Os Limites da Noção de Sociedade na Antropologia Britânica Clássica
Por: Cainã Perotti • 6/11/2018 • Ensaio • 561 Palavras (3 Páginas) • 218 Visualizações
1) Com base nas contribuições de Edmund Leach e Marilyn Strathern, discorra sobre as implicações metodológicas e os limites analíticos da noção de sociedade preponderante na antropologia britânica clássica.
R: Muito das limitações e das dificuldades em que os pensadores clássicos da escola britânica de antropologia se depararam durante suas investidas teóricas reside na forte influência durkheimiana que foi pilar deste ramo da ciência antropológica. Suas abstrações, como modelos conceituais para a compreensão da sociedade estiveram investidas da noção de uma sociedade em equilíbrio – classificando como patológico ou disnômico tudo aquilo que tende-se para o “desequilíbrio” – ignorando uma realidade social aonde as estruturas jamais estão em equilíbrio real, afinal, estas se deslocam pelo tempo e até mesmo pelo espaço, um processo que acarreta em continuidades e mudanças estruturais. A antropologia clássica britânica focou-se no uso de modelos que dotavam o sistema social de uma coerência entre suas partes, coerência responsável pelo tal equilíbrio, enquanto a realidade social está infestada (e assim sempre será) de incongruências (dentro do conjunto de valores) construídas individual e coletivamente de forma que possam alcançar um “progresso social” transformando tais valores que coordenam suas vidas – desta forma, tais incongruências lideram a mudança estrutural e social. É aqui que nos deparamos com o primeiro problema metodológico da influência durkheimiana: o da descrição antropológica dos processos de dinamismo social. Tal dificuldade teórica se torna clara até mesmo semanticamente, quando observamos os efeitos práticos de uma etnografia escrita do, agora abominado, “presente etnográfico”, uma forma de escrita que utilizando-se do presente do indicativo, dissocia a sociedade apresentada do tempo em que foi analisada, transmitindo uma falsa noção ao leitor de que esta sempre foi assim, e por isso, temos com predominância nas etnografias clássicas uma descrição de sociedades que aparentam sempre ser possuidoras de um equilíbrio estável (consequência óbvia do modelo conceitual utilizado para interpretar estas sociedades), o que firmou na disciplina uma confusão entre os conceitos de equilíbrio e de estabilidade. Ao buscar este equilíbrio estável, os antropólogos clássicos forçaram em suas descrições a elaboração de “fatos gerais” sobre as sociedades observadas que se encaixassem no modelo ideal de estrutura social (fixo e estável) ignorando todos os processos históricos que estas sociedades atravessam durante o tempo e assim criando uma “ficção etnográfica” capaz de se sustentar dentro dos modelos, mas não tão capaz de descrever a realidade como ela é.
Ainda no campo das influências durkheimianas que acarretaram problemas metodológicos para a disciplina, nos deparamos com a ideia da sociedade como “coisa”, e sendo coisa, esta será confrontada com “outras coisas”. Assim, tivemos processos de oposição entre sociedade e economia, sociedade e ecologia, entre outros, que ignoraram o preceito básico de que sendo sociedade não apenas uma entidade mas sim uma construção coletiva de relações, a mesma não podia se opor a estas outras “coisas” (economia, ecologia) pois ela mesma as dava – afinal de contas, a economia e a ecologia são puramente relacionais como a sociedade, e são
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