Processos de transformação do Estado
Artigo: Processos de transformação do Estado. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: DanilloLins • 20/11/2014 • Artigo • 793 Palavras (4 Páginas) • 123 Visualizações
A “ignorância” e o “atraso” eram duas
faces da mesma moeda. Palavras, muitas palavras — e
por certo alguma verdade — mas nenhuma ação.
Depois da crise do regime oligárquico em 1930, seus
herdeiros, políticos de classe média muitas vezes.
seguiram com a mesma temática e com a mesma
inação. Depois de 1945, os grupos de direita voltaram
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ao assunto, mas agora para justificar a tradicional
exclusão dos analfabetos do processo eleitoral e para
atacar os populistas afoitos que algumas vezes
pressionavam para atenuar o rigor das seções de
registro eleitoral e ampliar a massa de votantes.
Que resultou de todo este debate de décadas
sobre o analfabetismo? Pouco mais do que uma
explicação conservadora para a marginalização social
e política da grande maioria da população. Os
“ignorantes” não têm condições para participar livre e
criticamente da democracia, não podem votar nem ser
votados para os cargos públicos. Deu-se então a
inversão dos argumentos. Há, sem dúvida, uma alta
correlação — particularmente no campo — entre
estagnação econômica e social e analfabetismo, mas os
homens das elites, responsáveis diretos pela
estagnação e pela falta de escolas, traduzem esta
correlação numa linguagem equívoca e falsa. Criam
uma imagem preconceituosa sobre os trabalhadores do
campo e sobre todos os demais setores marginalizados
do processo político. Passam a associar com muita
facilidade a “ignorância”, isto é, a ausência de cultura
formal no estilo das classes médias e dos oligarcas, à
“indolência” e à “inércia”. Adotam uma atitude
paternalista — mais verbal que efetiva — em relação
às massas marginalizadas e completa-se a mistificação.
Os grupos das elites, agarrados aos privilégios, não se
contentam com a idéia, que eles próprios nunca
tomaram a sério, de que a educação é “a alavanca do
progresso”. Em realidade se comportam como se por
esta mesma razão os frutos do progresso devessem
ficar para os “cultos”. Eis a lógica do filisteismo
liberal-oligárquico. Democracia sim, mas para os
privilegiados, pois os dominados não têm condições
para participar democraticamente.
O Brasil de 1960 é, sem dúvida, muito diferente
do Brasil de 1920, mas muito desta ideologia
tradicional permanece. Hoje não é por certo legítimo
falar da oligarquia nos mesmos termos daquela época
em que começaram as agitações e insurreições que
abriram caminho à revolução de 30. Estes movimentos
de classe média, associados com os setores
descontentes da própria oligarquia, assinalaram a
abertura de um longo processo de transformações que
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abalou, em conjunto, as estruturas do Estado e da
economia. De um ponto de vista histórico-estrutural,
poderia dizer-se que aí começou a crise da decadência
— que é também uma crise de reestruturação — de
uma sociedade capitalista dependente dedicada à
produção agrícola para a exportação, que não pôde
suportar o crack de 29 e à redefinição das condições
do mercado internacional que se processou durante a
prolongada depressão dos anos 30. Este processo de
transformação estrutural, que se estende até aos nossos
dias, já é conhecido em suas linhas gerais: intensificase
a urbanização e a industrialização, avolumam-se as
migrações para as grandes cidades, faz-se cada vez
mais manifesta a decadência da economia agrária,
aparecem na política as classes populares urbanas,
redefinem-se as alianças de classes ao nível do Estado
conduzindo à crise das elites.
São transformações relevantes, por certo, mas
convém não superestimar
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