Malandro é Malandro, Mané é Mané

Malandro é Malandro, Mané é Mané1

Skarlet Bruno de Sousa2

Bruno Azevedo3

1 DESCRIÇÃO DO CASO

Tratar-se-á de caso decorrente da disposição de seis condutas hipotéticas, de brasileiros distintos, tipicamente carregadas de deméritos e ações burlas: Militar reformado, que para salvar a vida da filha, se utiliza de contatos de alto nível que tem, a fim de conseguir a transferência da filha para o inicio da fila de espera para transplante de órgãos, da lista única definida pelo Ministério da Saúde; Motorista, que dirigindo sob efeito de álcool, é parado numa blitz e oferece suborno ao guarda para que este o libere; Após ser beneficiada por um deputado em um processo licitatório, uma empreiteira superfatura os valores da construção de uma ponte, destinando ao deputado generosa parte do dinheiro ilícito; Acadêmico do curso de direito faz cópia do paper de seu colega, e entrega ao professor; Homem que acabara de perder seu emprego, pai de 4 filhos, forja documentos a fim de elevar o valor de seu seguro desemprego; Deputado interfere ilegalmente em um processo de licitação para construção de uma ponte, beneficiando uma empreiteira que lhe corresponderá com grande quantia em dinheiro. Das seis condutas descritas acima, caber-nos-á analise à luz das teorias antropológicas que destinam-se à investigação de caráter nacional, visando aferição do grau de corrupção inerente a cada uma delas, bem como a qual(is) destas possa ser considerada a mais corrupta.

2 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição das Decisões Possíveis;

2.1.1 Da não existência de graus distintos de corrupção dentre as condutas:

Visando a contextualização das condutas hipotéticas, vinculadas ao aspecto histórico-social condicionante da construção e modelações do caráter nacional brasileiro, faz-se mister a compreensão de que tais condutas guardam iguais proporções de corruptibilidade, havendo possíveis diferenças em suas consequências, haja vista serem manifestações particulares de um sistema complexo e homogeneizado entre os brasileiros, que resulta da formalização das informalidades inerentes à dinâmica social.

2.2 Argumentos Capazes de Fundamentar cada Decisão;

2.2.1 Da fundamentação da não existência de graus distintos de corrupção dentre as condutas:

Recorrendo-nos à DA MATTA (1979), pondo sob teorização a aversão brasileira a conflitos que possam abalar o sistema social e suas interligações, os quais são apaziguados pela construção e manutenção de relações que se distanciam das regras sociais, mas que, e por essa razão, proporcionam a longevidade deste mesmo sistema social. É possível a percepção de que, apesar da visível transferência do modelo de condutas via de regra desregradas, por assim dizer, das classes dominantes para as demais classes sociais, tais condutas sociais adversas às regras do sistema social formal são claramente, dado o processo de homogeneização, absorvidas (inclusive arraigadas) e praticadas pela sociedade como um todo, como se integradas ao próprio arcabouço cultural.

Neste sentido, depreendemos o entendimento de que, mais que condutas individualmente manifestadas, constituíram-se comportamentos característicos à coletividade que compõe a sociedade. O que se consubstancia numa igualdade de proporções de cada conduta burla, alterando-se apenas os seus reflexos.

OLIVEIRA (2012), nesta mesma linha, trata d’algumas ações empreendidas pelos lideres de nossa nação ou pelas classes dominantes ao longo da sua história social, as quais denomina de “jeitão”, que vêm a ser ocasiões em que se utilizou