História da ciências sociais
Por: fapitor • 28/5/2016 • Projeto de pesquisa • 6.852 Palavras (28 Páginas) • 200 Visualizações
História da ciências sociais
As ciências sociais surgiram na Europa do século XIX, mas foi no século XX, em decorrência das obras de Marx, Durkheim e Weber que as ciências sociais se desenvolveram. O carro-chefe foi a sociologia: neologismo criado pelo francês Comte, seu primeiro professor.
Durkheim e seus pares se esmeraram na busca de regras de método que elevassem ao status científico o conhecimento sobre a sociedade. Marx, ao contrário, mal visto pelos seus pares, foi encontrar na classe trabalhadora sua identidade. As atrocidades das relações de trabalho da época fizeram com que ele atribuísse a esse grupo social, assim definido em relação ao sistema econômico capitalista, ora a força da transformação da sociedade, ora apenas uma peça do complexo quebra-cabeças da história. No meio-termo entre o academicismo e o militantismo, está a participação de Weber, para quem a ciência e a política são duas vocações distintas. Distintas, mas comensuráveis: ele próprio teórico da burocracia e do processo de modernização, contribuiu para a burocratização e modernização da Alemanha, ocupando cargos políticos.
Moral privada e moral mundial. – Após o fim da crença de que um deus dirige os destinos do mundo e, não obstante as aparentes sinuosidades no caminho da humanidade, a conduz magnificamente à sua meta, os próprios homens devem estabelecer para si objetivos ecumênicos, que abranjam a Terra inteira. A antiga moral, notadamente a de Kant, exige do indivíduo ações que se deseja serem de todos os homens: o que é algo belo e ingênuo; como se cada qual soubesse, sem dificuldades, que procedimento beneficiaria toda a humanidade, e portanto que ações seriam desejáveis; é uma teoria como a do livre-comércio, pressupondo que a harmonia universal tem que produzir-se por si mesma, conforme leis inatas de aperfeiçoamento. Talvez uma futura visão geral das necessidades da humanidade mostre que não é absolutamente desejável que todos os homens ajam do mesmo modo, mas sim que, no interesse de objetivos ecumênicos, deveriam ser propostas, para segmentos inteiros da humanidade, tarefas especiais e talvez más, ocasionalmente. — Em todo caso, para que a humanidade não se destrua com um tal governo global consciente, deve-se antes obter, como critério científico para objetivos ecumênicos, um conhecimento das condições da cultura que até agora não foi atingido. Esta é a imensa tarefa dos grandes espíritos do próximo século.
F. W. Nietzsche
Humano, Demasiado Humano (1878)
I. À guisa de introdução: D. H. Fischer e a lógica na história
Há exatos trinta anos, David Hackett Fischer publicou um livro notável, chamado Falácias de Historiadores.(1) Iniciar uma comunicação entre professores de história com uma alusão a tal título seria uma provocação imperdoável, não fosse o conteúdo do livro quase inteiramente aplicável a qualquer um de nós, genericamente designáveis como "cientistas sociais". Num breve prefácio ao volume, Fischer investe contra certa disseminação de uma atitude ingenuamente empirista entre estudiosos de assuntos históricos, revelada na rejeição explícita da "lógica" em favor da atenção escrupulosa aos "fatos". (2) Naturalmente, Fischer procurará sublinhar ao longo do livro o "fato" mais elementar de que qualquer compreensão do mais banal dos eventos deverá ser, ela mesma, lógica, se pretende ser inteligível e/ou comunicável. Para ilustrar o seu ponto, Fischer oferece ao leitor uma profusa descrição — alimentada com exemplos extraídos das obras de vários eminentes historiadores — de erros lógicos dos mais variados tipos, abundantemente presentes na historiografia sobre qualquer tema, e certamente presentes também naquilo que fazem os demais cientistas sociais, ao lidarem com um objeto de natureza histórica. Assim, ele divide seu livro em onze capítulos nos quais procura reunir as falácias que consegue identificar sob onze grandes grupos, a saber: falácias de elaboração do problema, de verificação factual, de significação factual, de generalização, de narração, de causalidade, de motivação, de composição, de falsa analogia, de distorção semântica, e de distração substantiva. Infelizmente, será impossível aqui descer a detalhes dos numerosos tipos de falácias que Fischer reúne em cada um desses grupos. Fica apenas a minha enfática recomendação para que todos procurem explorar o livro por conta própria (além de instrutivo, ele é bastante divertido), e mantê-lo sempre à mão para eventuais consultas.
Trago aqui a menção a esse livro porque entendo que ele lida de maneira particularmente explícita com um aspecto fundamental de todo esforço de compreensão de qualquer objeto de natureza empírica: o problema da imputação, a um fluxo em princípio caótico de eventos que têm lugar no mundo sensível, de um ordenamento de natureza lógica, implicativa, que lhe é atribuído, conscientemente ou não, pelo nosso simples esforço de compreender o que se passa. Naturalmente, à medida que nos referimos a um esforço "profissional" de compreensão do mundo (é o que fazemos, não?), espera-se que essa imputação seja feita de maneira tão consciente quanto possível acerca dos aspectos lógico-analíticos envolvidos. E aí entram trabalhos como o de Fischer, a nos mostrar o quanto estamos aquém do desejável nesta matéria — pelo menos no que toca às ciências sociais e históricas.
De fato, costumo usar o livro de Fischer nos meus cursos de metodologia, logo após passar algumas aulas naquela que é, talvez, a parte mais "técnica" da disciplina, numa extensa discussão sobre técnicas de survey e sua importância na explicitação dos vínculos entre teorização e evidência empírica. A ênfase na técnica de survey é bastante adequada para explicitar de maneira intuitivamente evidente as maneiras como se pode submeter uma hipótese a teste empírico rigoroso, sob precisos parâmetros estatísticos de validade, e, reciprocamente, oferecer pistas minimamente precisas sobre o trabalho de inferência indutiva de "leis gerais" a partir da evidência empírica de natureza estatística eventualmente disponível. Mas o risco disso tudo é caracterizar de maneira excessivamente restrita o âmbito de validade dessas operações lógicas: os alunos podem tender a acreditar que tudo isso se aplica apenas àqueles problemas dos quais nos podemos aproximar munidos de questionários, amostras, variáveis codificadas etc. etc. E imagino perfeitamente um estudante de história (mas não apenas de história) a perguntar-se:
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