas de trabalho excessivas; remuneração esdrúxula, com isso, trabalhadores famintos e miseráveis. Engels relata um pouco essa situação, 

“os homens que iniciam sua vida laboral precocemente nas minas não atingem o desenvolvimento físico, muitos morrem ainda jovens vítimas de tuberculose e outros na meia idade; é comum o envelhecimento precoce, que torna os homens ineptos para o trabalho entre 35 e 45 anos; [...] contraem inflamações agudas nas vias respiratórias que levam habitualmente a consequências fatais.” (Engels)

        Calha gizar a incontestável segregação social destacada em todo o filme, pois de um lado estão os trabalhadores que possuem apenas de sua força produtora – o proletariado - e do outro os que dispõem dos instrumentos e recursos necessários para a produção e, por conseguinte, a exploração – a burguesia. “A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das antigas.” (Marx e Engels, 1998, pp.09-10)

        Transcrevo abaixo uma obra de arte, a música “Cidadão” do cantor Zé Ramalho, que demonstra, de forma clara, a divisão do trabalho por classes, e, com isso, a exploração do trabalhador pelas forças dominantes:

Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar

Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?

Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar

Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar

Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer

Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também

Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse

Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar

        Voltando ao filme Germinal, este caracteriza-se como uma obra que mostra o movimento operário francês, tendo, como resultado forte engajamento social. Lantier é o personagem militante que organiza e orienta os demais trabalhadores em proveito de uma luta contra as doenças, a fome e as condições deteriorantes em que se encontravam. Paulatinamente a manifestação contribui para deflagração de uma greve que começa a tomar enormes proporções e alcança as outras minas, após vários mineiros declararem apoio à revolta, os detentores do capital convocam tropas, que, por sua vez, deixam os confrontos ainda mais acirrados, violentos e sangrentos. Lamentavelmente, houve muitas mortes entre os proletariados, o que consolidou ainda mais para o insucesso dessa classe.

        A propagação das idéias comunistas, sindicalistas, socialistas pelo mundo, nem sempre foram bem aceitas pelo próprio proletariado receioso com as suas consequências, como no caso do marido da filha do personagem de Gerard que quando consegue uma melhor colocação na companhia abandona a causa, bom como Marx pontuou: “era necessário uma consciência de classe para o início de uma real revolução por parte do proletariado.”

        Todavia, para o autor, a revolta não foi vencida completamente, visto que agora os trabalhadores finalmente tinham exposto a sua força e seu poder para mudarem a condição social vigente. Esse pensamento comunga de forma clara com as ideias defendidas por Marx, em que os pertencentes das classes mais baixas deveriam acordar de seu estado de alienação, que se impôs pelos dominantes, e, unidos, lutarem por mudanças.

        Nestas modificações devemos levar em conta a educação como sendo uma das bases da formação humana, que tem como um de seus objetivos, provavelmente o maior, o processo de humanização do ser, um caminho para levar o homem de seu ambiente natural subjetivo para uma forma intersubjetiva de viver em sociedade com outros seres de sua espécie, e também com outros animais e a natureza. Esse processo de humanização não acontece de maneira mecânica, instantânea, como algo pronto, acabado, com a forma pré-determinado, ele se constrói nas contradições, na dinâmica do cotidiano, nos problemas, na busca pela superação da realidade desumanizadora que o homem se coloca nas suas relações com a natureza e os outros.

        A formação integral, proporcionada pela escola unitária gramsciana, mostra-se como possibilidade de superação do homem alienado pelas relações de consumo e produção. Para isso temos grandes desafios a ser percorrido, não esperando as condições ideais para buscar essa formação, mas sim trabalhando nas condições atuais, com as contradições e limitações que encontraremos.

        Importante destacar que o proletariado acaba por produzir a sua existência alheia de qualquer fundamentação científica, sendo apenas meros executores, desconhecendo a natureza de sua atividade, reduzindo-se a força produtiva e simples meio de produção de valor. Com estas circunstâncias, é praticamente impossível uma formação humana.

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