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GEERTZ E LEACH: DUAS POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM EM ANTROPOLOGIA

Por:   •  10/7/2019  •  Artigo  •  5.168 Palavras (21 Páginas)  •  242 Visualizações

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GEERTZ E LEACH: DUAS POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM EM ANTROPOLOGIA

RESUMO: Este artigo analisa e confronta obras de Clifford Geertz e Leach Edmund. Tece considerações acerca de suas características, além de descrever detalhadamente os principais aspectos dos dois autores, a fim de que se possa colocar em destaque a importância da concepção interpretativa de Geertz, bem como da abordagem estruturalista de Leach.

Palavras-chave: Antropologia, Interpretativismo, Estruturalismo.

ABSTRACT: This article analyzes and collates the workmanships of Clifford Geertz and Leach Edmund. It weaves considerations concerning its characteristics, besides at great length describing the main aspects of the two authors, for to detach the importance of the interpretive anthropology conception of Geertz, and the structural anthropology boarding of Leach.

Key-words: Anthropology,Interpretive anthropology, Structural anthropology.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto da investigação voltada para a análise das obras: Interpretação das Culturas[1] de GEERTZ (1978) e Aspectos antropológicos da linguagem: categorias animais e insulto verbal de LEACH (1983), de maneira a confrontá-las, complementá-las e refletir acerca de outras correntes teóricas. O mesmo foi idealizado como instrumento de reflexão sobre duas concepções distintas na Antropologia, perpassando por discussões acerca do conceito de cultura, da prática da etnografia, da linguagem e do tabu.

Objetiva-se aqui debater a teoria interpretativista geertziana com o estruturalismo de Leach, contextualizando historicamente essas correntes teóricas dentro da Antropologia. Pretende-se analisar as características das duas concepções analisadas, refletindo em minúcias as propostas dos dois autores. De forma que a construção metodológica se baseia na análise crítica, sobretudo, das obras bibliográficas de GEERTZ (1978) e LEACH (1983).

O presente trabalho justifica-se por: ser factível, já que há fontes bibliográficas abundantes na caracterização dessas duas correntes teóricas; ser de relevância social, uma vez que trata da compreensão das culturas ditas exóticas, bem como da ocidental, contribuindo, pois, para as incomensuráveis discussões antropológicas; e por ter originalidade.

GEERTZ VERSUS LEACH

Clifford Geertz, fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea, a chamada antropologia hermenêutica ou interpretativa, é autor de vastas obras, dentre as quais destacam-se _ A Interpretação de Culturas (1978), Negara (1980) e O Conhecimento Local (1983) _ nas quais propõe a observação de outras culturas com a tentativa de compreender os elementos constitutivos de uma sociedade. Em A Interpretação de Culturas, o conceito de cultura é dado como um sistema simbólico formado pela interação entre os indivíduos e destes com a comunidade. A obra de LEACH (1983) por sua vez trata, sobretudo, do tabu[2], o autor usa do estruturalismo, consolidado por LEVI-STRAUSS (1982), para analisar o tabu comparado com a linguagem da sociedade inglesa, citando, também, um exemplo de língua não européia, a Kachin[3].

GEERTZ (1978) inicia o texto lembrando que seu objetivo é o de limitar, especificar, enfocar e conter, reduzindo o conceito de cultura a uma dimensão que o autor considera “justa”, assegurando sua incessante importância, limitando e especificando esse conceito. O autor, ainda, critica o deslumbramento dos intelectuais perante uma nova teoria[4].

O conceito de cultura foi amplamente explorado por vários pensadores[5]. GEERTZ (1978) expõe esse conceito por alguns pensadores como Clyde Kluckhohn, que por sua vez acredita ser:

O modo de vida global de um povo; o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo; uma forma de pensar, sentir e acreditar; uma abstração do comportamento; uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente; um celeiro de aprendizagem em comum; um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes; comportamento aprendido; um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento; um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens; um precipitado da história (KLUCKHOHN apud GEERTZ: 1978, p. 14).

Assim, a cultura é vista de forma holística[6]. GEERTZ (1978) critica a abordagem mecanicista que não se atém ao contexto histórico da organização social e ao papel do indivíduo. Por seu lado, a cultura como um produto de conjuntos simbólicos seria a resposta pública ao relacionamento social. A lógica da vida real é que deveria, assim, ser objeto de estudo antropológico.

GEERTZ (1978) acredita que a ciência interpretativa, proposta por ele, é a procura do significado, enquanto a ciência experimental é a procura de leis. O autor propõe interpretar a rede de significados construídos pelos indivíduos, rede essa que é a cultura, de maneira que a compreensão da ciência se dá observando o que os praticantes dela fazem.

Enquanto GEERTZ (1978) preocupa-se em consolidar sua antropologia hermenêutica, discorrendo sobre a maneira correta de tratá-la, LEACH (1983) pratica o estruturalismo, sem, no entanto, analisá-lo como viés antropológico.

GEERTZ (1978) levanta uma análise acerca da prática etnográfica, que, para o autor, se caracteriza por: estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, mapear campos, etc. O pesquisador acredita que o texto antropológico é ele mesmo interpretação, pois é algo construído.

Os cuidados em analisar o material etnográfico e a elaboração de um relatório não terminam em captar os fatos ocorridos em campo, mas em interpretá-los e em diminuir a perplexidade do investigador. De forma que deve ser levado em conta o risco de uma descrição densa (GEERTZ, 1978).

        Para GEERTZ (1978) o antropólogo deve fazer Etnografia, o que para o pesquisador se traduz: na descrição da forma e jeito daquele grupo, não descrevendo superficialmente, mas o que está por trás das ações do grupo; na tentativa de descrever a razão do grupo agir de uma determinada maneira; na descrição da ação realizada pelo grupo; na interpretação desta ação descrita; na busca pelo significado para o grupo de uma ação. Neste último aspecto, GEERTZ (1978) exemplifica com o que já é um célebre exemplo, que são as piscadelas, que por sua vez dentro de um grupo podem ter significados diversos, cabendo ao etnógrafo a tentativa de interpretá-los corretamente, analisando as regras, normas e valores que estão por trás dessa ação ou que alicerçam essa ação.

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