O PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE
Por: Helder Miranda • 4/7/2022 • Resenha • 1.342 Palavras (6 Páginas) • 204 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE
Disciplina: Educação Escolar e Sociedade
Aluno: Helder Vieira Miranda
Professora: Ana Paula Ferreira da Silva
FERNANDEZ ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989, cap 04 – Do lar a fábrica passando pela sala de aula: a gênese da escola de massas, pp. 105 – 131.
O autor afirma no início do texto que sempre existiu algum processo preparatório para a integração nas relações sociais de produção e, geralmente, em outra instituição que não a própria produção. Seu objetivo é analisar a gênese deste processo e a adequação da escola a este propósito.
Ao longo do texto, Enguita analisa diversas situações e discursos que convergiram para este propósito e verifica em diversas sociedades e culturas as maneiras pela quais a população foi inserida nas relações de produção. O primeiro exemplo descrito pelo autor são os camponeses, cuja sede de aprendizagem social e trabalho estavam assentados na família. A escola não poderia oferecer outra coisa além do doutrinamento religioso e político. O conhecimento e a destreza necessária eram adquiridos no próprio local de trabalho e a escola não os oferecia.
Utilizando como referência Philippe Ariès, analisa outro exemplo na cultura inglesa da idade média ressaltando que o intercâmbio entre as famílias pela educação ou aprendizagem eram práticas comuns. Jovens eram enviados para famílias desconhecidas entre os sete e nove anos na condição de aprendizes nas mais adversas situações. Na concepção de Ariès esta prática ocorria independente da fortuna da família e obviamente com objetivos diferentes em cada estamento. O aprendiz estava obrigado a servir fielmente não apenas nos afazeres profissionais, mas também na vida doméstica diária.
Em contrapartida, o mestre estava obrigado a ensinar-lhe as técnicas do ofício, alimentá-lo e fornecer uma educação moral e religiosa convertendo-o em um cidadão. Estas práticas de intercâmbio estavam presentes de maneira especial entre os artesãos, que também incluíam seus filhos neste sistema. Segundo Enguita, estas práticas estabeleciam uma rede de reciprocidade não segura estabilizando a relação mestre-aprendiz. No entanto o objetivo primordial era a inserção destes jovens nas relações de produção. O autor justifica que a necessidade de enviar os jovens à outras famílias era praticada com certa naturalidade porque a lógica era que o filho seguisse a mesma profissão do pai e naturalmente herdassem o estamento social, além da própria família não ser o ambiente mais adequado para aprender os laços de dependência ou a autodisciplina. Era necessária uma relação mais distante entre o mestre e o aprendiz.
No caso dos mendigos, órfãos e os ditos “vagabundos” foram desenvolvidas as casas de internação como os orfanatos e hospitais, por exemplo, os quais desempenharam papel importante na inserção das relações de produção. Segundo Enguita, essas pessoas, principalmente as crianças, serviram como força de trabalho barata e necessitada de disciplina, de acordo com discursos da época resgatados pelo autor.
Os pensadores da burguesia em ascensão recitaram durante um longo tempo a ladainha da educação para o povo com fins políticos, de reduzir o poder da igreja e gerar aceitação à nova ordem. Citando diversos autores como os iluministas Voltaire e Rousseau, o autor afirma que, no entanto, esta educação deveria apenas instruir o mínimo necessário para gerar a aceitação e promover o bom desempenho das funções desejadas. A palavra de ordem era educa-los, mas não demasiadamente. Esta prática se revela não apenas no Antigo Regime, mas também nos Estados Nacionais.
Neste ponto o autor enfatiza que houve uma passagem de ênfase do ensino da religiosidade para a materialidade, para a organização da experiência escolar de forma que gerasse nos jovens os hábitos necessários para a indústria proporcionada pelo advento da Revolução industrial. Não que as escolas tivessem sido criadas com este propósito, mas era possível tirar bom proveito delas. Deste modo o conhecimento era secundário e o mais importante era a disciplina, a docilidade e a adequação do corpo à fábrica.
Como exemplo desta passagem para a educação fabril Enguita analisa os Estados Unidos como um estudo de caso da assimilação da população às novas relações industriais por meio da escola. Utilizando Foucault, Thompson e depoimentos como o do comissário de educação de Massachusets, por exemplo, problematiza a reorganização ou o reordenamento das escolas, convertidas em verdadeiros quartéis, e submetendo todos a um controle dos horários de entrada, saída, das atividades, além de rotinizar o cotidiano escolar.
Para Enguita os grandes agravantes da educação fabril foram as ideias de Taylor e Ford. Além de tirarem do trabalhador o controle e a autoeducação, ajudaram a promover uma ideia errônea de que os operários eram pessoas ignorantes e iletradas. Nos Estados Unidos foram realizadas diversas reformas com base nas ideias do fordismo e do taylorismo com o intuito de adequar a escola à lógica da fábrica. Neste caso, a educação serviu com ferramenta para a americanização dos imigrantes, apagando seu passado, suas tradições e línguas. Além de inseri-los no mundo do trabalho impondo-lhe rigorosa disciplina, também servia como uma ferramenta de distinção social entre os nativos e os imigrantes.
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