HUMILHAÇÃO E INVISIBILIDADE SOCIAL: O Cortador De Cana De açúcar Num Contexto De Desigualdade
Monografias: HUMILHAÇÃO E INVISIBILIDADE SOCIAL: O Cortador De Cana De açúcar Num Contexto De Desigualdade. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: gilliardml • 18/9/2014 • 1.504 Palavras (7 Páginas) • 548 Visualizações
Os cortadores de cana são trabalhadores de nosso país que vivenciam uma das maiores e mais perversas humilhações, a social. Trata-se de uma população predominantemente pobre, ou extremamente pobre que fazem uso do trabalho manual como forma de subsistência, submetendo-se aos mais diversos problemas, como o clima, as queimadas, e os animais peçonhentos. Além de passar pelo problema da baixa remuneração, e do trabalho quase que escravo.
Um dado alarmante quanto a este trabalho se dá pela remuneração paga a estes trabalhadores, como da figura a seguir retirada do livro Analise Coletiva do Trabalho dos Cortadores de Cana da Região de Araraguara, São Paulo de Leda Leal Ferreira et al.
Analise Coletiva do Trabalho dos Cortadores de Cana da Região de Araraguara, São Paulo, 2 ª edição
É quase que desumana a realidade de trabalho enfrentada por estas pessoas, e por uma remuneração tão baixa e como comprovada no livro acima citado, muitas vezes ainda ceifada por atravessadores, fazendo desta remuneração ainda mais inferior.
A leitura de Humilhação Social nos remete a um problema político e psicológico, a humilhação social, uma modalidade de angustia disparado pelo impacto traumático da desigualdade de classes. A exemplo dos trabalhadores cortadores de cana que estamos discutindo. FILHO, 1998 nos remete a FREUD e MARX para explicar o fenômeno mostrado no texto. Afirma que é impossível entrar no tema de humilhação social sem remeter-se a tal pensadores. Colocando-os não como opositores em pensamentos mas neste caso em especifico como iguais no memento é que nos afirma:
“situação intermediária, situação ambígua da humilhação, fenômeno externo-interno, é o que nos faz encontrar tanto a Marx quanto a Freud, beneficiando-nos do fato essencial de que tanto Marx – atento às determinações econômicas – quanto Freud – atento às determinações pulsionais – afinal ensinaram-nos a encontrar o homem em situação inter-humana, o homem havendo-se com os outros homens mais do que com mecanismos. O mecanísmico no homem, que em Marx vem com a mercantilização das relações sociais e em Freud com a formação das pressões inconscientes, o mecanísmico no homem não é um fato natural mas histórico e intersubjetivo”. (FILHO, 1998)
É importante enxergar esse fenômeno como uma modalidade de angústia disparada pelo estigma da desigualdade de classes, ou seja, percebemos claramente uma situação política de luta de classes, bem como uma situação de agravo extremo psicológico. O autor nos mostra como exemplos os bairros pobres em todos os seus aspectos, suas características físicas, bem como as características marcantes das pessoas que ali residem. Alem da humilhação imposta pelo avanço da conduta capitalista e suas especificidades, como a monocultura que expulsa famílias e diversidades naturais para um único fim, o crescimento de uma cultura visando o lucro.
A idéia de exclusão como um dos fatores da humilhação social é tema recorrente e nem um pouco atual, se nos reportarmos ao período da escravidão no Brasil, mesmo com o fim desta não tivemos políticas para a reinserção deste povo aos meios da época, a reforma agrária e urbana não eram cogitadas, o que forçava a população a imergirem aos quilombos sem as mínimas condições de subsistências, ou mesmo continuar trabalhando nas fazendas a troco apenas da alimentação, aumentando ainda mais o estigma da humilhação. No transcorrer do artigo é citada a questão de trabalhadores que migraram em grande parte do Nordeste Brasileiro para os grandes centros, como São Paulo em busca de melhores condições de vida, e que sofrem a humilhação em todos os aspectos, ao sair de seu lar, ao chegar em um novo centro predominantemente capitalista e excludente.
FILHO, 1998 é categórico ao nos afirmar que
Há ainda razões radicais para a repetição de uma antiga denúncia: as Sociedades Burguesas, guiadas pelos imperativos do Mercado e não pelos imperativos da vida em comum, esvaziaram e tornaram maquinais os relacionamentos sociais. Generalizada mercantilização das relações sociais, a retificação atravessa os bairros todos, cegando atenção para os encontros metropolitanos.
As relações sociais tornaram-se superficiais e mecânicas, o individuo deixou de enxergar o próximo como um ser e passou e olhá-lo como uma peça de um mecanismo muito maior, porém essa visão muitas vezes não é perceptível as pessoas, tornou-se algo inconsciente e puramente mecânico. O autor toma como exemplo a época em que era possível conhecer as pessoas com quem nos relacionávamos, como padeiros, mecânicos, venderes pelos nomes e não mais como ofertantes de algo.
WEIL, 1979, p. 349 apud filho diz que:
“Existe uma condição social inteira e continuamente presa ao dinheiro, é a do assalariado, sobretudo desde que o salário por empreitada obriga cada operário a ter sua atenção sempre voltada para a contagem dos tostões. Nessa condição social é que a doença do desenraizamento é mais aguda.”
O viés capitalista criou o ideal frenético quanto ao dinheiro, às pessoas tornaram-se frutos do que possuem, e os que não possuem condições tornam-se mais uma vez excluída de um sistema que tem essa única função. A humilhação social é então fruto de todo um sistema excludente e mecanicamente premeditado, sem a população pobre o sistema não funcionaria, sem a mão de obra pouco qualificada a classe burguesa não cresceria. O operário vivendo basicamente com medo de desagradar e perder seu único sustento, o sistema é mantido dessa forma, a humilhação social é grande parte do sistema capitalista vigente.
Além da humilhação social, a questão a invisibilidade social descrita por Braga da Costa em sua tese com os garis da USP, é uma questão clara quando nos remetemos as classes baixas de nosso país, o ser torna-se invisível aos da classe mais abastada, um fenômeno explicito em todos nos grandes centros, não só com os garis citados por Braga Costa em seu livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, de 2004, mas diversos trabalhadores de classes baixas, como os cortadores de cana, os boias frias, os ambulantes. A invisibilidade gera nestes trabalhadores sentimentos e traumas profundos, como o da rejeição e sentimento de não pertencente ao grupo.
Infelizmente é um tema que está relacionado a pessoas que exercem profissões de baixa renda, pouco grau de escolaridade e sem nenhum tipo de relacionamento
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