LA MADRE VACA - HARRIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

MILENA REGISTRO

RESENHA CRÍTICA

Foz do Iguaçu

2017

HARRIS, Marvin. La madre vaca. Vacas, cerdos, guerras y brujas: los enigmas de la cultura. Madrid: Alianza Editorial, 1980. p. 15-36.

 

O antropólogo norte-americano Marvis Harris (1927-2001) foi o principal teórico do materialismo cultural, sendo o primeiro a incorporar o termo em 1968 em sua obra “A Natureza das Coisas Culturais”. Harris realizou diversos estudos sobre a temática étnico-racial na África, Índia, América do Sul e Brasil, sua obra inclui dezenove livros. Destacando dentre eles a evidente a repercussão na teoria do comportamento e na antropologia cultural.

Dentro do “Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas: os Enigmas da Cultura” é analisado no primeiro capítulo o sistema cultural da Índia a partir do Hinduísmo e demostrado através deste mesmo que não se pode julgar uma cultura sem conhecer-lha, ou ao menos sem dar a esta a oportunidade de esta se expressar.

Existe uma palavra da filosofia hindu chamada: “Ahimsa” que significa não violência, em uma melhor concepção isto quer dizer a existência de um sólido respeito por todas as formas de vida, e em particular por todos os animais. Sendo assim, os animais na Índia representam muito mais que uma simples companhia, eles estão estreitamente ligados a estrutura econômica, além de constituírem um elemento marcante em toda a cultura indiana.

Contudo, o animal mais relevante de qualquer região, religião, cultura e da vida diária indiana é a vaca. Sendo reconhecida por eles como a “mãe terra” que oferece alimento e vida, além de representar um dos vínculos mais estreitos com o céu e as divindades. Os indianos as consideram por natureza uma parte integrante de suas vidas conquanto, para os ocidentais este fenômeno gera estranhamento e confusão e, muitos afirmam que esta é a razão para a fome e pobreza na índia. No entanto, estes animais, apesar da maioria das vezes estarem em condições ruins de saúde, são utilizados em diversas atividades essenciais.

Dessa forma, as vacas não servem apenas para dar leite, se não que também é possível obter distintos benefícios de sua matéria fecal, por exemplo, pode se produzir fertilizante, ou se combinada com água pode se utilizar para limpar os pisos das casas e, uma das aplicações mais importantes é que o esterco é usado como combustível sobretudo para cozinhar os alimentos, pois ele proporciona uma chama leve que permite que os alimentos cozinhem lentamente.

Em virtude dessa afeição pelas vacas o governo do país instituiu leis para sua proteção e construções de abrigos, tornando as vacas e os bois “cidadães” de plenos direitos. Todavia, Harris diz que esse amor as vacas têm uma explicação prática também, visto que a agricultura é a principal atividade da população hindu e precisam desta para sobreviver. Por isso, diferentemente do ocidente, essa fonte de trabalho não é feita com a ajuda de máquinas como tratores, mas sim pela puxação dos bois, e é obvio que os bois provém das vacas então se uma delas morre pode significar a ruína total de uma família camponesa.

Quando uma vaca está donte ou morrendo, as famílias decidem não matá-la mas, nem tanto pelo respeito à vida e sim porque é ela é a única fonte de renda para essas famílias. Para mais, quando uma vaca chega a morrer é cedida aos “intocáveis”, isto é as castas inferiores que então se alimentam da carne e aproveitam do couro para fazer diversos produtos. Por isso também comer ou não comer carne de vaca forma parte da organização hierárquica e dos rituais que de alguma maneira estruturaram e classificam a sociedade.