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Por um Fio

Por:   •  13/4/2015  •  Dissertação  •  1.555 Palavras (7 Páginas)  •  140 Visualizações

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Primeiros Passos

O primeiro encontro profissional que Dráuzio Varela teve com a morte foi num plantão noturno, no pronto socorro do Hospital de Clínicas, em São Paulo. Um homem entrou ofegante, com dor no peito e suando. Enquanto conectava os aparelhos em seu corpo ele explicava que estava na festinha de aniversário da filha quando a dor começou e muita falta de ar. Mas o médico não teve muito tempo para ajuda-lo, quando percebeu saltou as veias do pescoço e provocou um gemido visceral. Dráuzio ficou bastante assustado com que viu que nem mandou chamar ajuda, mas imediatamente apareceu o médico Euclides Marques, um dos pioneiros em transplante cardíaco. Este pediu que lhe alcançassem o bisturi, logo abriu um rasgo profundo no tórax do paciente e começou a massagear o coração. Dráuzio ficou bastante surpreso com a atitude, e ficou imaginando quando tempo ele levaria para fazer isto.

Logo depois o coração do paciente volta a bater, e Dráuzio sente uma emoção tão grande e o amor pela medicina aumenta. Mas passado dez minutos o coração para definitivamente e dr. Euclides sai da sala sem dizer nada.

Passado dois meses, dr. Dráuzio foi estagiar no pronto-socorro de Pediatria do Hospital das Clínicas. Chegavam muitas crianças com diarréia e desidratação, outras com infecções respiratórias, coqueluche, complicações de sarampo e até paralisia infantil. Dráuzio pode obter bastante experiências naquele lugar, e presenciou alguns óbitos de crianças, que na década de 60 era bastante comum. Normalmente morriam 2 a 3 crianças por plantão, isso fazia com que deixasse os plantões arrasado.

A outra fisionomia

Apesar da experiência dolorosa que passou na Pediatria, no Hospital do Câncer de São Paulo, onde trabalhou por vinte anos, sentiu a diferente entre enfrentar a perda ocasional de um doente e conviver cotidianamente com a onipresença da morte.

Nos pacientes com câncer, a morte adquiria outra fisionomia. Quando era lido o prontuário médico, já se sabia que o paciente que iria entrar não tinha a menor possibilidade de cura. Naquela época Dráuzio tratou de um rapaz chamado Vicente, tinha 25 anos e 2 metros de altura. Este chegou com a irmã mais nova e a mãe. Por os pais serem primos, os dois filhos nasceram com diversas pintas do corpo, associado de um defeito genético que tornava tumores malignos nos áreas expostas ao sol. O caso o rapaz era bastante grave, pois, uma delas havia dado origem a três metástases no pulmão esquerdo. Naquele tempo o tratamento era feito com a vacina BCG, e após seis meses depois um dos nódulos havia desaparecido e os outros dois tinham diminuídos. Dráuzio sugeriu que fizesse uma cirurgia para retirada, e Vicente aceitou com bastante entusiasmo. Mas nenhum medico concordou com a idéia de operar o rapaz, somente o dr. Amorim que depois de ter uma conversa séria com Dráuzio concordou em operar o Vicente. As lesões foram retiradas em menos de duas horas e o rapaz sobreviveu durante cinco anos mais.

O filho da costureira

Nem sempre a morte tem significado de desgraça para os que enfrentam doenças com dores incontroláveis e que perdem o domínio das faculdades mentais. Drauzio relava que na sua infância no Brás , quando morria alguém da família, costumavam estender na janela um pedaço de veludo preto com franjas douradas e o velório era na própria casa, com o caixão sobre a mesa. As crianças não podiam entrar durante o velório, somente na saída para o enterro quando chegava o carro funerário. Nesta hora ouviam mitos choros e para Dráuzio, um garoto, era como imagens teatrais que permaneceram na sua memória até os primeiros meses de exercício da cancerologia, quando já tinha trinta e dois anos e conheceu um paciente chamado seu Vitorino.

Este paciente morou com a mãe, uma costureira bastante habilidosa, numa travessa do largo São José do Belém, em São Paulo. Quando o dr. Dráuzio o conheceu ele era casado e tinha duas filhas, mas estava com o abdômen distendido, cheio de liquido, por causa de um tumor avançado no fígado. Recebeu tratamento durante um mês, logo passou a ser visitado no leito do hospital, onde sua esposa e filhas se revezavam para ficar com ele. Dráuzio presenciou a morte do paciente junto com os familiares e percebeu que isto havia trazido paz para ele.

Segunda sem lei

Durante treze anos em que trabalhou na Casa de Detenção de São Paulo, passou por varias vezes a experiência de contato com a morte violenta. Os presos pagavam suas dividas muitas vezes com a própria vida, e isto já era rotina acontecer na segunda-feira, que ficou conhecido como “segunda da lei” no linguajar da malandragem. Por haver poucos médicos naquele lugar, Dráuzio era chamado para atestar o óbito antes de encaminhar o corpo para a autópsia no IML.

O chão de um pequeno banheiro funcionava como necrotério, que ficava no pavilhão 4, e neste lugar trouxeram um rapaz ensangüentado que tinha os dentes em péssimo estado e vários furos de faca no peito e nas costas, Dráuzio preencheu a ficha em estado de choque, e a imagem daquele homem permaneceu por muito tempo na sua memória. Mas infelizmente essa experiência foi a primeira de muitas outras verificações de óbito

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