Resenha Documentario Carne e Osso
Por: gabicallegari • 2/6/2017 • Resenha • 1.776 Palavras (8 Páginas) • 1.805 Visualizações
RESENHA CRÍTICA – DOCUMENTÁRIO “CARNE E OSSO”
Gabriela Camargo Callegari
Pedro Baumel
Turma S11
- Poder, liderança e exploração do trabalho
RESENHA DOCUMENTÁRIO “CARNE E OSSO”
O documentário Carne e Osso, produzido pela ONG Repórter Brasil em 2011, exibido pela Globo News relata a situação dos trabalhadores nas indústrias de processamento animal no Brasil. O filme retrata histórias de diversas pessoas que convivem diariamente com a dor, risco e descaso de seus empregadores através de testemunho de ex-funcionariários que tiveram sua saúde degradada pela exploração de sua mão-de-obra e também relatos de servidores públicos e auditores fiscais que apresentam dados sobre tais abusos.
Esta obra é de fácil entendimento e não é uma produção complexa. Após vê-la certamente muito estará esclarecido sobre a atividade de pessoas humildes em frigoríficos espalhado pelo país. O objetivo dos autores e diretores é deixado bem evidente desde o início do vídeo, que em nenhum momento menciona o preço que a carne é revendida, mas sim revelar o real valor deste processo pelo qual a carne passa até chegar ao consumidor, evidenciando as atividades contínuas e repetitivas feitas pelos funcionários, chegando até a desossar sete coxas de frango em um minuto.
Como é relatado no documentário Carne e Osso, os trabalhadores de desossa de frango chegam a realizar dezoito movimentos em 15 segundos para finalizar o trabalho em uma peça de perna de frango, isto significa aproximadamente oitenta movimentos em um minuto. Estudos médicos mostram que o limite de segurança para movimentos em minuto não deve ultrapassar 35, ou seja, esses operários estão sendo forçados a produzir mais de três vezes mais movimentos do que o considerado seguro. O serviço é realizado em uma linha de produção onde o trabalhador é imposto a adequar o seu corpo ao ritmo das esteiras mecânicas, partindo deste ponto é fácil lembrar de Chaplin em Tempos Modernos, de 1936. Nesta obra o trabalho em linhas de produção é que dita o ritmo, não respeitando as limitações do funcionário em realizar tal tarefa. A visão daquela época, do sistema de produção fordista ainda é empregada no Brasil e deixa completamente de lado o conforto do profissional.
Os depoimentos dados pelos operários mostram as rígidas exigências das empresas, quanto a metas a serem batidas, maneiras corretas de cortar a carne, grande carga horária de trabalho. Caso o funcionário não atingisse a meta precisava ficar até mais tarde e não recebia hora extra pelo seu serviço. A cobrança é tanta que os supervisores de sessão reprimiam conversa entre colegas, até as idas ao banheiro para realizar suas necessidades fisiológicas eram controladas e caso demorassem eram descontados do salário.
O trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados são uns dos ambientes mais perigosos e insalubre para o profissional. Manusear facas, serras e demais materiais cortantes juntamente com os movimentos repetitivos e exaustivos, o ambiente frio das câmaras sem roupas adequadas e longas jornadas de trabalho são as situações pelas quais essas pessoas passam. Tais circunstâncias fazem com que as chances de acidentes de trabalho tripliquem em relação a outros setores, quando os funcionários vão os médicos das empresas as doenças e sintomas são negligenciados e chegam ao ponto de irreversibilidade, impossibilitando o empregado de continuar a exercer sua função. Neste momento em que a empresa percebe a inutilidade do trabalhador e seus problemas de saúde, encontram uma maneira de demiti-los sem prestar qualquer assistência. Este ponto é crítico para quem perde seu emprego, pois as demais empresas não querem seu serviço por já ter algum problema de saúde e essas pessoas por terem com pouca instrução acabem tendo como única opção o trabalho informal.
Essa é a maneira pela qual as empresas encontraram de exercer seu poder sobre os trabalhadores. A visão dos criadores do documentário fica bem clara quando mostram que mesmo sendo o setor que mais emprega no país, cerca de 750 mil pessoas, os frigoríficos são responsáveis pela maior parte das ações trabalhistas em suas regiões. Relatos dos trabalhadores mostram que eram obrigados a trabalhar em câmaras frigoríficas que deveriam manter temperaturas em torno de 12ºC, porém chegavam a 8ºC e sem receber Equipamentos de Proteção Individual (EPI) adequado, trabalhando apenas com os casacos que traziam de casa. O artigo 253 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) veio para ajudar nesta e outras questões. Ele impõe a realização de pausas a cada 1 hora e 40 minutos de trabalho contínuo de 20 minutos de repouso para a recuperação térmica, para aqueles que atuam nas câmaras ou transitam do ambiente quente para o frio e o mesmo para o contrário. Isso, entretanto, é raramente cumprido devido ao foco em produtividade dessas empresas.
Trabalhar em condições tão adversas e sem os Equipamentos de Proteção Individual adequados degrada a saúde física e mental dos funcionários, gerando doenças como tendinite, dores musculares, depressão, atrofia de nervos e vários outros problemas. Uma das causas destes problemas físicos é a falta de ergonomia nas empresas, que deveriam otimizar as condições de trabalho visando a segurança e eficiência, o que certamente acarretaria em maior rendimento do operário e mais vida útil de seu serviço a empresa. Mas o que realmente acontece é a falta de equipamentos e espaço adequado para que o trabalhador possa exercer sua tarefa com comodidade, senta em posição correta tendo esses adoecimentos.
A exploração do trabalho e poder sobre os trabalhadores é vista no documentário no momento em que é mostrado a decisão de que é para se desossar uma peça de frango em 15 segundos. Os supervisores ficam em cima e pressionando para que o trabalho seja realizado o mais depressa possível para baterem a meta diária, porém não é levado em conta que durante o dia o funcionário precisa ir ao banheiro, almoçar adequadamente, tem pausas para se recompor. Não é possível alguém trabalhar num ritmo tão frenético durante toda uma jornada. Os depoimentos relatam que não são permitidas interações entre os colegas, existe limite de idas ao banheiro, existem punições para quem não cumprir com as metas. Desta maneira os empregados ficam acuados em demostrar algum tipo de dor ou problema de saúde para os supervisores por medo de serem demitidos. Por diversas vezes foram ouvidos empregados
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