Representação Social
Artigos Científicos: Representação Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: saurius2005 • 25/9/2013 • 6.131 Palavras (25 Páginas) • 234 Visualizações
Ponto de Vista 7 1 v. 1 • n. 1 • julho/dezembro de 1999
“Tenha dúvidas de suas certezas”
(São Tomás de Aquino)
Para ter a dimensão do entendimento social sobre
o indivíduo deficiente, precisamos nos reportar, de certa
forma, ao passado e localizar nas diferentes épocas o
retrato que se fixou, culturalmente, sobre a idéia das
diferenças individuais, e que se converteu, assim, no atual
modelo de atendimento a este sujeito nas várias instituições,
principalmente no sistema de ensino regular.
MAZZOTTA2 interpreta em sua análise histórica
que “(...) até o século XVIII, as noções a respeito de
deficiência eram basicamente ligadas ao misticismo
e ocultismo, não havendo base científica para o desenvolvimento
de noções realísticas”. Segue o
autor esclarecendo que foi na Europa que se deram os
movimentos pioneiros para o atendimento ao indivíduo
deficiente, isto também na forma de uma prática educacional.
Este item, no entanto (das propostas educacionais
para deficientes), será detalhado mais adiante.
SILVA3 pontua que nas culturas primitivas, embora
existisse todo um crédito às forças sobrenaturais
(animismo) e à feitiçaria, não houve, para certas tribos,
o relacionamento de defeitos físicos com algum tipo de
magia. Este autor cita os membros da tribo Xangga (da
Tanzânia/África), que “não prejudicavam ou matavam
as crianças ou adultos com deficiência. Acreditavam
que os maus espíritos habitavam essas pessoas
e nelas arquitetavam e se deliciavam, para tornar
possível a todos os demais membros a normalidade”.
O mesmo não acontecia em comunidades como a
dos esquimós, que lançavam todos os deficientes e todos
os idosos nas áreas fronteiriças do Canadá, onde
havia um alto fluxo de ursos brancos (pelos esquimós
tratados como sagrados); deste modo eliminariam o
“problema” da fome destes animais e da tribo em si,
pela não-presença do indivíduo indesejado em seu meio.
O acesso ao direito, nas sociedades primitivas, ao
se pensar a diferença/o diferente, é reduzido, já que a
questão do DIREITO é atrelada a usos e costumes4 .
Podemos relatar, de acordo com a história dos povos
antigos, como a dos hebreus, por exemplo, que a
presença da deficiência, tanto em pessoas como em
animais, era considerada uma abominação, muito pela
associação reducionista da questão da “imagem e semelhança
a Deus”, marginalizando e segregando os que
assim não se identificassem.
Já os gregos e romanos atinham-se aos mitos para
segregar os opositores políticos e manipular o povo segundo
os obscuros e caprichosos desígnios dos deuses.
Com base nesses mitos, pode-se descrever o perfil do
cidadão perfeito, “saudável”, que dominaria os demais
por seus dotes físicos e mentais, sagacidade, que não
toleraria a fraqueza e a repugnância daquele que se apresentasse
“feio”. Podemos perceber mais pontualmente
este dado pela descrição de heróis como Hércules, Zeus
e Afrodite, que se dava tanto no aspecto físico quanto
na beleza e na astúcia como desenvolviam suas vontades;
há, também, a título de ilustração, o mito das moiras
que tecem o destino dos cidadãos e de seus heróis, sen-
UmaContribuiçãoHistórico-
Filosóficaparaaanálisedo
conceitodedeficiência1
1 Mestre em Educação pela PUCCAMP/SP; Doutoranda em “Filosofia e História da Educação” pela UNICAMP/SP; Supervisora
Escolar da Rede Municipal de Ensino em Florianópolis/SC.
2 MAZZOTTA, Marcos. J. S. Educação Especial no Brasil: histórias e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1995, p.16.
3 Otto Marques SILVA. “A Epopéia Ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje”. São Paulo: Cedas,
1987. apud CARMO, Apolônio Abadio do. Deficiência Física: a realidade brasileira cria, recupera e discrimina. Brasília: MEC/
Secretaria dos Desportos, 1991.
4 VIEIRA, Liszt. A invenção da cidadania. Cidadania e Globalização. São Paulo: Record. Part.I, pp14-41.
AdreanaDulcinaPlatt1
v. 1 • n. 1 • julho/dezembro de 1999 7 2 Ponto de Vista
do impossível esquivar-se do que lhes é reservado. Em
síntese: cada um tem sua sina; viverá e morrerá sob
os aspectos já definidos pela malha das moiras (destino)
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