O NOVO TRATO DA QUESTÃO SOCIAL
Casos: O NOVO TRATO DA QUESTÃO SOCIAL. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jana1.5 • 4/11/2013 • 2.687 Palavras (11 Páginas) • 767 Visualizações
O novo trato à "questão social" no contexto da reestruturação do
capital 1
Como já apontamos, é fundamental inserir o debate do chamado "terceiro
setor" no interior (e como resultado) do processo de reestruturação do capital,
particularmente no conjunto de reformas do Estado, como uma opção teóricometodológica
capaz de dar conta do fenômeno na sua totalidade. Assim,
mudanças na cultura (cf. Mota, 1995)) alterações na racionalidade e valores
sociais (ditos "pós-modernos", cf. Harvey, 1993), significativas alterações no perfil
do cidadão (cada vez mais ligado ao consumo no lugar do trabalho),
transformações na legislação trabalhista ("flexibilização" e eliminação de leis que
visam garantir direitos conquistados do trabalhador) e na base democrática (cada
vez menor participação da sociedade nos processos decisórios
nacionais)constituição de um "novo contrato social" (que visa substituir aquele
característico do período fordista/keynesiano), tudo isso emoldura um processo
para nós central: a configuração de uma nova modalidade de trato à "questão
social"2 Como observamos, este é o verdadeiro fenômeno escondido por trás do
que é chamado do "terceiro setor". A funcionalidade desse conceito com aquele
fenômeno será assunto, mais adiante, de nossa consideração.
Por um lado, a crise e a suposta escassez de recursos 3 servem de
pretexto, como trataremos a seguir, para justificar a retirada do Estado da sua
1 MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e Questão social, O novo trato á “questão social” no contexto da
reestruturação do capital. – São Paulo: Cortez, 2002.
2 Mota aponta para o fato de que "a cultura da crise dos anos 80 e 90 incorpora um novo modo de trato da
questão social brasileira [...] que aponta para uma etérea cultura da solidariedade social, seja ela dominada de
redes de proteção social, de políticas de combate à pobreza, de comunidades solidárias ou de expansão dos
programas de assistência social" (1995:220).
3 Se há escassez de recursos estatais, ela está mais atrelada às privatizações de empresas superavitárias, à
história clientelista do Estado, à corrupção, ao constante financiamento direto ou indireto ao capital, à perda
de arrecadação de grandes empresas sonegadoras e produto também da informalização do trabalho, das
falências de empresas nacionais (produto da importação indiscriminada) e do aumento do desemprego, e não
pelo destino dos parcos recursos que eram dirigidos à atividade social no Estado.
2
responsabilidade social e a expansão dos serviços comerciais ou desenvolvidos
num suposto "terceiro setor". Por outro lado, a recorrente afirmação de que
existiria hoje uma "nova questão social" tem, no fundo, o claro, porém implícito,
objetivo de justificar um novo trato à "questão social"; assim, se há uma nova
"questão social", seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de
intervenção nela, supostamente mais adequada às questões atuais. Na verdade, a
"questão social” 4 – que expressa a contradição capital-trabalho, as lutas de
classes, a desigual participa na distribuição de riqueza social - continua inalterada;
o que se verifica é o surgimento e alteração, na contemporaneidade, das refrações
e expressões daquela. O que há são novas manifestações da velha “questão
social”.
Assim, no contexto do Welfare State, ao se pôr a "questão social" como
alvo das políticas sociais, tendo ela uma resposta política e não apenas
repressiva, aquela é internalizada na ordem econômico-política (cf. Netto, 1992:
26); entretanto, no contexto atual, a resposta social à supostamente "nova questão
social" tende a ser novamente externalizada dessa ordem, transferida para o
âmbito imediato e individual.
As políticas sociais universais, não-contratualista e constitutivas de direito
de cidadania são acusadas pelos neoliberais de propiciarem o esvaziamento de
fundos públicos, "mal-gastos" em atividades burocratizadas, sem retorno e que
estendem a cobertura a toda a população indiscriminadamente. No Brasil, a jovem
Constituição de 1988 e sua concepção de Seguridade Social - constituída pela
Previdência, Saúde e Assistência - pareceriam ser, neste caso, as vilãs. Conforme
o ex-titular do Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado
(Mare), Bresser Pereira, o "populismo patrimonialista" e a "alta burocracia estatal"
teriam confluído para levar, juntamente com a Constituição de 1988, "a um
4 Entendida esta como expressão do "processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu
ingresso no cenário
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